"Primeiro tempo majoritariamente igualitário, Sérvia marcando muito, principalmente o Neymar e não deixando o camisa 10 agir. Até então o maior trabalho brasileiro tem sido pelos cantos com Vini Jr e Raphinha"
Ana Liz digitava rápido depois que o juiz tinha apitado o fim da primeira etapa, seus dedos viajaram pelo teclado do celular e ela intercalava o olhar com o campo, atenta ao tempo que ainda tinha de intervalo. Não estava com fome e não ousaria levantar dali agora, voltaria com comida mas perderia seu lugar.
E aquilo ela não permitiria.
No estádio, a inspiração vinha muito mais fácil pra ela, já tinha mais tweets escritos ali dentro do que nos melhores jogos que assistiu em casa, ali dentro ela conseguia captar melhores partes do jogo que a transmissão não mostrava.
A hiperdose de informações fazia sua cabeça latejar de dor, mas nada que a fizesse parar, aquilo nunca.
Liz só sentia falta quando tinha algum comentário pra fazer e não tinha ninguém pra comentar, era por isso que seu perfil estava tão lotado, sempre que isso acontecia ela abria o app e escrevia, mesmo que fossem só piadas sem graça ou comentários vagamente engraçadinhos.
Quando o jogo voltou, seu foco voltou completamente para o gramado. Sua atenção era impecável, nada a impediria de fazer a melhor cobertura do mundo, prestando atenção em detalhes de cada um dos jogadores.
Seu estômago já revirava de ansiedade, ela precisava que o Brasil ganhasse, ela queria, não era patriota, mas queria ver sua Seleção avançar, e estrear ganhando era importante.
O coração já martelava forte nas costelas, ela digitava rápido mas suas emoções começavam a falar mais alto, ela já estava falando parcialmente no twitter, a neutralidade de jornalista se perdendo completamente.
Quando o lance do primeiro gol começou, ela começou a digitar mas assim que percebeu as redes balançando, seus ouvidos apitaram e tudo que importava era a comemoração dos jogadores e ela própria gritando.
E então veio o segundo gol, Richarlison de novo, mas um golaço de voleio que pra ela era o gol mais bonito que ela já tinha visto e possivelmente o mais bonito da copa inteira.
Depois daquilo, seu foco se dispersou, não havia mais a Ana Liz jornalista, havia a Ana Liz torcedora, a Ana Liz que gritava e vibrava, que cantava e pulava.
Ela gravou stories e mostrou sua euforia pra justificar a falta do resto da cobertura, que viria completa mais tarde na noite.
E quando o jogo estava perto de acabar, ela percebeu que o momento de comer era aquele, antes de acabar os 90 minutos, quando não teriam filas e porque sua pressão já estava caindo.
Ela entrou, comprou um salgado e se afastou pra comer, mas algo chamou sua atenção, havia uma movimentação e vozes altas falando em português, sua atenção imediatamente foi em direção ao local.
Como tinha ganhado um sorteio da própria FIFA, Ana Liz tinha acabado ficando proxima da entrada do vestiário e por lembrar disso, ela teve certeza de quem eram as vozes.
Seu olhar viajou pelo ambiente, procurando seguranças e quando não os encontrou, a liberação soou em seu coração e ela sentiu que precisava.
Impulsividade, substantivo feminino, qualidade de quem é impulsivo, aquele que age por impulso, sem reflexão, pratica ato impensado.
Ana Liz era boa naquilo.
Uma vez que não havia nenhum segurança ali, ela passou pela porta do acesso restrito, virou o crachá e entrou. Não importava que feria pelo menos três leis internacionais e que ela merecia a partir daquele momento ser expulsa do estádio e até do país.
A voz de Raphinha a despertou de qualquer outro pensamento que a levaria pro oposto.
O ponta direita respondia a um outro jornalista ali e aquela era sua melhor chance. Conferiu se o crachá estava virado e que ela não ia a denunciar e olhou pro jogador.
- Boa noite - ele próprio a direcionou a palavra pra estudante, já querendo entrar logo no vestiário - Pode perguntar
- Boa noite, Raphinha - Liz sorriu largo ao receber a atenção - Quais as considerações de jogar a partida praticamente completa e ter contribuído com o lance dos gols?
- Eu sinto que poderia ter feito mais - ele foi sincero - que eu poderia ter me dedicado mais, pra talvez ter abrir o placar ainda no primeiro tempo, mas não consegui, mas no mais eu tô até satisfeito, joguei muita coisa e ajudei no que pude, ainda tenho que trabalhar mais, mas podia ser pior.
- Certo - ela sorriu com a mente já a mil, pensando em como transcreveria tudo aquilo - O próximo jogo é um risco menor ou maior? Acha que depois de a Sérvia vir confiante e perder de 2, a história vai se repetir com a Suíça?
- Não quero cantar vitória, mas acho que temos um time forte. Não ter o Neymar é um prejuízo enorme, claro, mas se conseguirmos organizar certinho vai dar bom.
- Muito obrigada, Raphinha - ela sorriu empolgada
Quando o camisa 11 deu as costas, Ana Liz só não pulou de alegria porque não queria dar na casa que era novata.
Naquela noite, a euforia tomou conta do corpo da Ferraz, já amanhecia na capital catari quando ela terminou de escrever e postou tudo, só então deixando qua a exaustão falasse mais alto e a derrubasse na cama.
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Mi Loco Atardecer - Pablo Gavi
FanficUma história de amor em 16 dias Ana Liz Ferraz sempre ouviu que tinha alguns parafusos a menos, e depois da última loucura, ela realmente acreditava. A estudante de jornalismo estava vivendo em função da Copa do Mundo, narrando os jogos em seu twitt...