nove: sair e ser vista como limpa

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Albedo tocou a campainha da casa da fraternidade e esperou. Ontem Kaeya havia comentado que nunca havia recebido um buquê de flores, então hoje Albedo iria realizar isso. 

Amigos dão buquê de flores, não dão? Parando para pensar, seria estranho dar isso a quem você aparentemente não tem nenhum interesse romântico ou sexual, mesmo que, para Albedo, sempre foi um ato de carinho, afinal, dava-se flores às mães, aos mortos e consequentemente àqueles que namoram. Então, sim, vai entregar o buquê ao seu querido amigo Kaeya… Eles são amigos, certo? Seu aperto no plástico afrouxou.

Um menino, um ou dois centímetros mais alto que si, atendeu a porta. Ele tinha cabelos escuros com pontas verdes. Estava com as sobrancelhas arqueadas e seus olhos verdes passaram por todo o corpo pequeno de Albedo até parar nas flores. 

"Kaeya está?", perguntou o albino. Não teve oportunidade de fugir, então só sobrou ficar e terminar o que havia programado. Se desistisse, chegaria aos ouvidos de Kaeya e sinceramente Albedo não queria isso.

"Sim, vou chamar ele."

"Não, deixa eu entrar", pediu, segurando a porta antes dela se fechar.

"Ah, você é Albedo?"

O loiro estranhou e hesitou a responder. Quem é essa pessoa e como sabia seu nome?

"Sim", disse.

"Ah, tá!" O rosto dele parecia ter sido iluminado por todos os conhecimentos da face da terra. Um sorriso grande apareceu no seu rosto. "Entra!" Abriu um espaço na porta. "Kaeya tá no quarto dele e do Childe, mas bata antes de entrar."

O albino passou pela pessoa e entrou na fraternidade. A casa estava imunda e, no fundo do corredor, outro rapaz cheio de piercing e tatuagens com um batom e delineado vermelhos estava com luvas enquanto tentava limpar o grosso da sujeira. Nunca os viu ali.

"Vocês são moradores daqui?", perguntou curioso.

"Sim!" Ele parecia empolgado por nada. "Sou Venti, faço música, e aquele de cara fechada é Xiao, é do curso de artes." 

"Nunca encontrei mais ninguém além de Kaeya e Childe, por um momento achei que era uma fraternidade de dois", falou sério, mas aparentemente Venti achou graça e gargalhou, batendo em ti no processo. Albedo odiou.

"Tem outros rapazes, mas estão viajando."

"Entendi." Moveu-se para a escada. "Obrigada."

"Nada!"

Subiu os degraus com calma. O plástico azul ao redor das Lótus de Leite estava deixando sua mão suada e isso estava o incomodando demais.

Chegou na porta do quarto e bateu.

"Entre." Era Kaeya.

Albedo hesitou - será que realmente era uma boa ideia? -, mas então ele abriu a madeira escura, revelando não só Kaeya, mas também Childe e outros dois homens baixos que Albedo não conhecia. De repente, ficou envergonhado quando os três o encararam. O buquê estava em sua mão e todos já tinham visto - os olhares que lançaram a Ragnvindr depois de repararem as flores eram estranhos.

Kaeya se levantou quando pareceu processar aquilo e caminhou em direção ao albino, passando pela porta e a fechando atrás deles. Seu rosto estava completamente vermelho, mas seu comportamento era falsamente confiante como sempre.

"Comprei para você", Albedo disse e entregou ao mais alto.

"Obrigado", respondeu com um sorriso no rosto, pegando o buquê e cheirando as flores. "Estão frescas e são lindas."

Albedo sorriu pela reação e Kaeya parecia surpreso com isso, mas não disse nada.

"Sabe…" Seu sorriso alargou. "Às vezes acho que você quer me seduzir."

"Não estou tentando de seduzir." Encarou o homem. Albedo era péssimo em identificar brincadeiras e sarcasmo. Sua mão direita foi em direção ao rosto do azulado e seus dedos seguraram com força significativa o queixo pontiagudo deste, puxando-o para baixo e próximo de ti. "Você quer que eu tente te seduzir?" Abaixou o tom da sua voz de propósito. Seu hálito quente foi em direção a boca pouco grossa de Kaeya e suas íris perceberam as várias mudanças no rosto do homem que segurava; as sobrancelhas arqueadas, boca entreaberta e bochecha vermelha foram as que mais chamaram atenção.

E, sim, tinha sido uma brincadeira, mas nosso querido psicólogo Albedo não reparou isso.

Era estranho se sentir daquela maneira. Não se lembrava da última vez que teve aquela sensação forte. Ele queria loucamente beijar Kaeya. 

Afastou-se de repente, suas mãos voltaram para seu corpo e desviou seus olhares. Pela primeira vez naquele um mês e meio, Kaeya estava sem palavras, seu rosto permanecia congelado.

O silêncio também deixou Albedo desconfortável. Será que ele fez alguma coisa errada?

"Você gostou do buquê?"

"Ah…" Kaeya piscou e balançou a cabeça, agora o albino tinha certeza que estava nessa realidade com ele. "Sim… Obrigado."

"De nada."

Um silêncio se instaurou novamente, mas foi rapidamente quebrado.

"Preciso ir. Tenho coisa da faculdade para fazer."

"Ah, claro. Tudo bem." Sorriu.

Eles nunca mais falaram sobre isso

uma colina em chamas ⨾ kaebedoOnde histórias criam vida. Descubra agora