2. You must think I'm crazy

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CAPÍTULO 2 - VOCÊ DEVE ACHAR QUE SOU LOUCA


Minha cabeça doí.

Não, tudo em mim está doendo.

Escuto os barulhos na porta, as batidas constantes, a voz de alguém que parece estar muito distante de mim. Isso só faz minha cabeça doer ainda mais. Continuo olhando para a porta entreaberta do banheiro, me perguntando como diabos cheguei nesse ponto.

Quando era pequena, não achava que era maluca. Mas acho que ninguém realmente insano percebe isso sozinho. Demorei até notar que somente eu conseguia ver coisas que não estavam lá, ouvir vozes que não pertenciam a ninguém. E até aquele momento, meus pais não se incomodavam muito com o assunto.

Até eu provar que estava ficando louca.

Coisas se moviam, apareciam em lugares diferentes, até mesmo desapareciam. Um belo dia eu pintei todo o meu quarto enquanto dormia, e não tenho nenhuma lembrança disso até hoje. Comecei a chegar no ponto de fazer coisas e acreditar que eram as vozes, os vultos que haviam feito. Simplesmente comecei a perder a cabeça, a noção do que era real ou não.

Não sabia se tinha múltiplas personalidades, exatamente como o filme "fragmentado", ou se apenas era insana. Foi nesse ponto em que meus pais começaram a ficar preocupados.

Eu estava me tornando agressiva, sofrendo perdas de memórias, e o que era até então só uma fase, se tornou um sério problema. Ainda me lembro do dia em que fui diagnosticada com esquizofrenia, mentalmente instável, bipolaridade e outra dúzias de problemas psicológicos. Fiquei em uma instituição por três meses, fazendo o tratamento, testando remédios até as vozes sumirem.

E elas se foram.

Desapareceram do mesmo modo que a escuridão se vai quando o sol chega. O problema é que na verdade, a escuridão nunca vai embora. Ela só se esconde e espera o momento certo para atacar, o momento ideal para consumir tudo.

Mais uma vez ela ganhou.

Sempre achei que todos eram capazes de bondade, amor, gentiliza, que todos travavam uma luta diária com a própria escuridão interna, que tentavam ser melhores a cada dia. Eu só era mais uma entre eles, mais um humano tentando ser uma boa pessoa, mas a verdade que eu nunca quis aceitar é que eu não sou uma pessoa comum, eu não tenho uma escuridão dentro de mim tentando devorar tudo.

Eu sou a própria escuridão.

Não existe nada de bom em mim, nada que vale a pena, nenhuma bondade, apenas o vazio. Só queria que o vazio fosse silencioso.

Escuto as vozes distantes, e não sei dizer se realmente existe alguém na porta, se são pessoas reais, ou se é só a minha mente perturbada. Não sei dizer o que é real ou não.

Um monstro não deixa de ser um monstro simplesmente porque decidiu fingir que tem um coração.

Continuo olhando para a marca da mão.

Não, eu não o joguei na banheira, não tenho força física para isso, o que só pode significar que ele se escondeu de mim. Ele tentou viver, e eu aparentemente o despedacei, o cortei em tantos ângulos diferentes que a minha casa se tornou um cenário de terror.

Não sou uma boa pessoa, nunca fui, mas nunca pensei que era tão insana assim. Tão má.

Eu deveria estar em um manicómio, presa, longe da civilização. E provavelmente dopada. Eu devia ficar longe de todos, em algum lugar onde eu não pudesse machucar ninguém.

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