Capítulo único

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As gotas tamborilavam no teto. O clima frio refrescava o interior do quarto de forma silenciosa. O ventilador tinha sido desligado assim que a chuva amena começou. Alguns picos foram bem altos, ao ponto de Midoriya pensar que o telhado podia se partir e o quintal se alagar a ponto de virar uma lagoa, nesses momentos, se encolheu no sofá e respirou fundo, esperando um tempo até se acalmar e voltar para as atividades no notebook. Não fazia muito tempo desde que abandonou os trabalhos no eletrônico e deitou na cama – lê-se: obrigado a fazê-lo –. Bakugo não estava gostando de ver o esverdeado encolhido no sofá abraçando as almofadas. Ora, pra que almofadas se ele estava ali? Usou a famigerada desculpa "o barulho das teclas me irrita" para arrastar o namorado do sofá até o quarto, onde teve que aguentar os seus resmungos conforme o deitava na cama. Ele pestanejou, disse que tinha de voltar para terminar o trabalho e reclamou de ter saído de lá, mas como nem ao menos se moveu para tentar sair do agarro, Bakugo bem sabia que ele mesmo nem queria voltar para a sala. Não que o loiro fosse deixar, de qualquer forma.

O menor se afundou no colchão, debaixo das cobertas quentinhas, prometendo a si mesmo de que terminaria todas as tarefas pendentes no dia seguinte. Isso se Katsuki não intervisse novamente. Não era a primeira vez que o loiro aparecia sorrateiramente e o surrupiava das tarefas. Mesmo que sempre usasse desculpas como: o barulho alto, os murmúrios irritantes e a luz da tela do notebook o atrapalhando, Midoriya sabia que não passavam de frases que no fim só tinham um significado em comum "eu quero sua atenção". Como sabia? Não, ele não se tocou disso, Izuku nunca foi muito esperto quando se trata de sentimentos. Bakugo tinha lhe dito. Assim, abertamente, em uma noite de sexta depois de terem bebido muito. Os dois se lembravam bem, mas Izuku fingia não saber porque caso contrário poderia levar um soco. Mas algum dia poderia usar essa informação contra Katsuki. É, algum dia.

- Porque você tá tremendo? – Perguntou, assim que terminou de deitar na cama, puxando as cobertas para cima de si.

- Nada. – Suspirou abatido – Apenas frio.

- Hum. – Bakugo continuou encarando o companheiro de lado.

- Kacchan?

-...

Vendo que não tinha lhe respondido e apenas o encarava fixamente, Midoriya o chamou de novo:

- Ei. Kacchan?

- Que foi porra?!

Midoriya girou as orbes para o lado, um pingo de vergonha tomando as bochechas.

- Eu tô com frio.

- Eu não controlo o clima. – Murmurou, e apesar da resposta, deslizou debaixo da coberta, aproximando os corpos.

- Agora sim, quentinho. – Midoriya comentou alegre, passando os braços pelo pescoço de Bakugo e se aninhando em seu peito.

A chuva aumentou o fluxo e agora ricocheteava atrás das paredes e acima do telhado, mas Midoriya nem a tinha percebido. Ter Kacchan ali o abraçando e beijando o topo de sua cabeça o fazia se esquecer de todo o mundo lá fora. Ainda teriam tarefas na manhã seguinte, e segundo o jornal, ainda mais chuva. Teria frio, e futuramente haveriam tempestades. Mas Katsuki estava ali para qualquer um desses eventos. Ele lhe tiraria do sofá e arrastaria para a cama, trocariam as famigeradas carícias e beijos para então dormirem abraçados juntos. Isso quase fazia Midoriya ansiar por mais dias tempestuosos. Não havia nada melhor que ter seu amado por perto. E claro, não era nada ruim para Bakugo mimar o garoto desse jeito, ele até gostava e muito, mesmo que não fosse admitir em voz alta.

- Legal. Agora cala a boca e dorme. – Riu, quase se entregando ao sono, mas sem deixar que a mão quente bagunçasse os fios ondulados do ser encolhido em seus braços.

- Sim, senhor.

Apenas frioOnde histórias criam vida. Descubra agora