Lembro-me quando o vício do meu marido começou a se intensificar, foi tudo muito rápido, quando eu descobri sobre o uso das drogas já era tarde demais para tomar as devidas providências. Em menos de uma semana ele já estava completamente dependente pelo efeito passageiro, a sensação "boa" durava muito pouco o fazendo aumentar a dose cada vez mais.
Eu descobri quando já estava com quase um mês, ele havia mudado completamente o seu comportamento, mais ansioso, mas estressado, e cadê sua mais distante de mim. Ele confessou que usou a primeira vez durante uma saída com seus amigos do trabalho, sempre o alertei que eles não eram boas companhias, mas sempre era taxado como o chato anti social.
Realmente nunca fui de ter muitos amigos, na vida temos muitos colegas, conhecidos, parceiros, mas amigos são pouquíssimos. Meu marido não vê dessa forma, para ele, bastou a pessoa ser simpática que já é suficiente para ser amigo.
Amizade deu nisso, não vou culpar terceiros, meu marido não era obrigado aceitar usar essas coisas, ele já é um adulto vacinado, sabia perfeitamente que não era correto e mesmo assim fez para se enturmar. Cadê esses amigos?
Era uma madrugada de sexta para sábado, eu estava em casa dormindo pois estava de resguardo, havia pouco mais de três semanas que havia dado a luz ao nosso único filho. Jimin não estava em casa, ele avisou apenas que iria se atrasar bastante pois tinha vários negócios para resolver.
Nunca fui dos maridos ciumentos, eu confiava no caráter do meu alfa ao ponto de saber que ele nunca iria se envolver com outro, mas que se isso viesse a acontecer não teria perdão ou segunda chance. A minha decepção com ele foi apenas ter ingressado nesse caminho de difícil saída.
Quase às três da manhã recebi uma ligação dele, a voz de embriaguez dele me fez questionar onde estava pois ele deveria estar no escritório e não enchendo a cara, mesmo assim, eu levantei e fui atrás dele.
O localizador indicava que ele estava em um bairro que nunca havia ido antes, era um subúrbio e ao entrar na rua a cena que vi não me agradou muito. O carro dele estava lá, ao me aproximar e descer do táxi notei que ele estava do lado de fora enquanto aparentava estar em alguma crise de pânico.
Naquela hora, eu apenas o trouxe embora, não passou pela minha cabeça ele estar drogado, achei que era apenas o álcool pois ele sempre foi fraco para bebidas, apenas quando chegamos que eu fui ajudar ele a banhar que notei o cheiro esquisito que estava nele. Foi horrível, eu me senti traído, talvez uma traição amorosa teria me machucado menos, ali, nossa caminhada em rumo ao penhasco apenas havia começado.
Jimin se afastou da nossa empresa, me entregou a chave do seu carro para não correr o risco de sair quando sentisse a falta das drogas, ele estava disposto, empenhado a se livrar daquele maldito vício enquanto ainda dava tempo ou seria menos doloroso.
Não adiantou muito me entregar o carro, quando eu cochilo um minuto é suficiente para ele simplesmente sumir, já pensei em colocar seguranças ao redor da nossa propriedade assim o impedindo de sair, mas pensando melhor ele não gostaria de ser tão exposto assim.
Após o café da manhã, era a hora que ele ficava mais próximo de estar em sã consciência, provavelmente por fazer horas depois da última usada e estar de estômago cheio, nessa hora, era quando ainda conseguimos conversar.
— Está se sentindo melhor? — deixo um copo de água na mesa , felizmente ele conseguiu pegar e beber sozinho — Eu quero tanto ver você saudável.
— Eu vou ficar, eu vou sair dessa, acredita em mim.
— Claro que eu acredito — alisei os cabelos dele — Estou com você, consegue me compreender?
Ele apenas afirmou positivamente, eu sei que ele não gosta de ser tratado como um doente, mas era isso que ele estava, doente!
— O que está sentindo agora?
— Ânsia de vômito — levantou devagar, eu apenas observei ele.
— Quer vomitar?
— Acho que sim — segurei no braço dele o dando apoio para irmos até o banheiro do andar de baixo. Apenas fiquei ali o confortando, ver meu alfa nesse estado nunca vai doer menos, dói cada vez mais.
— Você precisa me dizer quando estiver com vontade Jimin… por favor, vamos vencer isso.
— Eu tento — ajudei ele a sentar no vaso sanitário — eu não queria que você passasse por isso.
— Então tente mais, eu não vou aguentar mais.
— Não me deixe Jungkook, eu não posso te perder também — segurei as mãos dele.
— Eu não vou te deixar porque não te amo mais… eu apenas vou desistir disso tudo, eu não aguento mais amor.
— Eu vou mudar… eu vou, eu aceito ir para a clínica.
Meus olhos se encheram de lágrimas, eu não consegui conter meu sorriso doloroso, eu já poderia ter mandado ele mesmo contra sua vontade, mas a consciência não me deixaria dormir só que agora ele está autorizando.
— Sim Jimin, sim meu amor — abraço ele — vamos conseguir, eu sempre estarei ao seu lado.
Ele retribuiu o abraço sem nenhum aperto, sei que ele estava sem forças para isso. Fiquei muito emocionado, finalmente senti as esperanças voltando, seríamos capazes de passar por essa fase conturbada, seria questão de meses e ele estaria de volta para mim como o meu antigo Jimin.
Resolvi deixar ele perto de mim durante todo o dia, não vou fechar os olhos nenhum segundo, eu quero ver ele a todo segundo até acertar tudo sobre a clínica e ele ir.
— Isso devagar — ajudo ele a deitar no sofá — Coloque os pezinhos aqui.
Abaixo para levantar as pernas dele e as colocar no sofá, liguei a tv em um filme com a mesma temática da nossa real atualidade, eu sempre fazia isso quando tinha a oportunidade para o sensibilizar e principalmente o fazer enxergar todos os ângulos das consequências que ele nos trás ao se render ao vício.
Ele sempre chorava muito arrependido ao ver como a vida da família de uma pessoa dependente era sofrida, ele sempre pedia perdão em cada cena forte. Eu também chorava, odiava o torturar dessa forma, mas eram os meus únicos meios, não sou um profissional da saúde, não tenho muito conhecimento de como cuidar de uma pessoa nesse estado, afinal, tudo foi tão rápido que nunca tive tempo de fazer uma pesquisa mais aprofundada.
Quando ele enfim dormiu, apenas mudei de sofá e fui ligar para os pais dele para informar sobre a internação.
— Oi bom dia senhora Park — falei baixo — Eu não quero pedir nada, só estou ligando para avisar que o Jimin aceitou ir para uma clínica de reabilitação.
Ao contrário do que eu esperava, ela não gostou nada de saber disso, ela já deixou bem claro que não autorizava.
— Desculpa senhora Park, mas eu cuido dele sozinho, só eu sei o que passo diariamente então apenas eu posso decidir isso…
Desligo a chamada sem esperar uma resposta dela, essa situação fica cada vez pior. Olhei meu marido dormindo suavemente e sorri fraco.
— Meu anjo… — beijo a testa dele, dali eu não sairia nem a força.
Enquanto ele dormia, providenciei procurar a melhor clínica do país.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vestígios, a dependência || Jikook
FanficO amor é mais forte que uma dependência química? Onde Jeon Jungkook luta praticamente sozinho para livrar o esposo, Park Jimin, do mundo do vício. Vestígios é uma pequena história emocionante de superação, narra a dura realidade de muitos sem roman...