A mansão Guerra nunca esteve tão quieta como agora. Nada de homens armados e espalhados por todo o seu perímetro, nada de empregados andando e falando para todo lado e principalmente, nada do Darlan com as suas malditas ordens gritadas. Eu não tenho muitas boas lembranças desse lugar a não ser dos momentos que brinquei com as minhas irmãs. A atmosfera dessa casa sempre foi imperativa, obscura e rígida mesmo tendo tanto luxo e a luz do dia que a invade constantemente pelas suas janelas largas. Meus olhos passeiam pela enorme sala de visitas onde eu nunca tive o prazer de receber um amigo meu. Pudera, assim como as minhas irmãs eu era apenas um fantoche deles, que servia apenas para ser usada com um propósito e isso me faz pensar que eu só passei a existir de verdade quando sai desse lugar.
- Me espere aqui - peço para o meu marido sem ao menos olhá-lo, e sigo para as escadas.
- Tem certeza, Nina?
- Eu não vou demorar.
- Tudo bem! - Então eu paro e olho para trás.
- Tem um cigarro e um isqueiro? - Thor uni as sobrancelhas. Ele está confuso.
- Que novidade é essa, você não fuma. - Dou de ombros.
- Nunca é tarde para começar, certo? - Ele apenas solta uma respiração alta, enfia as mãos nos bolsos e tira de lá o isqueiro e me entrega um cigarro. - Obrigada, querido!
- Só más uma coisa, Nina, se você não voltar em vinte minutos eu subo essas escadas. - Apenas faço sim para ele e começo a subir os degraus. No ato, a minha mão desliza lentamente pelo corrimão e eu chego a ouvir as vozes deles dentro da casa.
- Criança insolente! Por que não educa a sua filha?! - Papai berrou me largando dentro do meu quarto e no mesmo instante escutei a chave na fechadura da porta. Um grito feminino ecoou dentro do corredor e depois outro, e mais outro, enquanto ele berrava enfurecido.
Uma lembrança de que eu não fazia ideia que estava guardada dentro de mim. Ele a batia sempre que eu aprontava. Dentro do corredor me dirigi direto para o primeiro quarto e trêmula levei uma mão a maçaneta, girando-a lentamente como se quisesse evitar o inevitável. Eu nunca entrei no quarto dos meus pais antes, nem mesmo quando ele morreu e ela ficou sozinha lá dentro por dias. Eu podia ouvir o seu choro pela madrugada, sabia que estava sofrendo, mas nunca me atrevi a entrar nesse lugar. Respiro fundo quando sinto o cheiro do seu perfume entranhado no cômodo e fito a cama extremamente grande bem no centro dele. As janelas estão fechadas e as cortinas também, mas ambos não são capazes de impedir a luz de entrar nesse lugar. Começo a andar pelo cômodo, deslizando as minhas mãos pelos seus móveis modernos, enquanto fito as suas paredes claras. Eu queria ter a doce lembrança da criança passando por aquela porta usando apenas um pijama e carregando o seu urso para invadir a cama do casal e me entranhar no meio deles, recebendo os seus beijos e senti-los me abraçar até que eu voltasse a dormir, mas eu não tenho essa lembrança feliz. Na verdade, eu não tenho lembranças felizes com os meus pais em momento algum da minha vida. Durante o meu tuor, encontro um quadro gigante pintado a óleo bem acima de uma lareira. A imagem retrata um casal feliz e sorridente. No entanto, fixo os meus olhos nos olhos negros e firmes. Até na pintura eles parecem ser frios. A feição rígida e séria me faz fechar as mãos em punho e logo os sons dos gritos preenchem a minha mente. A visão do chicote se levantando no ar e depois estralando nas nossas costas. Pero Guerra era um homem de pulsos firmes, intolerante e de uma frieza assustadora. Ele tratava os seus próprios filhos como se punisse um dos seus devedores, ou os seus inimigos. Não importava o tamanho do erro, a punição era sempre severa. Depois, veio o Darlan e eu posso afirmar que o demônio que guiava esses homens era o mesmo.
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Nascidos da Máfia.
RomanceUM ROMANCE QUE FOGE DOS PADRÕES VIOLENTOS DA MÁFIA. Lucas Ferraz sempre foi um rapaz todo certinho e além de ser muito bonito, e cobiçado pelas meninas do Morro do Gavião, ele também era o único herdeiro ao trono do tráfico. O jovem tinha planos de...