A noite estava silenciosa em torno da propriedade gigantesca em que o motorista adentrava com o carro, após passar pela entrada, pude observar os olhos ranzinzas e curiosos do senhor que era o porteiro. Era um homem velho e com o rosto fechado.
Ainda estava sonolenta, havia dormido a viagem inteira. No entanto, o motorista me informou que ainda faltava muito para chegar e me mandou voltar a dormir. Eu não consegui.
A estrada era longa e engríme, o carro passava pelos buracos, balançando meu corpo conforme avançava.
Durante todo o trajeto, fui acompanhada pelo nascer do sol que me manteve acordada pelo resto da estrada.
Depois de cerca de, uma hora e quarenta e cinco minutos comigo contando cada segundo após acordar, finalmente eu havia chegado ao meu destino. O conde havia me dito que era um lugar muito grande e elegante, de fato, mas vislumbrar com meus próprios olhos era completamente diferente do que minha mente havia criado.
Era uma mansão grande, rústica e elegante. A casa tinha três andares, parecia tão grande que eu tinha certeza que me perderia com facilidade ali. No exterior do edifício, pintada de vermelho-terra com detalhes em mármore, combinando perfeitamente as cores vermelho-terra e branco na beira de cada janela.
Uma brisa varreu o gramado e acariciou minhas bochechas, como se estivesse me cumprimentando.
Uma governanta me recepcionou e me passou as instruções do que eu deveria saber. A mulher era rechonchuda, tinha as bochechas cheias e rendondas, olhos castanhos escuros com profundas olheiras que me encaravam com um ar de superioridade. Enquanto ela andava, sua voz velha e cansada ecoava em meus ouvidos, me explicando as regras da casa.
Comecei a listar a lista de regras que eu deveria seguir mentalmente. Era permitido, que eu, a criada, me alimentasse dos restos da comida da Lady Soo Jin. Jamais ser pega roubando, porque isso acarretaria na expulsão e prisão, o senhor Kouzuki, tio da senhorita, era alguém muito rigoroso e com muitos contatos japoneses. Eu deveria sempre estar disponivel para a Lady Soo Jin e acompanhá-la em todas as suas atividades, sejam elas desde passeio ao ar livre e em suas leituras noturnas.
Havia uma ala com estilo ocidental, que havia sido feita um arquiteto inglês o qual eu não me interessei em decorar o nome. O anexo ficava do lado de fora da casa, tão grande que nem mesmo quatro vezes da minha antiga casa poderia equiparar ao seu tamanho, era onde ficava a biblioteca.
Foi inevitável deixar a surpresa transparecer ao ver o interior do edifício. A ala principal era japonesa, que formava a maior parte da residência. Era ainda maior por dentro, com detalhes de madeira em verniz, desenhos japoneses enfeitavam o papel de parede verde-marinho claro, acompanhados por móveis rústicos e elegantes, com almofadas verde-musgo nos assentos, uma lareira e uma cadeira de leitura no canto. Além disso, tinha a sala de jantar que possuía o mais alto padrão do luxo, a mesa era retangular, de madeira, com camdelabros apagados. Também haviam lampadas, como o dia estava começando, estas estavam apagadas como as velas.
As indiretas da governanta deixando claro que não confiava em mim e que eu deveria ser uma ladra não me atingiam. Ela não estava errada. Fui contratada pelo Conde Nakamoto, ele e Jeon So Yeon, minha amiga mais leal e de longa data, haviam me introduzido no plano como criada de Lady Soo Jin. A ideia inicial era fazer o conde se casar com a senhorita e roubar toda a sua fortuna, deixando uma parte para mim e So Yeon. Não deve ser muito difícil mentir para uma desconhecida, além disso, eu não tenho muito apreço por ricos que são mimados e tem tudo aos seus pés sem precisarem fazer esforço.
"Chegamos aos seus aposentos." A voz cansada da senhora Sasaki me despertou de meus pensamentos.
O quarto em que eu iria ficar era pequeno, quase um cúbiculo. Era um lugar estreito, minha cama ficava atrás de uma porta que se abria ao arrastá-la para o lado, sem janela, sem guarda-roupa, apenas um baú para guardar minhas coisas.
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The Handmaiden | Sooshu
RomanceCoreia do Sul, 1930. Durante a ocupação japonesa, a jovem Yeh Shu Hua é contratada para trabalhar para uma herdeira coreana, adotada por um casal de nipônicos que faleceram em sua infância, Lady Soo Jin, que leva uma vida isolada do mundo ao lado do...