Parte I: O Cálice de Sangue - Capítulo I

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Seria uma daquelas longas aulas sobre o valor de governar e as responsabilidades que eram implicadas aos bons líderes, tentava manter o foco, mas achava tanta teoria tediosa. Era bom em muitas coisas mas diplomacia definitivamente não era uma delas, havia uma destreza e um certo fundo de falsidade nessas relações e na sutileza necessária para sobreviver no mundo político.

Definitivamente não nasceu para ser sutil com tamanho poder como poderia?
Desde o dia de seu nascimento há quase 20 anos os rumores se espalharam de Phythian até os mares profundos de Hybern, diziam-se que até as estrelas mais distantes dançaram com a sua vinda a esse mundo. Mesmo com tais afirmações não sabia se realmente era digno de tais expectativas, possuía poder mas não a experiência real de combate

— Eu estou falando com você Nyx Archeron

Recobrou a atenção para a voz grave e imponente de seu pai que se mantia em uma expressão ilegível enquanto apontava o dedo para o mapa perguntando se havia entendido acerca da situação e as obrigações que teria que cumprir enquanto atendia o baile do dia da memória, que comemorava o fim do conflito, rapidamente respondeu enquanto se ajeitava na cadeira de couro da boa e velha biblioteca

—Dia da memória celebra o fim da guerra e a coalizão com as terras humanas, sendo um marco para nossa corte...

—Boa tentativa mas essa não era a pergunta...Olha eu entendo como pode ser tedioso para você mas tenha o mínimo de esforço e respeito se não por mim pela sua mãe e tias, elas nasceram nessas terras.

— Como é sua primeira missão diplomática, você estará na companhia de Mor, mas saiba que a responsabilidade é sua.

Engoliu o nó na garganta e seguiu a seus aposentos para encontrar suas malas já feitas pela sua tia Elain e assim quando o primeiro raio de sol cruzou as montanhas partiu rumo às terras mortais.
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Só mais cinco trabalhos repetiu para si mesma enquanto caminhava em direção a sala fria no final do longo corredor de mármore onde sua ''senhora'', um eufemismo para mulher que a comprou e a marcou como gado, não era a única a guilda crescia cada vez mais já que o numero de dividas e a fome assolavam diversas partes daquela terra, e famílias com muitas bocas pra alimentar e prostitutas e seus bastardos...tinha olhos em todo lugar desde os pedintes até alguns empregados de casas nobre todos eram seus funcionários ou melhor escravos.

Contou os passos e respirou fundo ao tocar a gelada maçaneta.
— Pode entrar docinho 

Disse Lady Miséria, uma bela mulher de meia idade, cabelos pretos sempre bem cuidados em um coque, olhos e pele tão gélidos como os letais venenos que fizeram a sua fama pelo continente

Analisava cuidadosamente a carta em suas mãos com o selo qual a jovem feérica não o reconheceu, antes mesmo de soltar qualquer som ou indagar sobre a carta em suas mãos a maior senhora de escravos do continente disse:

— Aparentemente você está ficando famosa docinho

Disse com um sorriso de escárnio em seus lábios

—Recebi essa carta há quatro dias atrás com um suposto serviço para você ''vossa alteza''

A loira tentou não revirar os olhos ao ouvir o termo, muitos na cidadela chamavam assim, uma piada de mal gosto já que havia poucos feéricos no outro lado da muralha, aqueles que existiam eram tratados como reis e rainhas pelas famílias ricas. Já ela foi vendida como gado de mão em mão até parar no circo e logo depois para Guilda.

— Alguma informação sobre o contratante?

Disse enquanto tentava manter a voz firme e um olhar impassivo, para disfarçar a curiosidade já que um contrato livre era difícil de se encontra pois praticamente metade do mundo criminal do continente conhecido devia algo a Lady Veneno, seja qual for o contratante isso significava que os lucros iriam inteiramente para o seu bolso, oque significava a compra de sua liberdade

—Nada importante o suficiente para que seja passado a você 

Disse enquanto repassava o envelope já previamente aberto, não poderia deixar de notar a estranheza das letras escritas que pareciam ter sido escrita com algum tipo de tinta fosca acobreada que continha as seguintes frases diziam

''Minha prezada feérica venho por meio desta carta formalizar a minha proposta, um furto de porte grande na região baixa das terras humanas no castelo de uma rainha amaldiçoada por aquele que nos criou...

O valor total dessa transação será de 800.000 dracmas para maiores informações encontre-me antes do amanhecer na mesa final da taverna embaixo ao relógio da cidadela

Dobrou de volta a carta no envelope carmesim, enquanto mantém a sua expressão o impassível, após um longo suspiro disse em um tom condescendente:

—Isso é tudo minha senhora?

Após a mulher assentiu virou-se e caminhou em direção a fria maçaneta e ao cruzar os corredores da fortaleza não poderia deixar de expressar o sorriso de satisfação ao ler a quantidade de zeros no salário da proposta recebida, oitocentos mil dracmas, essa era a quantia ideal para conseguir pagar a sua liberdade e até mesmo negociar uma passagem para terras mais longínquas do continente, onde poderia viver os próximos séculos deitada em uma campina com o sol contra sua face podendo assim encontrar a paz
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O jovem príncipe ajeitou o colarinho de cetim lilás e, logo após isso as mangas de seda branca,o poderoso herdeiro da temida Corte noturna tinha um fraco por moda. Após 5 dias de viagem esse era o mínimo que poderia oferecer ao mundo era a melhor versão de si mesmo.
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O misterioso contratante certamente tinha um senso de humor, a mesma equipe de 8 anos atrás, provavelmente não sabia das altercações e discussões que haviam separado o trio, mas apesar da relação turbulenta do trio ainda eram o melhor que a Guilda tinha a oferecer.
Uma falsificadora nata, Um grande estrategista e A metamorfa.

Foi uma viagem relativamente fácil graças ao planejamento de Jon se infiltraram facilmente entre os itinerantes contratados para o baile. Graças a alguns acidentes de última hora: 

Uma empregada doente 

Um cocheiro desaparecido 

E o acrobata que misteriosamente quebrou ambas as pernas durante o treino.

Papéis perfeitos para Anya.Jon e Eden.
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A festa estava esplêndida, apesar do péssimo serviço de bebidas, e o príncipe da corte noturna estava mortalmente entediado. Mor estava conversando com uma espécie de emissário e já que todos estavam aparentemente distraídos com a música, dança e bebidas seria fácil ''dar uma voltinha''... foi aí que sentiu aquele aroma...aquele doce aroma de baunilha e lírios.
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Era de fato um belo collant apesar de ser desconfortável, camada de tecido em um tom de prata com alguns cristais que imitavam diamantes, estava com as pernas praticamente nuas cobertas por uma fina, o cabelo longo e loiro preso em um coque com alguns cachos soltos. Se tudo estivesse indo de acordo com o planejado Anya e Jon já haviam quebrado a combinação e roubado o tesouro mais idiota de todos: Um cálice

Já tinha realizado pedidos de objetos incomuns ao ao longo dos anos mas uma taça chique era a coisa mais estranha, mas eram oitocentos mil dracmas então quando a criatura de capa a ofereceu o trabalho aceitou sem recusar ou fazer muitas perguntas

Era uma bela distração, atraía olhares que não viam nada além de um corpo a ser desejado, riu para si mesma pensando como esses riquinhos de merda não faziam ideia do que os aguardava.
E foi aí que se assustou com a mão gelada em seu ombro dizendo
–Para onde acha que vai minha querida?
Aqueles belos olhos da noite na cabana há oito anos... Aquele malditos olhos

Corte de Serpentes e Anoiteceres Onde histórias criam vida. Descubra agora