Ela estava uma pilha de nervos.
A sala tinha ar condicionado, mas ainda assim Charlotte suava em sua blusa social perfeitamente passada. O nó em sua garganta havia incomodado o dia todo, e a Austin já tinha passado em sua mente um milhão de desculpas convincentes para dar a sua melhor amiga. Não sabia o motivo de todo aquele nervosismo, toda a adrenalina.
Estava pronta para sair em disparada dali e correr por quilômetros, mesmo sabendo que era ridículo: era só uma festa, uma das centenas que recusou ir com Rosalya. Uma ocasião que ela dispensaria facilmente por um bom treino na academia de Kim, embora já tivesse passado lá pela manhã e descontado parte de sua frustração no saco de pancadas até Nathaniel chegar.
Suspirou, impaciente. Passavam das duas da tarde, mas as horas pareciam se arrastar no escritório do redator-chefe, o sr. Henry Portland: um senhor de meia-idade que tinha alguns fios grisalhos e indiscretos, bem como um humor detestável capaz de fazê-la fantasiar estar servindo de vela para a Meilhan, como faria naquela noite.
Era irritante o fato de que, justo para aquela noite, já tinha gasto seu estoque de desculpas e mentiras, mas o que podia fazer? Quando colocava algo na cabeça, dificilmente Rosa era persuadida a abandonar o pensamento. Admitia, era bem hipócrita da parte dela ir a tal festa de sexta à noite, quando o anfitrião era Castiel Veilmont, alguém que ela se determinou a odiar, tantos anos atrás. Mas havia uma boa razão. Na verdade, segundo ela, uma excelente razão: para sua infelicidade, a festinha do rockstar deveria ser a trilionésima que se recusava a ir, e Rosalya simplesmente não aceitaria um não. Então tudo o que ela precisava fazer era torcer para não ser reconhecida, aguentar a noite detestável e entediante em meio a copos de cerveja e música alta e evocar essa lembrança terrível toda vez que quisesse pular fora de alguma das loucuras da garota. Era simples e objetivo — Rosalya não teria argumentos.
— Já terminou, Austin? — Ela pulou com a voz áspera do sr. Portland.
— C-claro, sr. Portland. — Praguejou mentalmente. Detestava gaguejar. — Só estou aguardando o aval do departamento de edição.
— Aguardando. — A palavra foi pronunciada por ele com desdém. — É bom que a matéria seja revisada e aprovada hoje, Austin. Você não foi contratada para devanear em serviço.
Ela observou aquele pseudo velho virar as costas e caminhar para fora da sala, batendo a porta com arrogância.
— Viu só, Charlotte? — Disse a si mesma, cansada. — Sua melhor amiga só está tentando te ajudar. Você deveria frequentar umas cinco festas por noite para aguentar esse homem.
Balançou a cabeça, frustrada. Cogitou ligar para a melhor amiga, mas ela provavelmente quereria falar sobre a social, então mudou de ideia.
Restou a Charlotte girar em sua cadeira distraidamente, procurando não enlouquecer.
☽
— Minha nossa, o Castiel vai te processar quando você roubar os holofotes da festa dele. — Ela ouviu a voz da melhor amiga antes de vê-la. Parou de encarar o espelho e virou para Rosalya, linda em um vestido longo e prateado que parecia brilhar como um diamante, abraçando as curvas da Meilhan. O decote V dava o toque final ao glamour, juntamente ao colar longo que pendia entre seus seios, o pingente no formato de uma rosa chamando atenção.
Charlotte sorriu com o trocadilho.
— Você exagera, Rosa. — Sua voz tinha um tom divertido pela primeira vez no dia. Virou-se novamente para o espelho, colocando os brincos. Eram pedras médias que imitavam brilhantes e, sob a luz certa, cintilavam toda vez que ela virava o pescoço. — Só não estou com o uniforme da redação.
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Social, Castiel Veilmont
Fiksi PenggemarCHARLOTTE AUSTIN TINHA MUITOS SEGREDOS. Vivendo sua vida atrás do pseudônimo Drakkar, a estudante de jornalismo era estagiária na Redação Central da Anteros Academy e levava uma rotina monótona, buscando esquecer as marcas de seu passado e sair do...