Capítulo único

40 1 4
                                    


Último suspiro em gravidade zero

Em meio ao corredor escarlate, banhado em chamas, não se via um braço sequer à frente. As paredes inclinadas, de liga metálica, lutavam para se manter de pé. Só era possível ouvir o som do fogo consumidor e de explosões que aconteciam não muito distante. Um dos focos de fogo se distorceu assim que um vulto passou em um piscar de olhos. Este vulto, decorado de preto, era uma soldado, que passava em uma velocidade sobre-humana pelo corredor.

—Atenção! —gritou ela pelo microfone do seu capacete. —Aqui é a sargento Mayumi Saito. Preciso de extração imediata!

—Feliz em ouvir sua voz, sargento —respondeu uma voz em seu ouvido. —Estou solicitando que um dos transportes que está aí perto execute uma extração. Chegada em 80 segundos. Vocês conseguiram alcançar a ponte da nave?

—Negativo! A infiltração não funcionou. Fomos cercados e tivemos que recuar. Estou enviando agora minha localização. Avise para que me encontrem do lado de fora da nave.

—Sargento, não é recomendado...

—Só faça o que mandei. Estou quase chegando.

Enquanto ainda corria, Mayumi usou a tela em seu braço para ativar um localizador em seu traje. Uma virada no corredor chegou. E ao virar ali, ela encontrou a abertura no casco que buscava. Um grande buraco na diagonal, que vinha do teto e seguia para o chão. Tudo ali estava rasgado. Era a obra do canhão de trilho de um dos artilheiros da frota. Mayumi olhou pela última vez para o corredor do qual veio. Nada havia ali além do fogo. Então seus pés voltaram a correr. Já se preparou, dobrando os joelhos em frente ao buraco no chão, e pulou através do teto. A gravidade artificial já não funcionava ali, o piso que ainda existia estava incapacitado. Com isto, seu pulo virou um lançamento. Seu corpo foi subindo em direção ao espaço. Ela passou por metros e mais metros de metal retorcido, expondo tubulações, outros corredores, salas. Tudo o que deveria estar escondido pela blindagem da nave.

Com uma de suas mãos, ela conseguiu se segurar em uma das vigas expostas logo antes de sair. Os poucos metros que restavam foram escalados cautelosamente. Assim que ela pôde ver o horizonte da nave, Mayumi pôs os pés para fora e girou-se em meio à gravidade zero de forma a colocá-los sobre a nave esverdeada. O traje se responsabilizou por deixar seus pés grudados na blindagem e por dar-lhe o ar que precisava para respirar.

Um momento de calmaria alcançou Mayumi, depois que ela correu tanto. Enquanto ainda recuperava o fôlego, seus olhos se maravilharam com a vista. O planeta azulado, com pinceladas de nuvens brancas preenchia sua visão. Em sua volta, um extenso anel o decorava. Mas quanto mais perto, mais ele desaparecia. A nave estava dentro do próprio. Ao longe se via um ou outro grande asteroide que o compunha. Cada um deles pairava pacificamente, como baleias que populam o oceano. O silêncio foi quebrado quando ela ouviu pelo seu fone que o transporte estava chegando em 10 segundos. Seu olhar então começou a escanear o que tinha à frente. Mas ele surgiu como um meteoro de trás da nave. Um certo julgamento passou pela mente de Mayumi. Aquele transporte, apelidado Hermes, era um tanto grande demais para o resgate de uma única pessoa. Mas sua felicidade por saber que deixaria aquela nave falou mais alto.

Com seus imponentes propulsores, o Hermes girou em direção a Mayumi e desceu até a superfície da nave. Ela quase foi jogada para cima, tamanho foi o tremor que o Hermes causou ao atracar. O fundo que estava virado para ela começou a se abrir. A rampa pela qual normalmente passam tanques ou outro veículos pesados desceu em frente à soldado. Meia dúzia de soldados, com rifles e carabinas à mão, descerem pela rampa. Seus trajes, por mais que também conseguissem prender-los ao chão e prover oxigênio para respirarem, era muito inferior, sendo um tecido que só servia para aquela situação no espaço. Todos apontaram suas armas em volta da nave, buscando ameaças. Um deles então fez um gesto com a mão chamando a sargento para dentro. Todos se dirigiram para dentro do Hermes, seguindo por uma sala de sanitização e pressurização.

Último Suspiro em Gravidade ZeroOnde histórias criam vida. Descubra agora