01 . O primeiro dispersar da tristeza.

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O sol escaldante banhava os vastos campos de plantações perto da pequena e pacata Sun City, era chamada assim carinhosamente pelos moradores pois em sua região o sol brilha escaldante durante todo o ano, os dias começavam cedo e as noites chegavam tarde, sempre era quente, os moradores já estavam acostumados, mesmo assim aqueles que trabalhavam nos campos ainda reclamavam cobertos de suor pelos raios solares que os escaldavam a pele.

Os moradores se distribuíam em lotes para cuidar efetivamente de todas as áreas agrícolas onde os grãos e vegetais cresciam quase prontos para a próxima colheita, que será realizada no próximo outono apenas alguns meses mais tarde, devido a isso todos estavam fervorosos em seus trabalhos recentemente, esta colheita irá alimentá-los durante o rigoroso inverno e quem sabe até o próximo outono, as colheitas são sempre no outono naquela região.

Entre os inúmeros trabalhadores estava uma jovem que se destacava em meio a multidão devido a um unico fato: era uma mulher, sim, uma jovem mulher estava pegando no pesado para tratar dos campos tanto quanto os brutos homens que a rodeavam, ela segurava um tipo de inchada para retirar ervas daninhas prejudiciais e também cortar alguns ramos mortos.

Seus cabelos negros estavam amarrados em um coque alto com uma fita de pano velho desbotado que originalmente era marrom e agora parecia meio acinzentado, usava em seu corpo um vestido marrom simples típico das mulheres daquela região, sua saia que deveria ser longa estava amarrada mais a cima de seus joelhos para facilitar seu movimento, mesmo a jovem sendo levemente bela ainda assim estava desbotada com aquela figura mau cuidada e magra.

Em sua cabeça ela pensava "Espero terminar logo meu serviço, não quero ser punida por terminar tarde demais como semana passada". Seus pensamentos flutuavam para lá e para ca enquanto trabalhava sem parar, logo o sol desceria o horizonte e se não tivesse terminado seu lote até lá poderia dar adeus para metade das rações da semana.

O lorde da cidade estava fazendo os camponeses obrigatoriamente enviarem um representante de sua família para trabalhar nos campos nos arredores da cidade, durante a semana os camponeses trabalhavam e todo sábado em seu último dia receberiam uma certa quantidade de alimentos, exceto aqueles que não terminavam seus lotes até o por do sol, esses poderiam perder metade ou tudo dos mantimentos como punição.

A passo que o sol se abaixava e a aurora da tarde tomava os céus todos os trabalhadores se apressaram para terminar os últimos preparativos e sair dos campos, incluindo a jovem que felizmente conseguiu terminar seu lado e sair do campo a tempo da contagem.

Uma fila única se formou em frente a uma banca de madeira bem precária, um homem chamava os nomes e um por um os aldeões davam um passo a frente para registrar seu nome e levar um saco de rações que um outro homem, este de armadura, que ficava em pé ao lado do inspetor entregava.

A voz estridente chamou finalmente seu nome então a jovem se aproximou e confirmou seu nome para o registro -- Lira se apresenta para o registro.

Foi uma simples frase que todos costumavam usar como padrão para o registro, mas ao contrário do esperado o rapazote sentado no banco não anotou no papel amarelado o nome dito, ao invés disso colocou sua pena ao lado e ergueu sua face encarando a jovem a sua frente, seus olhos percorreram a figura de cima a baixo, um sorriso malicioso surgiu em seus lábios -- Oh, então é minha querida lira, ontem eu te pedi para me encontrar no pinheiro próximo ao poço, por que não estava lá? Eu te esperei por meia hora.

A expressão sempre tranquila de Lira se desfez lentamente como se houvessem lhe jogado um balde de água gelada, o frio penetrando profundamente em sua medula, congelando seu coração e seu sangue, depois um fervor correu por sua pele a arrepiando, era a raiva, uma emoção tão violenta, que logo deu lugar ao ódio, o único sentimento que tinha pelo traste a sua frente.

-- Senhor Hetter, eu não pude comparecer ontem, minha mãe pegou um resfriado, então tive que ficar para cuidar dela. Os punhos da jovem se cerraram por trás das costas, ela tinha se controlar para não esmurrar a face pomposa do miserável a sua frente.

-- Pois bem, então iremos nós encontrar amanhã mesmo em minha casa, eu sugiro que você compareça desta vez, caso contrário terei que ir a buscar em casa e aproveitar para conferir sua mãe. O sorriso largo e cortês não deixava a expressão charmosa do inspetor, Petro Hetter, sobrinho do Lorde da Cidade, então ele acenou com a cabeça e o guarda ao seu lado agarrou o saco de rações e entregou a jovem.

Nem uma palavra sequer deixou os ressecados lábios pálidos da jovem, por um momento as sorrateiras palavras venenosas percorriam sua mente como alfinetes, o ódio morno que habita em seu coração se tornou frio, rancor e medo surgiram, ela não poderia resistir, estava implícita a ameaça que receberá, com o pacote em mãos ela se virou e correu para longe de tudo.

Os aldeões que ainda estavam na fila observaram a situação em silêncio, o inspetor era sobrinho do Lorde, um membro da aristocracia regional e governante da cidade, nenhum deles poderia intervir, por esse motivo Lira recebeu olhos cegos e ouvidos surdos como resposta.

Ao longe, enquanto a jovem corria em direção a sua casa, o céu escurecia com a chegada dos mantos noturnos, a luz pura da lua brilhava e algo impuro se contorcia em meio as árvores majestosas da floresta, na escuridão pares de olhos brilhantes surgiram seguindo em direção a aldeia não muito distante.

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⏰ Última atualização: Oct 25, 2023 ⏰

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