Invenção de Orfeu (Jorge de Lima)

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1. Um barão assinalado sem brasão, sem gume e fama cumpre apenas o seu fado: amar, louvar sua dama, dia e noite navegar, que é de aquém e de além-mar a ilha que busca e amor que ama.

Nobre apenas de memórias, vai lembrando de seus dias, dias que são as histórias, histórias que são porfias de passados e futuros, naufrágios e outros apuros, descobertas e alegrias.

Alegrias descobertas ou mesmo achadas, lá vão a todas as naus alertas de vaia mastreação, mastros que apoiam caminhos a países de outros vinhos. Está é a ébria embarcação.

Barão ébrio, mas barão, de manchas condecorado; entre o mar, o céu e o chão fala sem ser escutado a peixes, homens e aves, bocas e bicos, com chaves, e ele sem chaves na mão.

2. A ilha ninguém achou porque todos o sabíamos. Mesmo nos olhos havia uma clara geografia.

Mesmo nesse fim de mar qualquer ilha se encontrava, mesmo sem mar e sem fim, mesmo sem terra e sem mim.

Mesmo sem naus e sem rumos, mesmo sem vagas e areias, há sempre um copo de mar para um homem navegar.

Nem achada e nem não vista nem descrita nem viagem, há aventuras de partidas porém nunca acontecidas.

Chegados nunca chegamos eu e a ilha movediça. Móvel terra, céu incerto, mundo jamais descoberto.

Indícios de canibais, sinais de céu e sargaços, aqui um mundo escondido geme num búzio perdido.

Rosa-de-ventos na testa, maré rasa, aljofre, pérolas, domingos de pascoelas. E esse veleiro sem velas!

Afinal: ilha de praias. Quereis outros achamentos além dessas ventanias tão tristes, tão alegrias?

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