Capítulo 3

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Mon recostou-se na porta pela qual Sam acabara de sair, e esforçou-se para entender tudo que acabara de acontecer.

Ela a botara para fora. Olhou o celular na própria mão, sem acreditar que, justamente quando estavam começando a ter uma conversa que parecia ser de igual para igual, Sam a pedira para programar o aparelho, exatamente como ela fizera com tantos outros quando trabalhara para Sam e, depois, ela pedira — não, mandara — que Sam fosse embora. O mais impressionante foi o fato de que Sam a obedecera. Sem dizer uma palavra sequer.

Nem mesmo de despedida.

A questão era que Mon assumira o comando da situação. O fato de ter havido alguns momentos estranhos durante a conversa não diminuía o tamanho de sua conquista.

Mas o que exatamente estava por detrás daqueles momentos estranhos? Houve momentos durante a conversa em que Sam a fitara quase como se ela fosse outra pessoa, uma pessoa que a morena não conhecia direito, uma pessoa com quem não se sentia inteiramente à vontade. Uma pessoa de quem Sam não sabia se gostava. Fora... estranho. E a resposta dela também fora estranha. Subitamente a estava vendo de um modo diferente do que quando trabalhara para ela. Ou pelo menos de um jeito no qual jamais se permitira pensar quando trabalhara para Sam.

Agora, permitia-se pensar a respeito disso.

No dia em que Sam anunciara seu noivado com Rebecca, Mon se surpreendera com a própria reação. E naquele dia se dera conta de que seus sentimentos pela chefe talvez fossem um pouco além do âmbito profissional. Embora jamais tivesse ligado para as inúmeras mulheres que entravam e saíam da vida de Sam —justamente pelo fato de sempre entrarem e saírem —, quando a morena fez menção de entrar em uma união permanente com outra mulher, Mon sentiu-se um pouco...

Bem, estranha.

A princípio, convenceu-se de que era apenas decepção por ver uma mulher tão inteligente arrumar para si mesmo um casamento de conveniência. Depois, colocou a culpa nas inúmeras coisas que Sam queria que ela arrumasse para o casamento. Na verdade, depois que Sam anunciou o seu casamento, Mon foi tomada de vários sentimentos: negação, seguida de raiva, negociação, depressão...

Alto lá, pensou Mon. Esses são os estágios da perda. E ela não podia ter passado por isso. Não estava tão encantada assim com a chefe.

Contudo, no final, fora forçada a admitir a verdade. Que talvez, possivelmente, desenvolvera... sentimentos... pela sua chefe. Sentimentos de... Ela fechou os olhos bem apertados, e forçou-se a encarar a realidade. Sentimentos de... afeição.

A aceitação de tais sentimentos, sentimentos que não tinha o direito de ter, fora o que determinara sua decisão de deixar a empresa. Mesmo após o noivado ter sido desfeito, ela sabia que precisava partir. Não podia correr o risco de se apaixonar por Sam, porque a morena jamais teria outro interesse por ela que não profissional. Sam não ligava para ninguém de outro modo que não fosse profissional. A oferta de Nita DeGallo não poderia ter chegado em melhor hora. Ela fizera a coisa certa ao deixar Sam. Ou melhor, Mon tratou rapidamente de se corrigir, de deixar de trabalhar para Sam.

Só torcia para que também houvesse feito a coisa certa ao aceitar trabalhar para Nita DeGallo.

Que chalé, pensou Sam ao parar o carro diante do que parecia mais ser um hotel de luxo do que uma residência particular. Se não fosse pelo fato de já ter estado lá antes — três meses antes, durante a estadia de sua irmã, Freen — teria dúvidas quanto a estar no lugar certo. Desligando o motor, desceu do carro, pegou sua bolsa de couro e seguiu para a entrada, onde a zeladora a aguardava.

— Suponho que seja Mary — Sam disse à moça loura, cujo cabelo estava preso para trás, em um rabo de cavalo. — Desculpe o atraso.

Sam notou que a moça parecera um pouco desapontada ao vê-la, como se estivesse pensando que ela fosse outra pessoa.

O Despertar do Amor  - AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora