Capítulos I - O Banquete

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Um mundo perfeito como todos os outros, nos jantares diários dos deuses esse seria o mais invejado de todos, as terras esverdeadas como os olhos da mais bela deusa, e castelos rígidos e exuberantes que combinassem com toda a sua riqueza. Infelizmente esse era um sonho distante, essa era uma terra sem um deus que os guiasse ou dessem bênçãos. Os poucos que ainda os tinham eram descendentes dos mais antigos habitantes, mas se refletiam somente aos nobres que olhavam de longe em seus castelos, que de pouco em pouco apodrecem.

Era clara a ideia dos camponeses sobre o seu deus, injusto, astuto, canalha, e tantos outros. Não fazia sentido, as suas terras não cresciam, a sua pobreza a cada dia só aumentava, a "doença" não parava de se espalhar. Prostituição, drogas, vício, apostas, era uma sociedade fadada ao desastre e os deuses festejavam em alegria por causa disso.

De volta ao banquete, todos eles possuíam um estandarte em cima de suas cadeiras com mapas em tempo real de seus mundos, mas no final da mesa existia um lugar vazio. Aquele era o lugar do deus "forasteiro", que para eles era pouco tempo, cerca de poucas dezenas de milhares:

- ele nunca mais apareceu né? - dizia um deus com um corpo enorme e pele cinza, seus chifres se assemelham a marfim e aparecem com um par em sua cabeça e dois pares menores no maxilar - AINDA BEM HAHAHA - Ele gargalhava se jogando em cima do deus ao seu lado.

- Uma imprudência de tal tamanho não seria tolerada se o mesmo estivesse aqui - esse deus que lidava com o troll aos prantos em cima dele, tinha aparência quase que antagônica. Ele apresentava cabelos marrons claros e uma pele quase que branca de tão clara, a sua característica mais marcante eram os olhos pequenos e claríssimos em conjunto de suas orelhas pontiagudas.

- Por favor, ainda espera a volta dele? Eu mais do que tudo o queria de volta... a companhia dele era a melhor que existia, ele sempre me deixava muito feliz! - essa deusa era uma mulher loira belíssima com uma auréola com folhas de ouro em cima de sua cabeça reluzindo galáxias inteiras, (essa deusa cheirava a luxúria) mas não mais do que os seus olhos dourados que ficavam em harmonia com a sua pele também clara - Eu que dei luz a espécie dele, ele deveria ao menos vir me agradecer, todos eles devem ser tão belos quanto a sua mãe.

- Bela dama, não vamos entrar em tal assunto ainda, ainda há comida na mesa. Não quero lhe apresentar à Margareth de novo - era uma armadura enorme, seu metal às vezes batia em si, ressoando um som estridente, aquela se não era o deus da guerra era a personificação do mesmo, não parecia existir um corpo naquilo. Onde seriam os seus olhos no elmo brilhavam em vermelho ao perceber as intenções da mulher "succubus" apelidada por ele - ela não está de bom humor hoje.

A deusa loira dá a língua para ele parecendo uma menininha, e volta a tocar em sua comida emburrada, sentindo falta de seu tão "amado" amante. Com essa reação os inúmeros deuses riram, gargalhavam, mas ainda com a incerteza de onde se encontrava o seu impiedoso deus da justiça que deveria se sentar na ponta.

As suas teorias refletiam em covardia ou desacato ao papel, que o deus não havia aguentado o seu próprio poder e sucumbido em seus pensamentos de superioridade, ou até mesmo que o deus havia se apaixonado por uma mulher de seu próprio mundo. Pelo menos os comentários não eram os dos melhores, sempre eram humilhantes ou degradantes, claro que ainda haviam aqueles que tinham medo de falar assim de seu próprio rei, principalmente os mais antigos e seus aliados.

Só eles sabem das loucuras provindas de seu monarca, não é qualquer um que manipula tanto a luz quanto as sombras como ele.

Mudando a narrativa, ao longe das cidades quase que totalmente emerso à floresta que era totalmente densa, era quase impossível de ver o céu. As folhas secas das árvores cobriam o chão e o som dos passos era facilmente detectável, dessa forma, era visível uma silhueta de um homem grande e musculoso, ele devia ter por volta de uns um e noventa de altura, usando somente um xale¹ preto preso de um jeito que escondesse seu braço direito inteiro, parte de seu braço esquerdo e de seu nariz para baixo além de usar uma calça folgada, aos olhos de alguém de longe esse homem parecia mais um urso, e o tamanho do seu cabelo deixava isso óbvio, seu cabelo já cobria parte de seus olhos e vinha até os seus ombros fora que o mesmo se encontrava todo descabelado dada a natureza ondulada que ele apresentava.

Seus olhos persistiam um mistério, era difícil de enxergá-los, a aura desse ser era totalmente ameaçadora, não havia ser nesse mundo que ousaria enfrentar seu caminho, ele pensava assim pelo menos. Já que seus poucos passos eram perceptíveis, era quase óbvio de se ouvir uma multidão corrento pela floresta gritando coisas que na narrativa do forasteiro não faziam sentido com tochas e utensílios de fazendo, parecia uma comum "caça às bruxas".

E logo o viajante olhava com desgosto, aquela era o lixo da espécie, "o avanço é tão temido assim?" Ele pensava ao ouvir aquela cena toda. Ao chegar a uma clareira algo quase que instigante acontece, ele vê quase que perfeitamente aquela mulher, era uma moça com baixa estatura, um corpo magro com uma das mais claras peles, que acompanhavam o seu hipnotizante cabelo vermelho vibrante, as ondulações que haviam nele eram sem iguais eram mais serenas que as ondas de qualquer mar que o forasteiro tenha visto.

Entretanto, aquela cena era uma que seria perdida de sua memória, como tantas outras, por mais instigante que seja descobrir quem seria aquela mulher, o seu destino já estava fadado a ser uma caça e aquilo nunca mudaria. "Aquela raça não merece ajuda, não tem porque considerar só a aparência".

Ainda em pé na clareira, o homem que passara rapidamente por ali se encontrava no meio disso tudo e olha novamente a mulher, dessa vez com o acesso ao seu rosto que parecia desesperado, ela não parecia ter feito algo errado, algo dentro do que parecia ser um elfo gritava isso, por algum motivo não existe uma explicação lógica para a decisão dessa figura. Talvez tenha descoberto em sua memória alguns eventos passados que foram o epílogo de tudo, ou talvez tenha só criado uma empatia dada a beleza quase extrema da mulher, ou talvez algo simplesmente sem explicação envolvia essa "bruxa".

- Experiri non dolet, praeterita iustitia non afficit. (Latim)

Após dizer algo que se parecia com um encantamento, um rastro de luz se forma até a mulher que tinha acabado de cair no chão graças as raízes das árvores. E tal ação tinha sido percebida até mesmo no grandioso banquete do limbo, enquanto todos comiam e riam do fracasso de seu anterior supervisor, se deparam com algo estranho acontecendo no seu estandarte do que persistia imutável a milhares de anos, uma luz totalmente ofuscante provinda dele, aquele seria um mau presságio.

O deus que a anos não aparecia, e apresentava repulsa a espécie que havia cultivado uma benção?!

Xale¹: Um xaile ou xale é uma peça de vestuário que se coloca de forma não presa sobre os ombros e braços;

Sem Lei - A terra sem deusOnde histórias criam vida. Descubra agora