Ouvindo o som dos violinos, mesmo que eles não tivessem começado a tocar, eu balanço devagar.
— Querida...
— Sim?
— Dance comigo. - Me curvo em sua direção fazendo uma mensura muito nobre.
— Tudo bem, tudo bem! - Pôs a mão sobre a boca tentando segurar uma eminente gargalhada. - Não precisa agir como um príncipe. - Revidou girando as órbitas galácticas que se escondiam atrás dos pares de olhos extras.
— Eu não sou um príncipe?! - Finjo uma genuína indignação.
— Só se for o da Princesa e o Sapo. - Sulcos se formaram em suas bochechas escuras. Pareciam mais um bolo de chocolate que não deu certo.
Rodopiavamos no chão gelado descalços. Fora dos palácios fantásticos. Mesmo assim, éramos únicos .
— Você dança de um jeito tão preguiçoso. Como acha que poderia ser um príncipe? - Me provocar eram um dos seus maiores prazeres, mas, eu sabia bem como acabar com eles.
— Isto é porque eu sou um simples oceano minha querida. - Digo num tom esnobe. Abraço mais apertado a sua cintura e a faço girar. - Manso eu quebro na costa. Borbulhando. Espalhando todo o meu amor... - Paro de gira-lá e a faço olhar no fundo dos meus olhos que, coincidentemente, também tinham a cor do oceano. Admiro a galáxia vizinha. Um tom predominantemente âmbar. Cheio de brilho e vida. Sem dúvidas quem olhasse fundo naquele universo diria com absoluta certeza que existie mais do que apenas uma raça há habitar ali.
Colo nossas testas e digo:
— Você é a minha costa.
— Quando balançamos assim eu fico fraca... - Seu tom de voz tramia. Seus lábios amarronzados deslisavam sobre meu ombro.
— Me segure firme.
— Me balance mais... - Num simples sussurro ela fez com que nossas bocas tocassem uma na outra. Permitindo que eu borbulhasse...
Durante o luar nós estávamos a nos beijar. Balançavamos como bonecas de pano.
Apenas ela me fazia balançar.
Mesmo agora.
Abraçado ao seu porta retrato.
Foto tirada naquela noite... A noite do mar manso que balançava junto a sua costa.
Poderia mesmo ser capaz o oceano existir sem a sua costa? Aonde quebraria? Aonde poderia borbulhar? Como espalharia o seu amor?
— Eu sempre soube que estava tudo bem em deixar você entrar aqui dentro. - Disse esparramado a palma da mão sobre meu peito. - Só não sabia que doeria desta forma... - Uma lágrima solitária percorria minha bochecha caindo sobre o quadro em cima dos olhos dela. - Não chore querida, eu sempre estarei aqui. - Sorri, abracei-a mais forte e me aconcheguei melhor na poltrona repleta de mantas e retalhos.
E com um último suspiro... Repito o que disse a ela na última vez:
— Me segure firme…
~ Ana J.F
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Noite Do Mar Manso Que Balança Junto A Sua Costa.
Short StoryO oceano precisa da sua costa. Assim como nós humanos precisamos de ar. Que mundo mais cruel! Se ele foi capaz de lhe tirar a sua costa...O que será capaz de fazer com nós humanos?