THREE

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 RMS Titanic, Oceano Atlântico;

– 12 de Abril de 1912 –

. . .

Pela primeira vez em muito tempo eu perdi o horário do café da manhã. Em circunstâncias normais eu estaria surtando com isso, me corroendo pela minha falta de pontualidade e com medo do que as pessoas pensariam sobre mim, mas hoje não tinha nada de normal.

Eu acordei esparramado na minha cama, haviam lençóis e travesseiros jogados. Uma verdadeira balbúrdia. Ainda usava as roupas da noite passada e isso definitivamente fugia ao convencional, em vinte três anos de existência Louis Tomlinson nunca se encontrou tão amarrotado, desgrenhado, atrasado e sorridente como naquela radiante sexta-feira.

Harry esteve aqui até o início da alvorada, rolando comigo nessa cama enorme enquanto nos beijamos e ele ria de mim tentando mascarar meus gemidos e ofêgos com tosses falsas.

E foi assim, presos em nossa bolha particular que nos enroscamos e nos perdemos um no outro por horas a fio.

Quando ele quis voltar ao seu quarto, eu relutei, prendendo-o no meu abraço sem soltar. Harry se contorcia e fazia cócegas em mim, afim de se libertar e era como quando éramos crianças e ele queria fugir para o rio mesmo sem saber nadar.

E foi como um soco no estômago.

A lembrança de que nos conhecíamos desde sempre.

Ele ainda tinha meu sangue. Ele ainda era minha família e aquilo era errado, no entanto quando a sua pele cobria a minha e eu me entorpecia dele tudo aquilo parecia tão certo.

Meu irmão se foi e um minuto depois eu já estava com saudades.

Acabei adormecendo em meio a nossa bagunça e acordei com seu cheiro impregnado em minhas roupas, já passava do meio-dia. Tomei um café preto e comi croissants ouvindo a banda tocar uma sinfonia alegre que me fez querer dançar como fiz no convés inferior na noite passada, não me ocupei em colocar uma gravata ou um paletó, não havia mal algum em usar apenas camisa e colete de vez em quando, encontrei meus pais em conjunto com Philip, Deborah e Eleanor, eles estavam tendo um momento de turismo pelo navio com o capitão Smith, os segui entrelaçando meu braço ao de minha noiva que segurava uma sombrinha para proteger-se do sol.

Minha franja voou contra meus olhos e ela disse que hoje era um lindo dia.

E de fato era.

Harry não estava entre nós e meu coração pulsava loucamente querendo perguntar por ele. Eu estava prestes a fazê-lo quando Ismay chegou em companhia do casal Astor, era sabido que eles eram os mais ricos do Titanic. Ah, o que meus pais não dariam para conseguir fisgar seus milhões, mas ele só tinha uma única filha de nove anos.

Os mais velhos engataram em uma extensa conversa que só exaltava a si próprios.

— Homens e seus grandes egos. — Eleanor resmungou ao meu lado.

Estávamos passando ao lado dos botes, todos enfileirados e bem amarrados por firmes cordas que provavelmente jamais precisariam ser rompidas. Voltei a olhar para Eleanor, ontem ela me achava uma decepção quando me beijou contra aqueles mesmos botes, o que ela acharia de um beijo meu agora? Quer dizer, eu já posso me dizer bastante experiente após uma noite inteira, embora, tenha sido com um garoto, será que existe muita diferença?

Eu deveria ter perguntado para o meu irmão.

— (...) É o que dizem todos os jornais, o Titanic é inafundável! — Ouvi a voz de Ismay se gabar alguns passos a minha frente.

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