vestígios de forças todas as manhãs

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Meu alfa dormiu até próximo das cinco da manhã, horário que ele sempre acorda. Ajudei ele a levantar dali, fiz ele tomar mais um banho, escovar os dentes e principalmente tomar o remédio que era para ajudar ele a largar o vício. 

— Eu não vou conseguir fazer isso hoje, por favor Jimin, fica em casa — encosto a cabeça nas costas dele enquanto o segurava abraçado pela cintura, ele estava fazendo xixi. 

Ele não falava nada, era sempre esse silêncio agoniante durante as manhãs, não sei o que se passa na cabeça dele, se é arrependimento ou estresse, ele nunca diz.

— Vou te colocar na cama e você vai ficar quieto, tudo bem? — ainda o ajudei a se limpar devidamente e aos poucos fui o conduzindo para nosso quarto — Isso, deita devagarinho.

Abaixo para colocar os pés dele na cama e o cobrir com nosso cobertor, ele apenas se encolheu entre os lençóis quentinhos.

— Isso meu amor — beijei a testa dele — Eu te amo muito.

Deixo mais um beijo na testa dele e fui saindo do quarto nas pontas dos pés para não o deixar assustado. Fechei a porta com mais cuidado ainda para ele não ouvir o trinco, infelizmente a melhor forma de garantir que ele não vai sair de lá é o trancando.

Desci as escadas sentindo as dores em meu corpo, não sei quando tive uma noite descende de sono pois a qualquer momento ele pode simplesmente surtar por abstinência, vivo em constante medo de alguma hora ele ficar agressivo e me bater pois eu não sei se irei ter forças de continuar. E eu tenho medo de chegar a isso.

Eu quero o ajudar, quero ajudar ele a vencer as drogas, recuperar nosso lar e principalmente salvar nosso casamento, eu sei que ele também me ama.

— Hmm acho que vou fazer alguma coisa reforçada — abri a geladeira pegando os ingredientes para um café da manhã que o faça recuperar as forças. 

Não demorou cerca de dez minutos para ouvir ele gritar meu nome enquanto batia na porta, larguei tudo e corri para o andar de cima.

— Estou aqui, calma — abri a porta e ele veio me abraçar enquanto chorava muito — Eu estou aqui amor, estou aqui com você.

Alisei as costas dele para passar algum conforto para que ele se acalmasse.

— Eles, eles estão aqui, me ajuda — Era mais uma alucinação.

— Ei, calma, não tem ninguém aqui, apenas eu o seu ômega — seguro o rosto dele o forçando a me olhar — Está me vendo? 

Os olhos dele estavam com as pupilas dilatadas, enormes. Não soltei o rosto dele que percebi que realmente ele estava me vendo.

— Kook… — ele voltou a me abraçar — Me ajuda, eles estão aqui.

— Shhh… — voltei a alisar as costas dele — Não vou deixar ninguém te machucar… 

Era mais uma coisa que eu tinha que ter jogo de cintura para conseguir suportar, as alucinações faziam ele ficar totalmente indefeso, uma criança assustada. Normalmente elas não duram muito, em alguns minutos passava e ele voltava ao silêncio até recuperar um pouco de sua sanidade, quando isso acontecia ele apenas chorava implorando para que eu o ajudasse a sair desse mundo.

Quando isso acontece, sou eu quem fica no silêncio, é informação demais apenas para uma pessoa, é responsabilidade demais apenas para um mero ser humano.

— Calma Jiminie… calma eu estou aqui com você, tudo bem? Vamos comer um pãozinho do jeito que você gosta.

Segurei o braço dele o incentivando a caminhar ao meu lado, até parecia uma criança aprendendo a andar pois ele às vezes esquecia como mudava o passo. 

— Muito bem, estamos quase lá — começamos a descer as escadas — Se você se comportar hoje iremos fazer qualquer coisa que você quiser, tá? 

Ele não respondia, ainda olhava em volta como se sentisse observado, bom, deve realmente estar se sentindo assim. Ajudei ele a sentar na cadeira da mesa e coloquei um lenço na gola da camisa, fui terminar o mingau que comecei e sempre dando uma olhada para ver se ele estava bem.

Os olhos dele não saiam de mim, no início, quando esse inferno começou, eu sentia medo desse olhar indecifrável, ele sequer pisca os olhos os mantendo fixos em mim, tinha medo que ele não lembrasse de mim ou até viesse me atacar, mas não, hoje eu sei que ele está apenas recordando as suas memórias e que daqui uns minutos ele estará em sã consciência novamente.

— Como está se sentindo? — pergunto enquanto esquentava um pouco de leite — Consegue falar comigo?

Ele não falava nada, só continuava me olhando sem piscar. Terminei o café da manhã dele fazendo um sanduíche de carne, talvez eu consiga fazer ele comer algo mais sólido. 

— Vamos comer, você está com fome? — sentei ao lado dele, reparei que os olhos dele me acompanharam então não vai demorar muito para que ele voltasse em si.

Eu sempre me imaginei fazendo mingau pela manhã para alimentar um bebezinho com toda paciência do mundo quando ele desse trabalho para papar, mas o destino não foi muito bom comigo, isso se realizou, mas eu não queria que fosse dessa forma, com meu marido por esses fins.

— Ei calma bebê, calma — ele não gostava do sabor de aveia — Tem que comer para se manter forte, de não comer vai ficar fraco e eu triste, você quer me ver triste?

Ele voltou a comer, as minhas forças sempre se renovam quando ele demonstra que ainda se importa comigo, mesmo que seja assim, isso me ajudava muito a não desistir dele, de nós.

— Muito bem, falta só um pouquinho — limpo a boca dele com um lencinho — Fala comigo meu amor, eu sei que você está me entendendo.

Abaixo o olhar, às vezes a dor de falar algo rotineiro ainda machuca muito.

— Eu não queria — a voz dele não era mais doce como antes, agora sempre rouca era difícil diferenciar quando ele está ou não dopado — Não queria.

— Mas mesmo assim foi, mesmo assim você fez de novo… — ajudo ele a tomar um pouco de leite — Eu não dormi nada essa semana, Jimin, eu tô exausto… por favor não faça mais isso, você precisa querer ser ajudado.

— Eu quero — ele já estava chorando.

— Não, se você quisesse já teria aceitado ir para uma clínica de reabilitação — limpo os olhos dele — Você está se matando e me matando também.

— Perdão… eu não quero mais — ele sequer se mexia, apenas chorava enquanto me olha, as drogas retardavam os movimentos dele.

— Quer sim Jimin, enquanto você fugir para usar drogas na rua é porque você quer sim — levantei para deixar as coisas na pia — Eu sinto tanto medo… a qualquer momento você pode simplesmente morrer por isso!

Eu tinha que ser duro, não posso passar a mão na cabeça dele ou isso nunca teria fim, eu irei ajudar até minhas últimas forças, mas nunca apoiar ou amenizar pra ele.

— Eu não quero mais.

— Então vamos mudar! Eu imploro por tudo que você mais ama — sentei ao lado dele novamente — Eu estarei ao seu lado enquanto você lutar para se libertar, mas ultimamente está pior.

— Me ajuda — abracei ele.

— Eu vou te ajudar, estou com você…

Para uma clínica eu sei que ele só vai se for arrastado, deixarei para a última saída, mas enquanto eu puder, eu irei lutar por nós.

Vestígios, a dependência || JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora