único

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enfim, a história foi escrita a partir de uma ideia que tive enquanto escutava Show Me How - Men I Trust.
é isso.


1992 - Dinamarca

Frio.

Meu corpo tremia de frio cada vez que os ventos gelados da Dinamarca balançavam meu cachos, arrepiando até minha alma. Era início de inverno por aqui, um dos mais severos que eu já havia conhecido, não sabia como as pessoas daqui conseguiam aguentar e viver com essa temperatura. Estendi minhas mãos no ar quando vi o primeiro floco de neve atingir o solo. Eu odiava o frio, mas achava lindo a neve e aquilo que ela trazia, tão branca, tão branda e aconchegante, não ao toque, mas às memórias. Ela me trazia à mente, o sentimento de ver meu garoto dinamarquês, bom, nem meu e, agora, nem mais garoto e, sim, um homem, mas mesmo que o tempo tivesse passado, ele envelhecido e os tivessem mudado, aquele sentimento que me aquece nos dias frio, nunca passou. Nunca passaria, nem que eu tentasse esquecer de como suas bochechas estavam vermelhas, assim como a ponta de seu nariz arrebitado, naquela madrugada. Nunca esqueceria dos seus lábios frios e ressecados que eu fiz questão de molhar com os meus, numa tentativa de aquecê-los. Nunca esqueceria daquilo, tanto que neste exato momento, me pego lembrando daquela madrugada gelada em que nos beijamos, sentados em uma banco, enquanto, a neve caía sobre nossas cabeças.

Numa tentativa de desfocar dessas lembranças, voltei ao mundo real, envolvendo-me ainda mais com meus braços, tentando me aquecer. Não tinha a menor ideia de que horas eram, havia acabado de sair de dentro daquele bar onde o resto da banda estava festejando, pós show. Eu deveria estar lá dentro com eles, "aproveitando a vida", bebendo até esquecer meu nome, cheirando diversas carreiras de cocaína e rodeado de mulheres bonitas que adorariam acabar na cama do meu quarto de hotel. Mas eu não conseguia estar no mesmo ambiente que ele, não suportava olhá-lo com um sorriso embriagado no rosto, aquele sorriso aberto que mostrava seus dentes branquinhos e deixava suas bochechas ainda mais beijáveis. Eramos melhores amigos a tanto tempo, tocávamos na mesma banda a tanto tempo, mas era impossível não morrer de amores por ele, muito além do sentido amigável da palavra amor, ainda mais, depois daquela madrugada fria de 85.

Mais um sopro daquele vento veio congelar meus pensamentos e eu não conseguia me lembrar de quem foi a maldita ideia de fazer um show na porcaria da Dinamarca. Porém, nem meio segundo depois de meu pensamento, vejo o desgraçado - lindo - que tanto insistiu para esse show acontecer nesse inferno, gelado mas continuava sendo o inferno e ele era um desgraçado, mas continuava sendo lindo.

- Mas que caralhos você tá fazendo aqui fora? - o sotaque daquele dinamarquês baixinho invadiu meus ouvidos, ele andava engraçado, cambaleando um pouco e sorria de maneira descontraída.

- Estou pegando um ar e pensando um pouco. - respondi lhe lançando um sorriso fraco.

- Que ideia, hein, você vai congelar aqui, por que não entra e vem se divertir com a gente? - se aproximou colocando uma de suas mãos em meu ombro, tentando se apoiar em mim, me arrepiei com o toque.

- Eu não estou muito afim, acho que vou pegar um táxi e ir direto para o hotel, estou cansado. - respondi de cabeça baixa enquanto fingia prestar atenção em minhas botas, agora cobertas por uma camada fina de neve.

- O que você tem, hein? - disparou, aumentando o som da voz - Já é a quinta vez só esse mês que você evita estar no mesmo ambiente que eu. Você acha que eu sou burro? Tem algo acontecendo e você vai me contar agora.

- Lars, a bebida está te deixando alterado, você está imaginando coisas. - respondi ainda evitando seus olhos verdes que agora me fuzilavam.

- Ah, puta merda, Kirk! Eu estou mais sóbrio do que você imagina. - ele não estava não - Qual foi, cara? A gente precisa tirar isso a limpo agora, James já percebeu que ta esquisito e se ele percebeu, é porque tá na cara.

show me how - a klars oneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora