O dia estava nublado e frio, como na maioria das vezes. Estava atrasado, como na maioria das vezes. Para falar a verdade, eu odiava o meu trabalho. Aqueles papéis me irritavam. Números, números e mais números, café e mais números. Ela vestia branco, um vestido de seda até o joelho com mangas longas. Mantinha seu olhar baixo, fitando seus passos largos. Acompanhei-os até desaparecem naquele amontoado de gente.
Pensei naqueles olhos o dia todo. E mais outro, e mais outro. Às vezes, entre uma página e outra, dava uma olhadela para apreciá-la, parecia bem séria, introspectiva. Fitei-a por uns cinco segundos, e voltei ao meu romance policial. Ficamos uns vinte minutos em silêncio, não que eu achasse que deveríamos conversar, mas um pouco de simpatia não faria mal a ninguém.
Tentávamos, inquietos, ajeitar-nos nas poltronas. Havia pelo menos 60 cm de distância entre nós, mas parecíamos tão próximos. Suas bochechas estavam avermelhadas, e ela tão sem jeito quanto eu. O café estava lotado naquele dia, mas o silêncio era incrível. Ouvia-se um homem sussurrando a uns dois metros; o salto de uma mulher tilintando de um lado ao outro; um adolescente mascando chiclete na mesa à minha frente. Os sons pareciam ter ficado mais perceptíveis. E tudo ao meu redor parecia vívido, colorido. Era como uma pequena dose de êxtase.
Nossos olhos encontraram-se pela primeira vez. Aqueles olhos avelã nunca saíram da memória. Os olhos avelã mais belos que já tinha visto. Ainda me lembro de como ajeitava a mecha de cabelo atrás da orelha e pousava, delicadamente, as mãos sobre o colo enquanto me encarava. O pingente em "T", pendurado em seu pescoço, tocando-lhe os seios retos e pequenos.
– Eu não arriscaria adivinhar. Eu não era do tipo galanteador, talvez por isso nunca tivesse tido uma namorada. Balancei a cabeça positivamente, esperando ouvir a sua voz.
– Ah, sim. Meu nome é Tania.
- Prazer, sou Léo.
Ela revelou um sorriso de canto, discreto e tímido. Meu rosto enrubesceu.
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O último enigma
Mystery / ThrillerO destino, às vezes, brinca com as pessoas, faz delas o que bem entende. Existe, sim, uma hora, uma data, um momento marcado para tudo o que há de realmente especial. Eu nunca acreditei em destino ou sorte, mas nunca desacreditei de Deus. Chamavam...