4. A piece of me dies

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CAPÍTULO 4 - UM PEDAÇO MEU MORRE


Mordo a boca, ansiosa.

Desço meus olhos para as fotos espalhadas na mesa de centro, onde é possível ver o crime cometido no meu apartamento. A TV está ligada e eu consigo escutar a voz de um apresentador em um programa da madrugada. O relógio está marcando meia noite e dez, e fazem exatamente trinta minutos desde que Sasuke me beijou.

Ele me beijou.

Acho que vou precisar de muito tempo para assimilar essa informação, para tentar descobrir o motivo disso. Por que diabos ele me beijaria? Não faz sentido. Nada disso está fazendo sentido para mim.

Suspiro, me jogando no sofá.

O apresentador continua falando e logo posso ouvir as gargalhadas da plateia, como se ele tivesse contado uma piada incrível, o que eu sinceramente duvido muito. Olho para os lados, observando o segundo andar do seu prédio. O primeiro aparentemente é a garagem e a dispensa, já o segundo o quarto, banheiro, cozinha e sala, o terceiro tem a academia, e o quarto está vazio. Apesar de ser um prédio grande e os cômodos espaçosos, tem poucos móveis, o que me faz pensar que ele não passa muito tempo aqui.

Faz sentido, considerando que toda vez que conversamos, ele está trabalhando.

Sim

Olho para o canto da sala, onde as presenças estão.

No geral eles não são de falar coisas sem sentido, essas três preferem observar e só me respondem quando eu falo diretamente com elas.

E dessa vez eu não falei.

Passo as línguas pelos lábios me endireitando no sofá, sem entender o que aquela pequena palavra significava. Sim, ele está sempre trabalhando quando conversa comigo? O que diabos isso tem de relevante?

Escuto a risada delas, baixa e quase sem fôlego, como se tivessem usado todo o ar do pulmão para mostrar o quanto aquela informação era engraçada. Mordo a boca, fazendo uma careta.

- Vou precisar de mais informação - digo para o nada.

Minha parte racional sabe que elas não estão ali de verdade, que eu sou esquizofrénica e estou de certo modo alucinando, porém, quanto mais tempo eu fico sem os meus remédios, melhor eu me sinto, e começo a acreditar que não sou insana, que de fato as vozes pertencem a alguém, ou a alguma coisa que só eu posso ver e escutar.

Não que esteja vendo elas agora. Geralmente preciso me concentrar muito para isso, ou elas precisam se projetar, se é que eu posso chamar assim.

Tem certeza?

Uma delas me pergunta, e dessa vez eu não escuto nada relacionado ao seu senso de humor, apenas um interesse genuíno na minha resposta. Antes, se ela me perguntasse isso uma semana atrás, eu não iria querer saber, na verdade, iria simplesmente ignorá-la como faço desde os quinze anos.

Mas hoje é diferente.

Hoje eu não acho que sou louca, hoje meu cérebro parece estar funcionando pela primeira vez em anos, hoje eu me sinto bem, me sinto disposta, me sinto forte. Não sei se é a falta dos remédios, ou se só mudei desde que encontrei o corpo, mas a verdade é que eu me sinto como eu mesma pela primeira vez em anos.

E essa versão minha quer saber tudo.

- Sim.

Consigo sentir a satisfação delas, como se essa fosse a resposta que esperavam.

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