— Nossa que demora — reclamou Roy.
— É que eu demorei para encontrar as maquiagens — expliquei.
— E por que não comprou qualquer tinta?
— Por que não é qualquer tinta que usa. Essas são próprias para colocar no rosto.
— Pensei que você fosse um vampiro e vampiros não têm irritações na pele.
— É verdade. Ah, eu esqueci. Eu estava tão concentrado no meu plano C que nem pensei nisso. Às vezes sou meio desligado.
— É, percebi. Mas vamos começar logo com isso. Espero que ninguém veja eu maquiando você.
— Eu espero o mesmo. E espero que só a Liz veja o meu plano C também.
Roy começou a me maquiar. Eu já estava com o rosto todo branco, mais branco do que o normal, quando de repente alguém abriu a porta. Olhamos assustados para ver quem era. Era nosso pai.
— O que vocês estão fazendo? — perguntou Robert.
— Nada pai — respondeu Roy escondendo as maquiagens. Robert veio ao meu lado e ficou examinando o meu rosto.
— Isto é maquiagem? — perguntou Robert.
— É o que parece? — perguntei.
— Sim — respondeu Robert.
— Então é maquiagem — admiti.
— Vocês estão virando gays? — perguntou Robert.
— Lógico que não! — respondeu Roy. — O James só quer ser o bobo da corte da Liz. Por isso estou pintando o rosto dele.
— Espero que seja isso mesmo. Pois se vocês dois virassem gay seria uma decepção para mim. Dois filhos gays de uma só vez seria demais. Não tenho nenhum preconceito, mas eu gosto de vocês homens — disse Robert.
— Pare com isso! Nós não estamos virando gays — eu disse.
— Está bem. Eu preciso ir até Miami resolver uns negócios.
Volto dentro de alguns dias. Cuidem bem da sua irmã. — Robert disse para nós dois.
Meu pai tinha acabado de comprar uma empresa de tênis em Miami. Além de chefe de cozinha ele também era um empresário. Estava decidido a abandonar sua carreira de cozinheiro, pois ele estava ficando muito famoso com suas comidas excelentes. Ele tinha que ser discreto, não podia aparecer na imprensa. Apesar de passar todo o seu período de trabalho dentro da cozinha, os repórteres já estavam querendo ficar em seu pé. Ele tinha que sumir de vez deste ramo. Caso ele ficasse famoso como empresário também, ele teria que optar por outro negócio.
— Tudo bem pai, prometo que vou cuidar dela direitinho — eu disse.
— E eu também vou cuidar da minha irmãzinha querida — disse Roy sorrindo.
— Não confio muito em você, Roy. Não duvido nada que você vá querer levar ela em lugares perigosos até para um vampiro. Guarde suas aventuras para você, filho — disse Robert.
— Tudo bem pai. Então a deixe com o Ben, você se orgulha tanto dele, não é? — disse Roy.
— Não é hora de discussões, Roy — disse Robert. — Até mais. Eu amo vocês.
Robert saiu do quarto e deu para escutar ele cochichando com a Liz na sala.
— Não vá à onda do Roy está bem, querida?
Roy continuou me maquiando com a cara fechada.
— Eu não sei por que ele diz isso. Eu jamais levaria a Liz em lugares perigosos. — Roy resmungou zangado.
— Sei lá cara, é que você é meio imprudente.
— Mas ela é minha irmã. Ele não sabe que eu a amo?
— Ele sabe, mas ele tem medo que aconteça alguma coisa com ela. Você sabe se cuidar, mas ela é frágil.
— Eu não a levaria em algum lugar que eu pudesse escapar com vida e ela não. Ninguém entende isso, cara. O Robert só confia em Ben, que faz tudo para defender a família. Eu poderia ser assim também. Na verdade eu acho que ele não dá a mínima pra mim, nunca deu.
— Não fala isso. Ele te ama do mesmo jeito que ama a todos, provavelmente ama você mais do que a mim. Toda vez que você sai ele fica exaltado, pensando que você não vai mais voltar.
— Robert nunca botou fé em mim, isso é o que mais me machuca.
— Então mostre a ele que você é de se colocar fé.
— Não tem como. Ele não me dá chances.
— Se ele não te dá chances. Faça elas você mesmo.
— Será que um dia eu vou ter essa competência?
— Cara. Como você quer que ele coloque fé em você, se nem você mesmo tem fé em ti? Cadê aquele cara perseverante que eu conheço? Vou te contar uma coisa Roy... Há dias atrás eu me achava um lixo; não me sentia bom o suficiente, não me sentia seguro comigo mesmo. E Ben sempre reforçou isso. Porém, fiz algo que nao esperava, que eu nao podia imaginar que conseguiria, e foi sem querer. A partir daí, percebi que tudo está relacionado a mente. Se você acha que você não é bom, provavelmente não será; você precisa primeiro confiar em si mesmo para então as coisas começarem a mudar.
— Você tem razão. Eu não sou assim. Um dia o Robert vai ter orgulho de mim do mesmo jeito que tem do Ben — Roy disse jubiloso.
— Agora sim eu senti firmeza.
— Terminei — Roy disse colocando um espelho em frente ao meu rosto. Eu estava idêntico a um palhaço.
— Bom trabalho. Vou ficar te devendo uma — eu disse. — Agora eu só preciso saber como eu vou fazer as palhaçadas.
— Eu posso te ajudar.
— Então vou ficar te devendo duas — eu disse rindo.
— Observe e aprenda com o mestre — Roy disse sorrindo.
Roy pegou três bolinhas de tênis que estavam em cima do guarda-roupa e começou a fazer malabarismo, jogou todas para cima e as deixou caírem em sua cabeça. Deu cambalhotas, e fez várias palhaçadas.
— Cara, onde aprendeu tudo isso? — perguntei.
— Fiz aulas num circo perto de onde nós morávamos antes. Acha que pode fazer igual a mim?
— Eu acho que posso. Mas não vou treinar. Se eu errar, quero errar na frente dela, isso ajudaria a ser mais engraçado.
— Tudo bem. Vai lá então.
Fui até o meu quarto, onde eu tinha deixado o meu uniforme espalhafatoso. Vesti-o e fui até o jardim, onde Liz estava.
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Entre Nossas Diferenças
Vampiros"Uma metamorfose. Mudança de forma e estrutura, pela qual passam certos animais, como a borboleta. De certa forma, já passei por uma também." James, um jovem rapaz alto e de longos cabelos loiros, ao se ver numa situação em que sua vida é mudada r...