Único.

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— Desapontado — murmurou para seu reflexo embaçado na água cristalina da fonte. — É assim que o seu Eu de quinze anos se sentiria se o visse agora.

Fazia algum tempo que perguntava isso para si mesmo. Entretanto, finalmente havia encontrado a resposta ao fitar seu reflexo no espelho por cinco minutos. De fato, se no auge de sua adolescência tivesse tido um vislumbre de como estaria atualmente e o porquê, o garoto — um modelo ambicioso em ascensão na época — não mediria esforços para seguir a fio outros caminhos que pudessem o levar para bem longe daquela parte específica de seu destino.

Ele teria se desdobrado para evitar cada acontecimento que desencadeou naquela tarde ensolarada, onde as súbitas sensações, até então desconhecidas, se deram início por causa de uma pessoa; teria impedido que seu olhar encarasse por mais tempo do que o normal a bela face juvenil, a figura de fios castanhos longos a qual fora apresentado; teria se mantido firme ao invés de vacilar completamente quando o sorriso alheio chegou até si juntamente a seu nome, o que o atingira de forma tão intensa quanto ser jogado longe por um carro.

E, por Deus, com certeza segurar-se-ia para não passear indiscretamente suas orbes pelo tórax definido e suado do rapaz, que minutos antes de ter sua presença no salão, treinava com afinco em frente ao espelho, agraciando sua vista com seus passos delicados e sincronizados juntamente com a música.

Certamente teria sido assim, caso houvesse acontecido anos atrás, visto que a versão mais nova de Kim Seokjin não conhecia ninguém mais centrado e focado em seus objetivos do que ele mesmo. Passou toda sua infância sendo ensinado que desistência não deveria existir em seu vocabulário, muito menos aceitar que terceiros influenciassem em seu futuro brilhante e próspero. Veio ao mundo para brilhar e era inadmissível que permitisse que alguém ousasse ofuscar sua luz.

"Seja lá por qual meio, nunca deixe ninguém ter poder algum sobre você."

Essa era a frase que mais ouvia de sua mãe, uma empresária conceituada, divorciada e pouco maternal. Ela permeou como verdade absoluta em torno de si por muito tempo, até vivenciar e sentir em sua própria pele que a partir do momento que nos relacionamos para valer com outras pessoas, era impossível que elas não exercessem algum mero poder sobre nós. E, dependendo da profundidade de cada laço, dependendo do após que vinha de cada um, podia ser excepcionalmente bom ou inesquecivelmente ruim.

Queria, e como queria, que tudo tivesse permanecido simples e leve com Jungkook.

Lembrava-se perfeitamente, logo depois das formais apresentações, como ele sorriu meio envergonhado ao reparar que o secava. Sorriu de volta, pedindo assim silenciosamente desculpas pelo deslize, porém sem demonstrar arrependimento real. Afinal, não podia ser falso aquele ponto. O dançarino de regata branca e bermuda capturou seu interesse de primeira e nos próximos encontros que se sucederam a este, acabou roubando seu coração.

Não fora algo planejado, muito menos esperado. Em sua cabeça ninguém conseguiria o abalar tanto de dentro para fora. Nunca. E provavelmente pensar assim foi seu maior erro (bem como de sua progenitora por ser a maior implementadora de tais ideias), pois quando sua construção a respeito do que era o amor e o que nos acontecia quando tal batia em nossa porta foi totalmente destruída, se viu apavorado ao perceber aonde aquele desejo desenfreado o levou. 

Entretanto, era tarde demais para fugir; seu medo de relacionamentos o fez adiar a sua maior vontade, que era a de ultrapassar a linha de beijos dados às escondidas entre um ensaio e outro que tinham. Mas assim como todos os seus outros motivos que o tornavam resistente para a absurda iniciativa de tentar um romance — o seu primeiro desde que nasceu —, este caiu por terra e fora muito bem enterrado. E a cada minuto ao lado daquele que era seu inédito amor verdadeiro, sentia que fora a coisa certa deixar todos os receios e dúvidas para trás.

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