Eu Não Quero Ser Herói!

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Vocês podem me chamar de Koji. Eu não gosto de usar o nome da minha família porque tenho medo de ser associado ao meu tio. Afinal, quem é o meu tio?

É imprescindível explicar que ele era um herói muito popular do passado que teve a imagem destruída após uma série de acusações de corrupção. Para resumir, ele foi flagrado recebendo dinheiro para fazer vista grossa diante das ações de algumas organizações criminosas da cidade.

— Preciso que você dê uma olhada na suspensão do carro que chegou hoje — meu pai me disse.

Minha família tem uma oficina e depois da escola eu costumo passar lá para ajudar o meu velho. Essa foi a condição que meus pais puseram para que pudesse adotar mais um cachorro. Esqueci de mencionar, mas eu sou apaixonado por animais, tenho três gatos, dois cachorros e pretendo ter animais mais exóticos quando sair de casa, como um furão, uma cobra e uma coruja.

Eu amo os animais porque eles são puros, não mentem, nem se corrompem, são verdadeiros como a natureza, o completo oposto de nós humanos. Até por isso, eu sonho pelo dia em que ninguém mais vai ter individualidades.

Essas habilidades são perigosas demais para ficar nas mãos das pessoas, toda hora aparecem vilões destruindo a cidade, colocando a vida dos outros em perigo e outras coisas afins, eu clamo pelo dia em que ninguém vai ter super poderes. O mundo vai ficar bem menos violento no dia em que as individualidades acabarem.

Admito que pode soar como a fala de um vilão, no entanto, garanto que eu não sou assim. Enquanto a maioria das pessoas da minha idade desejam ir para as escolas de heróis, eu estou desde criança escondendo a minha individualidade. Nem meus pais, que são as pessoas que mais amo no mundo, sabem dos meus poderes.

— Vamos lá!

Certifiquei-me de que estava sozinho, então usei meus truques para levantar um pouco o veículo e encaixar o macaco. Apesar dos meus amigos acharem chato, eu gosto de mecânica. Colocar a mão na massa, sujar o macacão, deparar-se com um problema e depois a sensação gratificante de resolver aquilo. Prefiro tudo isso do que ter que lidar com as pessoas.

— O que é que temos aqui?

Meu pai tinha saído, provavelmente foi comprar alguma coisa ali perto e me deixou sozinho na oficina, o que até foi legal para mim. Eu posso parecer meio misantropo, mas fazer o quê? Eu adoro ficar sozinho.

Fiquei distraído cumprindo com as minhas obrigações até o instante que escutei o reverberar de um grito estridente vindo ao longe. Notando aquilo, levantei sem urgência para ver o que estava acontecendo na rua.

— Por que esse grito? Aconteceu alguma coisa? — perguntei ao tio do restaurante ao lado.

— Não faço ideia, parece ser uma mulher...

O tio foi interrompido por um tremor repentino. Num mundo livre da doença chamada individualidade, o normal seria pensar que era um terremoto. Como não é esse o caso, prontamente pensamos numa luta entre monstros gigantes ou algo assim.

— Corram!

As pessoas passaram correndo pela rua, fugindo de algo. O ser humano é muito temeroso, por isso ataca antes de ser atacado, por isso trai antes de traído, com grandes poderes nós não temos nenhuma responsabilidade.

— O q-que sã-são vocês? — o tio indagou gaguejando para o trio que vinha pela via.

Tratavam-se de três indivíduos monstruosos, o do meio era um brucutu com duas espécies de brocas no lugar dos antebraços. No lado esquerdo dele, um sujeito alto, esguio e com um aspecto escamoso na pele, andava rindo compulsivamente. Enquanto na direita, um homem loiro e estupidamente musculoso tinha um ar de líder. Além disso, esse último tinha os olhos esbugalhados, seus músculos estavam expostos, como se não houvesse pele, um corpo enorme, desproporcional à cabeça de tamanho normal.

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