Uma semana depois do baile chegou o dia dos pais virem para a escola, e nunca demorei tanto pra acordar quanto naquele dia.
Eu ainda não tinha ne transformado, e minha mãe com certeza iria falar sobre isso. Nunca torci tanto para o assunto chegar em se assumir lésbica quanto agora. Não que excluídos tenham algum problema, mas renderia uma perguntas estranhas e menos piores do que "Você ainda não se transformou? Que decepção".
Wandinha obviamente percebeu o quanto eu estava preocupada, mas provavelmente não quis fazer muitas perguntas.
— O que houve? – foi tudo o que ela disse, antes de perceber que não adiantava insistir e mudar de assunto. – Não acho que vá gostar muito da minha família. Eles são como eu, mas... piores. Meu irmão curte explosivos e vai endoidar quando descobrir que estamos tragicamente apaixonadas, não se surpreenda se ele tentar te prender em alguma armadilha. Mas fique tranquila, vou ficar de olho.
Isso quase me distraiu completamente. Dei risada por algum tempo e esqueci do problema por um momento. Quando descemos para o pátio, lembrei do porquê da minha tristeza e parei de sorrir. Wandinha percebeu, o que levou à sua segunda pergunta, um pouco mais preocupada dessa vez.
— Está bem, Enid, o que aconteceu?
Dei um suspiro e olhei pra ela.
— Minha mãe. – respondi, sentindo lágrimas esquentando meus olhos. – Aquele lance de não se transformar.
— Ah. Mas você está indo bem em todas as matérias, não é motivo de orgulho?
Ri com amargura e ela olhou de um jeito estranho pra mim.
— Pra uma mãe normal, talvez. Mas somos lobos.
— Quer que eu vá junto com você? Posso resolver isso, só preciso de umas algemas e um martelo...
— Você não vai torturar a minha mãe, Wan. Olha, se você estiver lá pra me apoiar vai ser melhor, mas você não tem que se encontrar com a sua família?
— Não encontro eles me nenhum lugar. – ela fala, olhando em volta. – Não devem ter chegado, podemos ir.
Segurei sua mão e fomos até a mesa onde minha família estava sentada. Nunca falei deles pra Wandinha, o que possivelmente causou um pouco de desespero por não saber muito daquele mundo.
— Olá, Sra Sinclair. – disse Wandinha, estendendo a mão pra minha mãe. – Me chamo Wandinha Addams.
— Ah, oi. – respondeu minha mãe, meio confusa. Tive vontade de rir, mas consegui segurar. – Você é... amiga da Enid?
— Namorada, por assim dizer.
— Isso. – eu falei, segurando sua mão. – Ela é minha namorada, mãe.
— Oh, que maravilha! Esperava conversar sobre garotos antes d'O Assunto mais Importante, mas sobre garotas também serve.
O Assunto mais Importante. É como minha mãe chama o lance de eu não conseguir me transformar. Como se fosse algo a ser tratado, um transtorno. Eu só não consigo me transformar ainda, o que tem de tão ruim nisso?
Wandinha me olhou confusa, como se me perguntasse o que seria O Assunto mais Importante, mas não teve muita oportunidade pra fazer isso, já que minha mãe perguntou quase de imediato depois de dizer aquilo:
— Como se conheceram?
— Na detenção. – eu respondi, tentando enrolar o mais tempo possível. – Tentei... arranhar o rosto dela, sabe como é.
Escolha de resposta errada, completamente errada. Por sorte, Wandinha mudou de assunto antes que minha mãe pudesse falar sobre o meu problema:
— Gosto da sua filha há um tempo, Sra Sinclair. Ela é uma aluna exemplar e certamente uma namorada espetacular.
Era óbvio que minha família estava achando Wandinha uma completa estranha, mas eu os ameaçava com o olhar a cada tentativa de uma mínima piada de mau gosto.
— Fico feliz em saber disso. Você ama mesmo ela?
Wandinha deu um claro sorriso completamente forçado sem olhar pra mim e assentiu. Não sabia que ela já gostava de mim há muito tempo, esse pensamento me acalmou como um cobertor quentinho no inverno gelado.
— Aí, Addams.
Argh, meu primo. Uma versão familiar do Dante: o Ari. Inclusive desconfio de um possível caso entre os dois, mas é assunto pra outra hora. É óbvio que ele iria ignorar meus olhares ameaçadores mesmo que minha tia pedisse pra ele não ignorar. Eu posso não conseguir me transformar, mas sempre fui a mais forte e explosiva da família.
— A sua família tá indo pra um funeral? – ele perguntou, dando risada. Wandinha ficou calada.
— Ari. – disse minha tia, mas foi ignorada por ele.
— Olha lá eles, dá pra reconhecer só pela roupa de doente mental.
Wandinha olhou pra onde ele apontava: sua família tinha chegado.
— Obrigado por me avisar que eles chegaram, Ari. Foi bom conhecer vocês, eu já volto. Ah, e não foi uma ofensa pra gente.
Meu primo assumiu uma expressão incrédula enquanto Wandinha se levantava e ia até sua família sem demonstrar uma única gota de mágoa. A bronca que minha tia deu só aumentou minhas risadas.
Meu pai riu junto comigo. Nunca entendi muito bem a dele. Sabe, ele sempre me apoiou nisso de não conseguir me transformar dizendo que tudo o que importava era meu comportamento e minha força, mas nunca conseguiu confrontar minha mãe, deixando ela me oprimir horrivelmente em todas as noites de lua cheia.
Enfim, Wandinha voltou um tempo depois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O sol e a Lua - Wenclair CONCLUÍDA
FanficWandinha e Enid vêm de mundos completamente diferentes, possuem personalidades e gostos bastante distintos. Porém, acima de tudo, elas se odeiam. Em uma noite, Addams finalmente passa dos limites e faz Enid perder o controle. A punição será ficarem...