Aldeia

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- Santa, o que nós precisamos fazer para ajudar? - Questionou-a Kohaku.

O simples fato de querer ajudar uma criança é um forte estímulo para que o progresso da missão seja feito. Talvez seja considerado cruel, mas o ato de usar da inocência de uma criança contribuiu muito desde os primórdios do tempo para que os adultos conquistem o que querem, é uma coisa que Senku usa muito.

- A matéria-prima do vidro é basicamente areia de quartzo. - Respondi.

- Eu não vi nada na coleção do Chrome, na verdade.

- Eu não vou reunir areia. - Justificou o jovem cientista.

- Você tem uma suspeita, não é?

- Exatamente, minha querida. Teve uma pista que vai guiar vocês até a areia de quartzo. - Disse o maior.

Adentramos a cabana de Chrome e Senku procurou entre as pedras algum cristal, quando encontrou, mostrou-me e não demorei para compreender o que ele queria que fizéssemos. Descemos da cabana e meu amado deixou a missão de encontrar o quartzo em minhas mãos.

Levei junto Chrome que nos guiou dentre a mata e Suika que veio pela curiosidade. Mesmo com a insistência de Kohaku, seria melhor se ela ficasse para treinar os rapazes.

Então, eu e a pequena dupla subimos a colina até chegarmos em uma parede rochosa onde Chrome encontrou o mineral translúcido. Com um martelo de pedra e uma estaca, comecei a minerar o chão.

- Chrome, esse cristal costuma ser encontrado em áreas de granito degredado. - Expliquei enquanto quebrava a rocha superficial que escondia a areia. Quando a parte mais espessa se quebrou e revelou o pó fino, mostrei aos dois. - Toda essa areia é quartzo.

Não levou tempo para que o entusiasmo viesse dos dois e começássemos a encher as cestas com areia de quartzo. No sol da tarde, a equipe da luta nos ajudou a moer a areia e reduzi-la a pequenos grãos. Misturamos a areia fina de quartzo com algumas outras coisas e Senku derreteu-as na fornalha.

- O que mais precisamos? - Questionou o jovem cientista.

- Nós já temos tudo o que precisávamos. Obrigado pelo por tudo até agora. - Agradeceu meu amado. 

Por mais que o mais velho tentasse esconder, a falta de Taiju ainda era grande. O melhor amigo de Senku que esteve com ele em todos os experimentos malucos ficou evidente depois de um tempo e, mesmo que eu quisesse ajuda-lo, eu não tinha o que fazer. Senku sabia toda vez que tentava acalenta-lo e isso o deixava irritado, se tem algo que o mesmo odeia, é ser tratado como coitado.

Enquanto a noite chegava, eu saí de perto da ciência e me dediquei a vila que estava à poucos metros. Assim que passei pela ponte, fui recebida pelo abraço caloroso das crianças e as boas-vindas dos adultos. 

Eu era a única do time da ciência que conseguia adentrar o vilarejo e usar da química para fazer algo por essas pessoas. Eu tinha uma pequena cabana ali que eu usava como uma ala hospitalar, seguida pelas crianças que tagarelavam sobre as notícias recentes e o entusiasmo para a Grande Luta, cuidei de gripes e picadas de mosquitos até cortes profundos e ossos fraturados.

Aproveitei estar ali para falar com a sacerdotisa que estava "aprisionada em sua torre". E ela estava pior do que da última vez.

- Olá, Ruri.

- Santa! Faz um tempo desde que te vi. - Cumprimentou a loira.

- Sim, eu tenho estado um pouco ocupada.

- Com o forasteiro, imagino. - Brincou a mais nova.

Há alguns dias, pedi que Ruri me contasse todos os contos que são passados por gerações desde que eu lhe contasse minha história. Não demorou para que eu ligasse todos os pontos e descobrisse que quem tinha fundado essa aldeia foram antepassados nossos que estavam no espaço, mas eu não queria contar isso para Senku. Quero que ele descubra por conta própria. 

- Como tem ido o remédio? - Perguntou enquanto eu pegava um pouco da água quente de uma vasilha para ela.

- Estamos na metade, mas com o vidro, que estamos trabalhando agora, já poderemos ajudar muita gente. Como o Kinrou e a Suika.

- Por causa da Visão Embaçada?

- Sim. Mas para que tudo de certo, eu vou precisar convencer o Kaseki primeiro.

- Por que? - Perguntou bebendo o copo de água.

- Porque somos inúteis como artesãos.

- Melhor ir agora antes que ele pegue no sono. E sim, eu vou ficar bem.

- Certo. - Ri. Ruri e Kohaku se tornaram as minhas melhores amigas quando eu cheguei aqui, foram elas que me acolheram. - Eu venho amanhã te ver.

Desci a longa escadaria e ia até a cabana do velho Kaseki para tentar convence-lo a contribuir com a ciência, contudo, já sabia que teria dificuldade com isso. Me preparando para o pior, bati na porta do senhor de idade e, ouvindo sua voz grossa e arrastada, entrei.

- Santa! A que devo a honra de sua visita, minha cara? Sente-se, estou preparando um caldo, vais querer? - Perguntava.

- Olá, Kaseki. Eu não estou com fome no momento, mas agradeço a oferta.

- Nem pense nisso! Você precisa comer! Está tão pálida e magra! Isso me preocupa.

- O senhor não precisa se preocupar, estou comendo até mais que o necessário. - Disse sentando-me no chão ao redor da pequena fogueira.

- Então não tem risco de ficar doente? - Perguntou.

- Nenhum.

- Está bem. Então, em que posso te ajudar, Santa?

- Começando em não me chamar de Santa. 

- As paredes tem ouvidos, eu não posso dizer seu nome. - Disse o senhor, o que me fez suspirar em desgosto.

- Eu queria que eles me tratassem como alguém normal, não como uma santidade. - Disse emburrada.

- Eles já acham um crime você não usar vestidos, mas roupas que os homens aqui usam. Ninguém gosta de você andar com aquele forasteiro, imagina ter que chamar você pelo nome? Eles amaldiçoaram a uns aos outros.

- Eu sei.

- Já que não posso te ajudar com isso, algo me diz que você precisa de ajuda com mais alguma coisa. E estou louco para saber o que é.

- Eu tenho um trabalho que você vai amar. É algo... mágico. 

- Conte mais.

Você vai nos salvar, meu doutorOnde histórias criam vida. Descubra agora