Diz que era um homem que tinha tantos filhos que não havia mais ninguém para chamar para ser padrinho. Vai que lhe nasceu mais um menino. O homem então, montou em seu cavalo e saiu a procurar um padrinho ou madrinha para criança. Na curva da estrada, deu de cara com a Morte. Mas o homem não ficou com medo e convidou a Morte para ser madrinha de seu filho. A Morte aceitou. No dia do batizado, depois da cerimônia, a Morte chamou o homem num canto e disse:
- Quero dar um presente para meu afilhado. E penso, que o melhor presente é enriquecer o pai. A partir de hoje, você vai botar anúncio que é médico. Toda vez que for visitar um doente vai me encontrar. Se eu estivar ao pé da cama, pode receitar até água que o doente ficará bom. Mas se eu estiver na cabeceira, não pegue o doente, porque esse é meu, esse eu levo.
E assim foi, o homem botou anúncio que era médico e logo enriqueceu. Não errava uma. Chegava na casa do doente, se encontrasse a Morte ao pé da cama, dizia:
- Esse eu curo!
Mas se a encontrasse na cabeceira, dizia:
- Podem preparar o caixão.
O homem nadava em dinheiro. Até que um Rei muito poderoso. Poderoso e cruel com quem não lhe fazia as vontades, chamou o homem. Seu filho, o jovem Príncipe, estava muito doente. O homem chegou e viu a Morte na cabeceira do Príncipe. O homem ficou desesperado pensando na fúria do Rei se o Príncipe morresse. Chamou os criados e pediu que virassem a cama. Botando a cabeceira no lugar do pé e o pé no lugar da cabeceira. A Morte foi embora danada, e o Príncipe se salvou.
Tempos depois, a Morte apareceu ao homem e disse:
- Compadre, vim lhe convidar para jantar comigo.
O homem ficou desconfiado e disse que aceitaria o passeio, mas se a Morte jurasse que o traria de volta. E a Morte jurou. Depois pegou a mão do homem e fez um gesto mágico. Quando o homem deu por si estava no castelo da Morte. Era um lugar grande, mas sombrio e lúgubre. Os dois jantaram e depois a Morte mostrou o castelo ao compadre. Estavam nessa, quando passaram por uma grande sala cheia de velas. Velas de todos os tamanhos: grandes, pequenas. Umas já se acabando, outras pareciam que tinham sido acesas naquele momento, algumas já iam pela metade. O homem perguntou o que significava aquilo. E a Morte respondeu:
- Cada vela dessas é a vida de um homem. As que estão grandes e parecem que acabaram de ser acesas é o início da vida. A vela vai se acabando, até desmanchar. Então é a Morte.
O homem ficou curioso e perguntou sobre as velas de seus amigos. E a Morte foi mostrando.
- Este aqui.
- É fulano – respondia a Morte.
- E “tá” se acabando. E este?
- É sicrano.
- Ainda vai viver muito.
Até que perguntou pela sua vela. E a Morte mostrou um cotoquinho de vela, quase se apagando.
- Mas eu tô morre, não morre.
- É isso mesmo, compadre. Eu lhe trouxe para já deixá-lo aqui. Mas como você me fez jurar que eu o levaria de volta, assim farei.
Dizendo isso, a Morte fez um gesto mágico e o homem se viu no seu leito cercado por parentes chorosos. Na cabeceira da cama, lá estava a Morte. E o homem pediu:
- Morte, minha comadre, eu quero que você jure que só me leva depois de eu rezar um Pai Nosso. Você jura?
- Juro.
E o homem começou:
- Pai Nosso que estais no céu.
E se calou. A Morte disse:
- Continue a oração, compadre.
- Morte, eu disse para você me levar só depois que eu rezasse um Pai Nosso. Mas não disse quanto tempo eu ia levar pra rezar esse Pai Nosso.
A Morte foi embora furiosa.
O tempo passou. O homem ficou velho. Estava passeando por uma de suas propriedades onde havia um jardim que ele amava muito. Quando o homem chegou lá, viu que os bichos quebraram a cerca e destruíram o jardim. O homem ficou desolado e disse:
- Quem dera a Morte me levasse para eu não ver uma desgraça dessas!
Nem bem terminou de falar, a Morte pulou em cima dele e o levou. A gente pode enganar a Morte uma, duas vezes. Mas na terceira e enganado por ela