Durante a noite, o clima em casa estava muito tranquilo, Jimin havia se alimentado sem me dar muito trabalho, sozinho, ele escovou os dentes e me ajudou a lavar as louças. Ele ainda estava um pouco atordoado, mas fora isso, ele estava em total consciência.
- Jungkook, você não me falou como estão meus pais.
- Eles estão bem, toda nossa família está torcendo por sua recuperação... - eu odiava mentir para ele, mas como iria falar que seus pais eram contra a internação.
- Que bom... quanto tempo eu vou ficar lá?
- Apenas o necessário, eu prometo.
- E nosso filho? Ele ainda se lembra de mim?- Parei de lavar as louças imediatamente, senti minhas mãos tremendo com aquela pergunta - Não deixa ele se esquecer de mim, por favor...
- Jimin... - meus olhos estavam cheios - Você sabe Jimin... você sabe que a gente perdeu ele, para de falar isso...
Ele abaixou a cabeça, ok, talvez eu tenha me enganado que ele está completando consciente. Exatos seis meses atrás, tivemos nosso filho em uma tarde fria, era um menininho muito lindo, a cara do pai.
Apenas alguns dias depois, perdemos nosso pequeno Juninho para um resfriado severo que estava contaminando todo mundo, tentamos nosso melhor para evitar que ele pegasse o vírus, mas infelizmente... A família do meu alfa culpou a mim pela morte do meu próprio filho, Jimin me defendeu com unhas e dentes, já estávamos destruídos e aquelas acusações pioravam ainda mais nossa dor.
Eu tinha minha forma de sofrer, chorava muito, não me alimentava, não conseguia dormir, não tinha mais felicidade. Meu alfa, ele se afundou no trabalho, passava horas trancado no escritório mesmo depois de ter acabado de chegar da empresa, foi a época que nossos negócios mais cresceram e também foi a época que ele começou a usar drogas para se aliviar de suas dores. Desde então, sempre que está sob efeitos dessas substâncias, ele fala do nosso filho como se ele estivesse apenas dormindo...
- Eu não aceito que ele se foi - Saio do meu transe com ele falando.
- Eu não aceito que perdi vocês dois... - abaixo o olhar.
- Perdão, eu vou melhorar - senti ele pegando minha mão.
- Jimin, você já falou isso muitas vezes... tantas vezes que eu já não consigo acreditar como antes - olhei o rosto dele - Invés de só prometer, faça!
- Eu vou, eu vou meu bem - nos abraçamos.
Como era bom poder conversar com ele, mesmo que seja um assunto nada bom, mas era mil vezes melhor do que apenas o observar dormindo enquanto choro sozinho.
- Vai lá tomar banho, consegue sozinho?
- Consigo sim - beijou minha testa - Se eu vou ser internado, podemos fazer alguma coisa...
Neguei devagar, fazia muito tempo que não tínhamos um momento nosso de casal, nossa última relação sexual foi antes do bebê nascer, desde então nunca mais fizemos nada.
- Eu só vou ser seu quando você voltar a ser meu - falei baixo.
- Compreendo...- ele me soltou devagar - Eu vou lá banhar.
- Qualquer coisa me chama, tá bom?
- Tudo bem - olhei ele saindo da cozinha e aproveitei para dar mais uma olhada nos termos da clínica.
Sentado no banquinho do balcão, perdi um pouco da noção do tempo que passei mexendo no celular, fazia tempo que eu não tinha um momento para isso. Aproveitei para responder algumas mensagens antigas, pedi desculpas por demorar tanto e após isso respondi devidamente.
Vejo que já eram quase nove da noite, estranhei meu marido não ter voltado e fui verificar o que estava acontecendo com ele.
- Jimin? - Abri a porta devagar, mas ele não estava na cama - Ainda não terminou seu banho? - Olhei em nosso banheiro, mas ele também não estava lá.
Fiquei desesperado, será que ele fugiu de novo? Céus que castigo. Sai do quarto agoniado já pensando por onde ele poderia já ter passado quando dei de cara com ele.
- Jimin? Jimin! Oh meu Deus Jimin... - abraço ele forte - Eu achei que você tinha saído de novo...
- Não meu bem, eu estava no quarto do bebê...
- Ah...
- Eu quero ficar com você... já que amanhã eu vou sair e não sabemos quando irei voltar.
- Sim, sim, vem meu amor, vamos deitar - Não soltei a mão dele por nada.
Deitamos em nossa cama, após muito tempo eu pude deitar a cabeça em paz no travesseiro sabendo que ele estava ao meu lado e que não ia mais fugir.
- Dorme, você aparenta estar bem cansado.
- Não alfa, eu estou bem.
- Sei que não está, então durma um pouco, eu não vou sair daqui.
Fiquei sem saber o que fazer, eu queria confiar, mas já eram tantas promessas quebradas...
- E você não vai dormir também?
- Vou sim -puxou o cobertor me deixando todo embrulhado - Depois de você.
- Uh tudo bem então - coloquei a perna por cima das dele e encostei minha cabeça em seu peitoral, ele não iria levantar sem me acordar.
Já estava difícil lutar contra o sono, mas ele ainda começou uma carícia em meus cabelos então foi inevitável, não percebi quando cai no sono.
Como se tivesse sido apenas um piscar de olhos, acordei assustado pela manhã, mas ao ver que ele ainda estava ali deitado comigo me trouxe um alívio imenso.
- Você cumpriu sua promessa... - sorri com os olhos cheios e deitei novamente, iria aproveitar esse pequeno vestígio de esperança que ainda restava dentro de mim.
Mas não fiquei muito tempo ainda deitado, levantei devagar para arrumar a mala dele, doeu muito fazer isso, chorei bastante ao fechar o zíper.
- Jiminie? Acorda amor - alisei os cabelos dele - O pessoal da clínica vem às nove- Ele abriu os olhos devagar, então notei que provavelmente ele chorou muito antes de dormir - Oi amor, bom dia.
- Bom dia Kook... - a voz dele também estava embargada.
- Eu te amo Jimin - alisei o rosto dele e entre nossas lágrimas enfim nos beijamos.
Algo tão comum entre um casal, mas para nós, aquele beijo significava muito, era um beijo de amor, saudades, medo... era um misto muito louco, muito bom.
Nos separamos devagar, nossos olhares se encontraram entregando tudo aquilo que queríamos falar no momento, ali, eu percebi que nosso amor ainda era o mesmo, bem machucado, mas ainda estava ali resistindo.
Nossa aflição aumentava conforme os minutos passavam, logo ele já estava banhando, devidamente vestido e só aguardando.
- Meus pais não vão vir?
- Ah... eles disseram que iam tentar, mas você sabe que eles são... ocupados...
- Verdade - olhou em volta - Irei sentir falta de casa...
- Isso é bom- aliso os cabelos dele - vai aumentar sua força de vontade.
Iríamos continuar nossa conversa, mas a campainha nos atrapalhou, enfim a equipe chegou para buscá-lo.
A despedida foi dolorosa, ele saiu chorando muito, eu me segurei até que eles passassem pelo portão, aí eu me pude me entregar ao choro.
Chorei muito, finalmente eu pude chorar o quanto quisesse, eu sentia minhas dores saindo de mim.
Era um momento crítico, nossa última cartada, embora fosse um momento de tristeza, eu ainda conseguia enxergar esperança, eu estava feliz...
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Vestígios, a dependência || Jikook
FanfictionO amor é mais forte que uma dependência química? Onde Jeon Jungkook luta praticamente sozinho para livrar o esposo, Park Jimin, do mundo do vício. Vestígios é uma pequena história emocionante de superação, narra a dura realidade de muitos sem roman...