As cores: Wenclair

Único

O quarto de Enid era uma junção de cores e texturas... as paredes estavam adornadas por uma infinidade de posteres, carimbos com cores vivas e fotografias penduradas. Enid estava sentada sob sua cama que tinha um padrão de bolinhas azul pastel e enrolada em seu cobertor felpudo rosa.

Wandinha estava na frente dela tocando seu violoncelo, ela parecia ter um talento natural para isso... a forma como seus dedos tocavam o instrumento fazia um som lindo e agradável, ainda mais para os ouvidos de Enid. Ela era como um pontinho escuro no clarão que era aquele quarto.

Todas aquelas cores bobas pelo cômodo e aquela bagunça nos arredores... Wandinha sabia que sua amiga gostava de viver daquele jeito assim como Enid também sabia que Wandinha preferia cores mais neutras, porém as duas não conseguiam evitar de achar estranho. Como ela gostava daquilo? Mas não de um jeito maldoso, era mais como um sentimento inconsciente e inofensivo de estranheza. Tipo, que gosto mais bizarro!

Assim que terminou de tocar para Enid, Wandinha olhou para ela e pediu por sua opinião. Wandinha não sabia, mas sempre que ela olhava para Enid daquela forma, prestando atenção nela e parecendo realmente se importar, ela sentia algo dentro dela. Enid não queria acreditar que estava criando sentimentos românticos por sua melhor amiga, mas não podia evitar aquilo... Elas eram tão diferentes, mas tão iguais!

— Eu gostei muito, amei a música! - Enid sorriu pare ela — Eu acho que é bem legal você saber tocar um instrumento! Eu tô tentando aprender a tocar piano recentemente...

— Obrigada, eu tenho certeza de que você vai conseguir aprender. É só focar nisso.

— Eu tô tentando focar, é meio difícil quando tá começando do zero...

— Isso é verdade, mas você vai conseguir... ah! - ela viu a cachorrinha de Enid começar a lamber e pular no seu pé — A Jujuba está achando que o meu pé é uma jujuba...

— Ei, Jujuba... vem aqui, garota! - quando ela chamou a cachorrinha ela foi correndo até o pé da cama e Enid a pegou do chão e colocou no seu colo. — Ela tá toda faminta!

Jujuba era uma cachorra da raça labrador retriever, mas ela ainda era uma filhotinha pequena e era muito brincalhona, ela não parecia se cansar nunca. Os animais são iguais aos seus donos, Jujuba não era uma exceção. Mas tudo ali parecia ornar bem, tudo parecia fazer sentido, mas Wandinha era diferente, era um contraste, tão fora do tema... ela se sentia assim também.

— Todas essas cores no seu quarto fazem os meus olhos doerem.

— Sério? Tá zoando? - disse, brincando com Jujuba.

— Eu não sei se conseguiria viver num quarto assim sem cansar os olhos.

— Ah, não fala isso, as cores nem são tão fortes assim!

— Você só pode estar de zoação comigo!

Enid colocou Jujuba em cima de um travesseiro e se aproximou de Wandinha, colocando o seu braço sobre os ombros dela e olhando para frente, onde havia uma prateleira repleta de ursinhos de pelúcia e action figures de animes.

— Olha só, isso faz os seus olhos doerem? - perguntou, olhando para seus olhos.

— Sim.

— Então eu vou te mostrar como as coisas coloridas são harmônicas! Você vai ver como eu vejo!

— Eu não acho que isso vai mudar alguma coisa...

— Mas tentar não vai fazer cair um braço, senta ali na cadeira.

Quando ela apontou para a cadeira azul com um tema de galáxia na frente do laptop cheio de stickers e adesivos aleatórios, ela soube que isso iria demorar. Ela se sentou e a sua amiga rapidamente entrou no Chrome e escreveu na barra de pesquisa palavras que retornavam imagens e fotografias como um por do sol colorido, um campo de flores cercando uma cachoeira num dia de verão, um arco íris num monte verde... uma natureza que era cheia de cores e personalidade. Ela parecia estar realmente animada em apontar os motivos pelo qual ela precisava de cores em sua vida, mas esse assunto só estava deixando Wandinha mais entediada. Até porque ela já havia entendido que Enid gostava de cores... chega!

Não era uma paisagem bonita que iria mudar sua opinião e o fato de que a natureza era colorida as vezes não era um motivo bom e convincente para morar no mundo de California Girls.

— Isso não vai mudar minha mente, só esquece isso, Enid.

— Não, não. Sério que você não sente essa imagem?

— É sério, Enid. Só chega.

— O que? Eu só tô tentando te ajudar! Você acha que os outros vão achar normal uma garota que só usa preto? Isso não é normal!

— E você acha que ser obcecada por fofura e cores é normal? Olha ao redor, isso é um chiqueiro!

— Ah, você vai começar a brigar comigo agora? Fala sério, eu não quero brigar com você, mas você é tão... ignorante as vezes.

— Ignorante? E você que começou com isso tudo, Enid! Você só tá se fazendo de vítima! - ela se levantou da caveira e ficou de frente com Enid.

Quando Enid disse aquilo, ela realmente não quis ofender sua amiga, ela nunca gostou de a ver brava ou triste, mas aquilo só saltou da boca dela repentinamente, como se ela quisesse dizer há muito tempo, mas não tivesse coragem. Mas isso realmente não era verdade.Só dava a entender.

— Nem você sabe porque gosta dessa bobeira, só cresce! Por que você é assim?

— Crescer? Olha quem diz... e Wandinha, eu vou admitir, não sei mesmo! Mas existe algo que eu sei.

Ela se aproximou da amiga e colocou as mãos na cintura dela. Ela teve um pico de confiança com aquele passo que ela deu, fechou os olhos a medida que aproximava o rosto do dela, que continuava imóvel. Mesmo confiante no que estava fazendo, ela continuava tremendo suas pernas com medo da rejeição, mas assim que ela tocou os lábios nos dela, sentiu um pequeno arrepio correr por seu corpo... e tentou relaxar. Pensar positivo.

Quando percebeu que ela estava colaborando para que o beijo acontecesse, ela sentiu confiança para continuar. Foi ali que os dois mundos se colidiram entre si.

Mas aí elas se separaram e.... é....

— Ah... me desculpa...

— Err, tudo bem... eu até que gostei disso. - ela sorriu.

— Você... ah, eu... estamos de bem?

— Acho que sim... eu não esperava que você fosse fazer isso. Era mais provável me matar, por que fez isso?

— Porque eu te amo. Isso é bem clichê, né? Mas é meio que verdade...

— Eu não posso negar que também tenho sentimentos por você. Mas eu não achei que você também tinha. Eu não sei como eu deveria reagir...

— Tá tudo bem, eu fico feliz que também sinta o mesmo por mim. Ah, e se não estiver pronta pra isso...

— Eu estou! - ela disse, colocando as mãos no rosto de Enid e a beijando novamente.

De alguma forma, as diferenças das duas foi o que as atraiu e elas entenderam que não precisavam mudar para que pudessem se entender.