I. Casais modernos

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Capítulo Um — Casais modernos

Mais um dia, mais uma luta. Ser pobre e proletariado não é fácil.

Tentei engolir esse pensamento enquanto limpava uma das mesas do bar Crayons de onde trabalho, mas não consegui. Queria ter nascido herdeiro. Assim, eu não precisaria me expor e me propor a humilhações diárias.

— Desce mais uma, garçom! — gritou um bêbado.

Revirei os olhos e fui direto na choperia, enchendo o copo e depois indo na mesa do homem visivelmente alcoolizado.

— Você é bem bonito, mocinho, devo admitir. — comentou o embriagado. — Sou hétero, mas abriria uma exceção para você.

Ah, céus! Quantos "elogios" assim eu já recebi? Sinceramente, perdi a conta. Revirei os olhos outra vez, deixei a bebida na mesa e me virei para ir embora. Antes que eu pudesse cumprir o que queria, senti uma mão forte me envolver a cintura. Minha bile subiu e paralisei. Droga, droga, droga. Esse tipo de bêbado não! Rapidamente, logo após o susto inicial, tentei me desvencilhar dele com as mãos e a força que tinha. Não é incomum coisas assim acontecerem durante o expediente, mas também não devem ser normalizadas.

Para a minha sorte, Jongin, o outro garçom, me avistou do outro lado do bar e veio correndo em minha direção.

— Qual foi, gracinha? Vamos nos divertir. — Ele disse.

— Divertir o cacete! Me larga.

Eu estava irritado.

Como em uma bela comédia romântica, Jongin chegou e empurrou aquele homem, me salvando.

— Obrigado. — O agradeci.

— Não me agradeça, vou falar com o Junmyeon para expulsá-lo daqui. — Respondeu-me.

Claro, Kim Junmyeon, o dono do bar.

Todo bêbado inútil e desprezível precisa pagar a conta antes de ser despejado, o que lembra bastante a minha situação. Se não fosse as horas extras e meu trabalho de segunda à segunda, eu já teria ido embora da minha moradia há muito tempo. Depois que o aluguel aumentou e minha mãe ficou doente, eu que fiquei responsável pelas despesas. Água, luz, internet, serviços de streaming - que eu não abro mão -, tudo. Já faz meses que não compro uma peça de roupa. Na verdade, tudo o que eu quero fazer é entrar com um processo contra a imobiliária, pois eu fui o único a ter o valor aumentado. Isso é uma injustiça descabida! Sequer faz sentido!

Mas, como disse, estou num breu. Não posso pagar por um advogado.

Tirando-me dos meus devaneios, o sino da porta tocou, indicando que mais clientes estavam chegando.

Uh... Dois rapazes altos bem engravatados. Ternos bem cortados e cabelos penteados. O mais alto era loiro e tinha um belo topete. O outro era moreno, também usava o cabelo repartido num topete. Pareciam ter acabado de sair do trabalho e, de forma alguma, não combinavam com o bairro familiar daqui. Cocei a nuca, pensativo.

— Vá atender, Baekhyun, vou na cozinha — Jongin surgiu atrás de mim.

Ok. Lá vou eu.

Tirei o bloco de comandas do bolso junto a uma caneta e fui até os dois, os quais já estavam devidamente sentados em uma mesa afastada.

Seguindo meu gaydar, eles pareciam um casal sigiloso. Mordi o lábio inferior com o pensamento. Será?

— Boa noite, no que posso ajudar? — Perguntei e olhei para ambos.

Emaranhado de TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora