grande gesto

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- Você está uma merda.

- Jesus. Obrigada, Lilith. Isso é o que uma mulher adora ouvir, você sabe como me agradar.

O celular balança em sua mão quando ela se joga de costas no colchão, percebendo o olhar cerrado de Lilith a analisando como se soubesse exatamente o tanto de merda que Ava havia aprontado.

- O que está acontecendo? Parece que não dorme há dias.

- Bem, talvez seja porque entre reencontrar minha ex namorada e escrever sete músicas até o natal, eu realmente não esteja dormindo o suficiente - os lábios de Lilith são separados e os olhos arregalados. Ava choraminga, passando a mão pelo rosto cansado - Merda.

- Ex namorada? Ava, que história é essa?

- Não é nada.

- Como não é nada? Se existe algo tirando sua atenção do processo criativo, eu preciso saber - ela rebate, as bochechas adquirindo um tom avermelhado pela falta de respiração. Ava pensou que Lilith pudesse atravessar a tela para lhe dar um peteleco.

- Não é nada, tudo bem? Nós só...ela é minha vizinha então é meio inevitável que eu acabe trombando com ela por aí.

Os ombros de Lilith parecem relaxar.

- Certo - Ava suspira - Olha, você sabe que só quero seu bem, não sabe? E quero que sua carreira continue ascendendo. Somente isso.

- Claro. Porque é o seu trabalho - ela solta, amarga.

- E porque você é minha amiga, sua idiota - o dedo de Ava quase aperta o botão vermelho sem querer com a declaração de Lilith. A mulher era sempre séria, sempre impassível. Ouvir algo como aquilo fazia o peito de Ava aquecer - Não quero que se machuque.

- Então você prefere a Ava cafajeste de volta, sim? - Lilith revira os olhos, fazendo a outra rir - É um bom modelo de Ava. Sinto falta dela...

- Eu não. Está bom como está.

- Não se preocupe, ela volta comigo assim que eu estiver de volta à Nova York.

- Então não existem chances para a tal da ex namorada?

Ava hesita.

Ela sabe que hesita porque consegue enxergar o divertimento nos olhos de Lilith, e isso a irrita profundamente.

- Não - declara, por fim, tentando deixar a voz firme - Nenhuma. Beatrice é passado, e é onde eu espero que ela fique.

Por fim, Lilith acena com a cabeça. Aceitando a voz entrecortada de Ava, ou engolindo as futuras perguntas que se desfizeram pelo olhar profundo de Ava.

- Bom. Estou esperando fotos das novas páginas para a revisão. Quando estiverem prontas...

- Não hesitarei em mandar - Lilith solta um sorriso sem dentes - Até depois, Lilith.

- Até depois, Ava. Vá dormir.

Ela desliga a chamada, jogando o celular para um canto qualquer na cama quando se coloca de pé, estalando os músculos com um gritinho de prazer.

Estava com a mesma roupa da noite passada. Não havia conseguido pregar os olhos por um instante sequer. Viu o dia nascer pela janela, enquanto sentia o cheiro bom de Beatrice exalando das alças de seu vestido. Com o tempo, esquecera como ela cheirava bem.

Como também esqueceu da profundida palpável daqueles olhos. Dos lábios rosados, do nariz afilado, do sotaque que sempre tirava de Ava calafrios.

Precisava de um banho. Era o que pensava.

The golden hourOnde histórias criam vida. Descubra agora