Desconforto

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— Midoriya?

— Não, o Bakugou — Izuku o olhou entediado. — Óbvio que sou eu. Pergunta idiota de se fazer para quem está bem a sua frente.

— Sem implicância na minha presença — Rei mandou e os dois garotos pararam.

— Vocês se conhecem? Desde quando? — Shoto olhou para os dois que se entre-olharam.

— Estamos internamos na mesma porra de um hospital psiquiátrico — Izuku dizia com um sorriso sem graça, Rei o olhou em desaprovação por que conta do palavrão — Desculpe. Estamos internados no mesmo hospital psiquiátrico, e como a Rei parecia a única pessoa boa da cabeça, eu fui socializar com ela. Sabe que eu não sei ficar quieto, ainda mais agora que percebi que sua mãe tem até uma cama melhor que a minha.

Izuku desviou o olhar pensando na sua última escolha de palavras.

— Desde quando se conhecem? — Shoto perguntou vendo Rei voltar a se sentar e Izuku apenas encostou na parede ali.

— Não lembro o dia exato, sei que tinha chegado os resultados dos testes. Desde então eu venho tendo a companhia desta bela mulher.

— Ele me contava como você estava — Rei revelou num suspiro — Ele me contou sobre o festival, não só o que apareceu na TV. Tenho que dizer, ver você pessoalmente é bem melhor do que por uma tela.

— Mas e aí, sua mãe disse que estava falando de mim. Vai, continua, quero ouvir também.

— Bem, eu... Eu estava falando sobre nossa luta no festival, que você me fez usar as chamas e ficou parado olhando.

— Sabe, Shouchan, acho que esqueceu de falar que depois de olhar eu ganhei sem esforço — Izuku tinha um sorriso convencido no rosto — Mas entendi o que você quis dizer.

— Shouchan, Izuku? — Rei continha um semblante confuso. Chegava a ser assustador o quão era parecido com o semblante de Shoto — Pelo que eu soube vocês não eram tão próximos. Por que o apelido, então?

— Esqueceu de contar para ela que eu te dei um apelido no dia que nos conhecemos? Como você pode falar de mim e não falar de todas as minhas tentativas de amizade?

— Você também não contou para ela — Shoto retrucou.

— Não importa. Eu não iria falar para sua mãe o quão grosso e frio você é com nossos colegas.

— Meu filho, você não trata seus colegas bem? Deveria, nunca se sabe quando você vai precisar de um ombro amigo — Rei suspirou — Sei que não estou em posição de pedir ou mandar você fazer algo, mas vou pedir que você seja mais gentil com seus colegas, não sociável como o Izuku, mas gentil. Está bem?

Rei olhava para o filho, verdadeiramente terno, pegando na sua mão, Izuku observava tudo com atenção. Pensava em todas as vezes que sua mãe lhe dizia palavras gentis, mas nada se comparava com aquele olhar, nada foi tão significativo. Percebeu. Nunca teve um olhar tão verdadeiro e gentil como aquele direcionado a si.

— Ah, quase me esqueço. Eu tenho uma sessão hoje, o Eraser já deve estar chegando. Com licença, depois nós conversamos — Izuku foi rápido em se retirar da sala.

— Até depois, Izuku — a mulher sorriu em sua direção, Midoriya retribuiu, olhando para Shoto em seguida.

Suspirou assim que fechou a porta. Não tinha sessão nenhuma, só precisava sair dali. Começou a dar passos lentos de volta ao seu quarto.

Os momentos que sua mãe era gentil consigo... eram memórias que pareciam tão irrelevantes, porque nada parecia realmente verdadeiro, o porquê dele sempre ir atrás de sua mãe... Momentos que conseguisse recordar sem esforço. Momentos aos quais lembrasse de repente por conta de alguma semelhança que a vida lhe daria. Não tinha nada disso. Suas memórias poderiam se resumir em treinos e em momentos desagradáveis. As coisas boas que se recordava consistiam em momentos com seu pai ou com seus amigos, nunca, e muito menos, com sua mãe ou seu dito irmão.

Minha SalvaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora