Capítulo Único

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– ...ao longo deste domingo. As nuvens carregadas se formam ao longo do dia e tem previsões para pancadas de chuva... – A voz cansada dita o roteiro memorizado. Jisung pulava de canal em canal, quase desistindo da sua janta por não achar “algo que preste”, em suas palavras, na TV.

A comida, uma yakisoba de delivery que já esfriava no prato, foi totalmente posta de lado quando uma mensagem inesperada surgiu no telefone com um barulho agudo. Jisung o apanhou na mesa de centro, onde foi deixado o coitado do prato descartado, e desbloqueou. Seus olhos tediosos se abriram um tanto espantados pelo nome que flutuava na barra de notificações.

Lee Minho. É o nome que o persegue há exatos 3 anos, 5 meses e 24 dias. 

Voltando na data em que se conheceram em um bar de esquina qualquer. Um lugar não muito sujo, mas nem assim tão limpo. Jisung, sentado à bancada, virando quase incontáveis doses de tequila e comendo batata frita, fora surpreendido por um homem pouco mais alto que ele, com carinha de quem ia fazer de sua vida um inferno. E foi por isso, pela adrenalina – que ele ainda não sabia o porquê de estar sentindo-a –, que aceitou sair dali direto para um motel.

Han ainda tinha amor à vida naquela época, estava sóbrio o suficiente para pular do carro do desconhecido caso tentasse o sequestrar para vender na Turquia, e mais sóbrio ainda para se lembrar de cada detalhe daquela noite selvagem e tão quente — ainda que chovesse do lado de fora do quarto iluminado por uma led vermelha. Desde então, vivia a mercê dele.

Mas o que ele não contava era que Lee Minho era casado.

Um endereço e “30min”. Foi tudo o que teve de Minho, depois de 4 longos e torturantes meses.

Fazia tempo que não precisava dele, Jisung percebeu. Não deixou de imaginar e se perguntar se finalmente estaria voltando a se dar bem com sua esposa, ou se apenas arranjou outro para descontar as frustrações de seu casamento fracassado em uma infidelidade contínua.

Querendo ou não, seu coração não pôde evitar de se agitar ao perceber que ainda era ele a ser usado.

Em menos de 20min, Han estava pronto. Exibia seu estilo de uma única nuance muito bem. Sua camisa do The Beatles cinza escura, casou com a calça jeans também escura, que foi presa à sua cintura fina por um cinto preto que, por sua vez, combinava com seu coturno. Algumas correntes se penduram em seu pescoço, braço e cintura, completando o look. Seus cabelos castanhos em dégradé com um loiro desbotado nas pontas foram puxados para trás e bagunçados pelos dedos trêmulos de Jisung. O carro está há 3 minutos de distância.

Se olhando no espelho, teve um insight do que seu amigo, Hyunjin, faria nesse exato momento. O loiro oxigenado, como o chamava, o olharia profundamente com aqueles olhos tão penetrantes e balançaria a cabeça em um misto de pena e desaprovação.

Jisung não o culpava. Sua mente, que já desistira há tempos de lutar contra as investidas burras de seu coração, também sentia pena. Apenas podia se preparar para o pior.

Mesmo que não, ele nunca estivesse realmente preparado para algo ruim. Esse era o mal da dependência emocional.

E lá se vai Han Jisung.

No carro em movimento, seu estômago revira em ansiedade. Suas unhas, que tentou deixar crescer saudável, roídas constantemente e sua perna esquerda tremia para descarregar todo o nervosismo. O que de fato, aconteceu, mas apenas quando, ao descer do veículo, seus olhos buscaram e encontraram uma figura encapuzada num canto sem luz da entrada do motel. Pela segunda vez na noite, o pobre e fraco coração de Jisung pulou feliz.

Jisung sentiu os lábios macios de Minho encontrarem os seus. O selo casto e molhado logo se aprofundou em um beijo envolvente. O mais novo poderia jurar estar flutuando. Seus pés saíram do chão como seu coração parecia prestes a sair de seu peito. O gosto não era muito diferente da sensação. Han gostava de dizer que Minho tem gosto de pedaço de céu.

Ele não tinha a preparação psicológica necessária para estar onde Minho o deitou lentamente. Não depois de meses especulando o motivo do desaparecimento repentino do mais velho. Não depois de tantos anos ensaiando como dizer que não pode mais fazer isso.

Não quando sente que está sendo usado e permite isso.

Ele sabe que não é um brinquedo. Han Jisung sabe que merece muito mais do que apenas isso. Merece alguém que cuide tão bem de seu coração quanto de seu corpo. Mas sua resistência é inibida.

A língua do Lee faz como Jisung gosta e o mais novo só pôde pensar em como ele fazia isso tão bem e resmungar alguns palavrões.

O Han odeia como Minho o tem por completo. Seu corpo é dele. Seu coração é dele. E talvez, se lhe fosse pedido, Jisung venderia sua alma por um beijo. Mas todo esse ódio se vai quando o mais velho entra.

No coração de Jisung, ele já está por muito tempo. Passeando, indo e voltando. Maltratando o coitado do órgão.

Em seu corpo também;

Ele vai e vem.

Entrando.

Saindo.

Entrando.

Saindo.

Um ritmo tão frenético de um jeito tão calmo-agressivo, que nubla a mente do mais novo e tudo o que ele quer dizer é:

– Eu te amo.

Seu peito explodiu em alivio, seguido por medo, ao soltar tudo o que prendia por anos. Um sentimento tão forte e genuíno, obtido de maneira errada e exposto em uma hora inoportuna. Mas se não agora, quando?

Amantes só se encontram na cama.

Outra explosão. Minho gemeu arrastado, Jisung gostava da sensação de pensar que aqueles sussurros e gemidos eram para si. Gostava de ser cheio do mais velho e de ter o corpo definido caído por cima do seu.

Mais algumas estocadas para a terceira explosão da noite.

Talvez Jisung seja masoquista ou algo do tipo. Ele escolhe a dor.

Ele sabia que doeria ao vê-lo virar para o lado oposto e lentamente cair no sono. Minho nunca ouvira o choro baixo do Han, nunca ouvira suas belas declarações e poemas. Sequer gostaria de ouvir algum dia. Jamais saberia o quanto o coração mais novo é tão puro e lindo, pois só se importava com seu corpo.

Também, não tanto. Jisung levaria um tempo para esconder aquelas marcas que começavam a ficar roxas em sua pele clara. As marcas em seu coração e em sua alma, nem todo tempo do mundo conseguiria esconder.

Ligou o chuveiro e se lavou rapidamente. A corrente de agua quente trouxe consigo a recém lembrança daquelas três palavras escapando de seus lábios. Minho sequer pareceu ter escutado, mas Jisung sabia que sim. Sabia que seu amor obcecado era tipo um fetiche para o Lee. Sabia que não passava de um jogo perigoso de adrenalina para ele.

Por isso, com muita dor em seu coração, escreveu um simples “adeus” em um pedaço de papel qualquer e deixou em cima do travesseiro onde deitou minutos antes. 22h46. Minho já roncava.

Normalmente quem se dava ao trabalho de sumir antes das 00h era o mais velho, mas, por misericórdia do universo, Jisung havia se cansado disso. De tudo, sinceramente, e ninguém poderia o culpar.

Han saiu para nunca mais voltar. Mudou de número, mudou o cabelo e Lee nunca soube seu endereço – nunca se importou com isso.

E lá se foi Han Jisung.

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⏰ Última atualização: Dec 11, 2022 ⏰

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E lá se foi Han Jisung.Onde histórias criam vida. Descubra agora