Quando As Nuvens Choram
Há muito tempo que eu não sorrio.
Digo, às vezes dou risada quando penso em alguma piada que ouvi na semana passada, em como o vizinho fica estranho usando sunga, ou quando escorreguei no asfalto molhado de chuva.
Mas faz muito tempo desde que meus labios encararam a felicidade. E é fácil lembrar desse dia, porque foi em uma manhã fria de julho, que é quando a temperatura de São Paulo cai, o céu passa a maior parte do tempo mais cinza e escuro do que de costume e, as gotas de chuva são mais finas, mas ainda assim capazes de embaçar os meus óculos.
Foi em julho que a conheci, a garota mais incrivel da face da terra.
Eu caminhava devagar, olhando o chão, tinha acabado de fechar meu guarda chuva pois as gotas haviam parado. Fui pisando nas folhas secas na esperança de ouvir o barulho delas se quebrando. Estava sozinha. Talvez tenha me distraido de mais nas minhas pequenas aventuras de derrotar folhas no chão. Porém foi nesse momento que trombei com você, que estava encharcada, tremendo de frio e, solitariamente, chorando.
Suas lagrimas poderiam ser confundidas com as gotas que caiam anteriormente, mas seus olhos inchados e seu rosto vermelho eram inegaveis.
Pensei mais de três vezes antes de ir falar com você, porque não sabia ao certo o que dizer para alguém triste - e até hoje não sei. Apesar de não saber o motivo pelo qual você chorava, sabia que quando isso acontecia comigo, era porquê sentia falta de alguma coisa, ou alguém, então foi isso que lhe perguntei: "Do que você está sentindo falta?".
Você me olhou com aqueles olhos confusos e castanhos, mais confusos do que castanhos, e mais castanhos do que eu esperava. Limpou a última lagrima que escorria, e respondeu: "Estou chorando porque as nuvens estão tristes".
Confesso que foi a minha vez de lançar um olhar confuso e, talvez autoexplicativo, porque você continuou dizendo: " A nuvens estão chorando, ver elas chorando me dá vontade de chorar", e foi então que soltei o mais sincero sorriso de todos, porque aquela frase vinda de uma adolescente trazia uma sensação incrivelmente surreal.
" Então, você sente falta do sol", respondi.
" Nâo. Eu só não gosto de chuva", ri mais uma vez.
" Por que?", indaguei.
" A chuva molha as minhas meias. É horrivel andar com meias molhadas".
E, de repente, lá estava eu: sentada em um banco, à duas esquinas da minha casa, conversando com alguém da minha idade que era completamente maluca.
Sorri mais uma vez.
Era muito bom não estar mais sozinha.
