FIVE

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RMS Titanic, Oceano Atlântico

– 14 de Abril de 1912 –

. . .

O navio colidiu com um iceberg e esse é um fato inegável.

Me demorei em descer da balaustrada, estava atônito e chocado, tive a impressão de que poderia toca-lo caso estendesse a mão. O impacto fora violento, muitas pessoas que a esta hora já estavam adormecidas em seus quartos acabaram por serem acordadas, entre os passageiros que circulavam pelo convés sem entender o que havia acontecido estava a minha noiva.

Eleanor me viu antes que eu a ela. Seus trajes eram de dormir, mas por cima usava um grossos casaco de pelos, o fato dela se jogar em meus braços denunciou que as notícias ainda não haviam chegado para ela.

— Está bem? — Indagou, se afastando para examinar meu rosto e corpo a procura de machucados — O que houve com o seu rosto?

— Entrei numa briga tola. — Dou de ombros, tocando em seu braço — O que faz aqui?

— Estava caminhando quando ouvi um estrondo, o navio tremeu. Foi terrível, sabe o que houve?

A puxo pela mão e seguimos até o convés dianteiro, o lado onde o iceberg colidira, grandes pedaços de gelo estavam espalhados pelo chão. Alguns tolos aristocratas brincavam com eles, fazendo-os de bola e comentando como se não fosse nada demais.

— Meu deus, ele realmente bateu.

Concordo, a soltando para me inclinar sobre o parapeito, tentando ver o dano, mas isso é impossível. Vemos Andrews e Ismay passando apressados em direção a cabine do capitão e meu bom senso grita que preciso avisar minha família.

— Eu devo avisar meus pais sobre o que aconteceu. — Digo e ela se apressa em me acompanhar, tudo parece calmo demais, como se ainda estivéssemos assimilando o que aconteceu.

Um iceberg bateu em nós, como reagir a isso?

Como lidar com a possibilidade de um naufrágio em um navio com mais de dois mil tripulantes e menos de um terço de botes necessários para comporta-los?

Tento não transparecer meu nervosismo apertando a mão da minha noiva que ainda alheia aos últimos acontecimentos me segue fielmente até a cabine de Harry onde sei que estão todos, inclusive Deborah e Philip Calder. Pelas suas expressões a conversa não tem sido muito agradável com meu pai que não faz questão de disfarçar seu descontentamento.

— Estão todos bem? — Ela fala com inocência, sem compreender os olhares de repulsa dirigidos a mim — Aconteceu alguma coisa?

— Acho melhor ir com a sua mãe, Eleanor. — Desprendo nossos dedos indo para junto de meu pai.

— O que está–

Deborah envolve seus ombros protetoramente com o braço, a guiando para fora, ela me olha por cima do ombro e eu tenho a impressão de que essa é a última vez que nos veremos.

Adeus, Eleanor, nós nunca teríamos dado certo, de qualquer forma.

— Conversaremos sobre isso em nossos aposentos, querida.

Meu pai toma mais um gole de seu gim, fuzilando Philip com o olhar ao que o digníssimo cavalheiro diz:

— À partir de agora todos os nossos laços estão rompidos. — E assim segue sua filha e esposa.

— Fodam-se, não precisamos deles. — Cospe com zanga, se dirigindo até o aparador, colocando mais uma dose em seu copo — Aquela garota medíocre nunca esteve a sua altura. Eu tenho visado uma união bem melhor, o que acha da Srta. Swift?

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