07.

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   — NÓS CHEGAMOS?

— Não é sendo chato, mas você já me perguntou a mesma coisa agora pouco. - Ele falou farto e eu grunhi, recebendo uma cara de surpresa. — Dona, não se preocupe. - Eu ri de seu rosto com sobrancelhas levantadas e boca aberta de surpresa e indignação.

— Me desculpe. - Seu rosto se suavizou e eu sorri — Chegamos? - Eu perguntei novamente só para irritá-lo e desta vez foi ele quem rosnou. Falsamente assustado, levei a mão à boca, olhando-o com fingida surpresa. — Cavalheiro, que selvagem! - Ri alto na cara dele como uma mulher escandalosa sem medo de chamar a atenção.

Há muito havíamos passado pela praça e atrevo-me a dizer que estávamos um pouco afastados de qualquer aglomeração de pessoas. A raiva pela brincadeira apareceu em seu rosto.

— Você é uma pessoa muito... - Ele começou, baixando um pouco a voz sem terminar a frase — muito... - parou, negando antes de exalar — não importa.

— Sou muito o quê? - Eu o desafiei, divertida, a falar, inclinando-me um pouco mais perto de seu rosto para ver melhor sua careta furiosa. — Vamos, cavalheiro. Conte-me, o que sou?

Observei-o respirar fundo e fechar os olhos com as orelhas brilhando escarlate.

— Não vale a pena - Ele simplesmente disse e deu um sorriso torto, convencendo-se e retomando a caminhada.

Eu ri, guardando em algum momento em minha memória que o irritava ser provocado e só acontece que parece ser um bom hobby para mim.

Endireitei as costas ao sentir o espartilho me incomodando e retomei minha caminhada ao lado dele, olhando-o divertido com os braços atrás das costas. Estávamos andando não sei quanto tempo e eu já estava ficando cansada. Se ao menos ele pudesse chamar um táxi ou algo assim...

— Você tem cavalos? - perguntei me distraindo com o canto de alguns pássaros ao longe. Parecia um sonho bobo de garotas que acreditavam em contos de fadas, sério.

— Eles estão no estábulo. - Eu o ouvi dizer — Não fale comigo informalmente - Sorri porque ele percebeu o jeito que eu estava falando com ele. — Sua família tem?

Eu ri distraído observando as folhas das árvores se moverem, mas atento o suficiente para ele acenar com a cabeça.

— Embora te surpreenda porque não tenho vacas, meu tio me deu um cavalo quando eu era criança. - Sorri com a lembrança de meus pais sentados sob a mangueira na fazenda do meu tio, assistindo no conforto da sombra, pois sempre tentei montar no cavalo e olhá-lo sempre que podia.

Desde a morte da minha mãe, muitas coisas mudaram. Papai e eu nos afastamos da família da mamãe porque eles culparam meu pai e, para ser sincero, não me parece justo. Papai era apenas um homem que havia perdido a esposa para um tumor e teria que cuidar de uma menina. Ela não recebeu nenhum apoio ou ajuda da família de mamãe, apenas olhares desconfiados e punitivos.

Eu não entendia antes, mas papai estava pagando um preço que não era devido a ele. Eu estava pagando por amar muito, por amar acima das regras e regulamentos. E é isso, logo entendi que ninguém deve envolver sua vida privada com sua vida profissional.

Papai cometeu o erro de exigir que mamãe operasse a pedido dela e quando houve uma falha mínima no processo, a pressão e a imagem errada de um futuro sem ela o levou ao desespero em plena sala de cirurgia.

Claramente não terminou bem.

— Senhorita Madeleine, chegamos. - Ele sussurrou para um lado e eu observei para onde ele apontava. Uma grande muralha se erguia diante de meus olhos, imponente e cercada por guardas. Muito diferente da pequena parede que ele tinha visto na noite anterior.

𝐒𝐊𝐘. lee minhoOnde histórias criam vida. Descubra agora