CAPÍTULO 10 ⸺ NOORA

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O Sr. Dowski estava dando aula de magia negra quando ela entrou na sala. Lua sempre se atrasa se eu não estivesse do lado dela porque ainda não havia se acostumado com o tamanho da Universidade. Sentou no canto mais à frente de mim, onde fora o lugar mais acessível que encontrou vago. Soltou os cabelos como sempre fazia ao entrar num lugar mais bem refrigerado. Naquela posição em que nos encontrávamos sentadas eu podia ver um pouco do rosto dela, que colocou a mecha do cabelo para trás da orelha. E ela estava linda. Na verdade, ela era linda.

A aula chegou ao fim e só então eu me dei conta de que não havia feito mais nenhuma anotação já fazia mais de uma hora. Desde que... bom, deixa pra lá.

– Você pegou a matéria antes de eu chegar? – disse vindo em minha direção.

– Sim, em casa eu te mando as anotações para o seu comunicador.

– Ah! Eu sempre esqueci o nome desse 'troço' – e deu uma risada que eu retribuí com outra.

Fomos para casa almoçar juntas como sempre fazíamos. Eu estava ensinando alguns pratos típicos de nosso planeta. Hoje eu iria ensinar ela a cozinhar mais um.

– O que é isso? Uma batata? – perguntou ela com cara de confusa olhando para o legume em sua frente.

– Não, Lua, isso é um legume próprio de nossas terras.

– Parece batata.

– De fato, e o gosto também é semelhante.

Comemos e nos sentimos um pouco cansadas e fomos deitar. Só depois de sair do banho eu a vi deitada na minha cama, mas não disse nada pois não me incomodava com a ideia. Deitei do lado de Lua na mesma posição que ela estava: virada para cima com as mãos em cima da barriga.

– Existe algo que mais te deixa feliz no mundo?

Meu coração palpitou com aquela pergunta. Eu não sei?

– Não sei, e você?

– Eu também estou tentando descobrir, mas a sua amizade é uma das maiores riquezas que tenho agora.

Acredito que depois de tudo que ela tenha enfrentado, momentos como esses eram um dos poucos dos quais ela não precisava se preocupar. Não é fácil estar se preparando para se tornar uma guardiã.

– A sua amizade também se tornou uma das minhas.

Ela me olhou e eu a olhei. Naquele momento eu sentia o cheiro dela. Era algo que me lembrava frutas vermelhas. Dormi sentindo esse cheiro, depois de perceber que ela dormiu também.

Acordei e já estava escuro lá fora, quando meu cordão brilhou e eu soube que precisavam de mim. Na minha mente, foi enviada a minha missão: Salvar uma criança que estava presa em uma casa em chamas do outro lado de Lythikos.

Eu me transformei e saí de casa voando, sem avisar Lua. Eu não controlava a água, então aquela tarefa não era nada fácil. Tentei manter a calma, respirar fundo e pensar bem no que fazer. Foi quando eu lembrei da chuva do dia anterior nas folhas das árvores. Fiz os galhos crescerem, me trazendo aquelas folhas molhadas que eu fiz dobrar os tamanhos, fazendo cair água para dentro da casa. Mas mesmo após o fogo baixar e eu entrar não encontrei ninguém ali. Teriam chegado antes de mim?

– Morgana? Está me ouvindo? – me conectei por telepatia.

– Estou sim, já sei onde ele está.

– Quem o levou?

– Tormenta.

Aquelas palavras me impactaram. Eu já estava voando fora de casa, e o fogo estava cada vez mais se apagando. Eu nunca venceria Tormenta sozinha.

O Despertar do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora