Capítulo 1: Vindo do céu

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Dentro da redoma de vidro, eu contemplava a magnificência do crepúsculo, com milhares de estrelas brilhando no céu escuro-azulado. De repente, escutei passos se aproximando e a grama onde estava sentado começou a se agitar.

Fui interrompido por uma voz descontrolada gritando meu nome. De bruços, vi uma jovem correndo em minha direção, vestindo uma camisa branca e um moletom verde combinando com suas calças pretas. Ela segurava um livro de capa dura marrom e páginas amareladas contra o peito.

— Ei, Eli, eu achei esse livro com o Higgs. Ele diz que é a história de um planeta onde as pessoas viviam juntas.

— Você sabe que o Higgs inventa tudo, não é? — respondi enquanto ela jogava o livro em minha direção com leveza. Em seguida, sentou-se na grama e continuou: — Se o Higgs inventou ou não, não me interessa. Só quero saber mais sobre como eram as pessoas do passado.

Soltei um suspiro, sentindo a animação em sua voz. Era como se cortasse a sensação de desânimo ao ouvir sobre o passado. Afinal, o passado é uma fonte inesgotável de inspiração e conhecimento.

Megan folheava as páginas do livro, com os olhos brilhando de encantamento. Ela sorria em cada ilustração e sentia a pele arrepiar com cada registro ali marcado.

— Olha só, é incrível! No passado, as pessoas viviam juntas em um único planeta, morando em grandes cidades feitas de luz e aço ou mesmo em florestas coloridas. Não acha isso incrível, Eli?

Levantei-me da grama e dei um sonoro bocejo, que ecoou pelo campo. Rapidamente, limpei a sujeira que se agarrava às minhas roupas.

— Seja como era esse planeta e seus habitantes, eles eram provavelmente tão chatos quanto os supervisores.

— Para onde você vai? — Ela me olhou com curiosidade e uma voz infantil.

— Vou para casa. Senão, em breve, os robôs estarão aqui me irritando. Você deveria vir também.

Com um sorriso infantil, ela respondeu: — Eu posso convencê-los com minha fofura, relaxa.

Com um sorriso irônico, segui para casa, caminhando pelo gramado, mas senti uma pressão no peito ao ver uma pequena vila ao longe. As construções brilhavam com suas redomas brancas e ouvia risos e conversas alegres vindos de lá. A vila parecia ser um lugar de felicidade perfeita.

Os livros que o Higgs sempre entregava para Megan, mesmo sendo infantis, ainda conseguiam trazer uma pequena ponta de esperança para mim. No entanto, eu mantinha essa esperança guardada profundamente, pois o menor erro poderia me destruir completamente.

Ao chegar na vila, caminhei pelas ruas brilhantes e agitadas, cheias de sorrisos falsos. Ao me aproximar de casa, vi três rapazes e uma garota. O primeiro a se aproximar foi um punk magro com um piercing na testa, chamado Todd, mas prefere ser conhecido como Keyffer.

— E aí, Ty, o nerd idiota de volta. Onde você esteve, nerd? — perguntou ele com uma voz louca.

— Eu estava com Megan e, se não me engano, não é da sua conta. — respondi.

Mas, antes que eu pudesse me defender, Todd me atacou, arremessando meu corpo ao chão com socos na camisa. Tentei me controlar, mas os rapazes continuaram a me atacar, jogando sapatos e xingamentos em minha direção.

—Deixa esse otário ai Keyffer, vamos dar o fora dessa merda de vila—Todd se uniu ao líder daquele Grupo. Enquanto eu ainda sentia a dor que vagava sobre minha pele, Tyson exclamou:

—Eu não entendo porque idealista como você ainda tem esperança.

Vislumbrando em agonia o desaparecimento de Tyson e sua turma, eu me ergui do chão e entrei em meu falso lar com a mão sob o peito. Indo lentamente ao sofá, meu ser tombou sobre o móvel e, envolto na calmaria de meus pensamentos, adormeci.

Minha consciência foi consumida por calmaria. Era como se uma borboleta tivesse voado por minhas memórias, pousando em uma lembrança de chamas, gritos e lágrimas.

Ainda me recordo daquele dia. Meu antigo lar estava cheio de adultos sem qualquer outra criança. O sol, mesmo que falso, era caloroso, infantil e puro. No entanto, essa pureza foi tirada de mim naquele dia.

Em meu próprio aniversário, eu e minha mãe nos escondemos na floresta. Ainda sinto as lágrimas dela escorrendo sobre minha pele. Na ocasião, eu estava com medo, confuso, questionando por que eu e ela estávamos escondidos.

Só fui entender seu objetivo minutos depois. Com uma face sem vida, eles nos encerraram. Seus olhares avermelhados eram como monstros e suas mãos puxaram meu braço, afastando meu corpo do de minha mãe.

Ela lutou. Ela levou consigo uma faca de cortar bolo e atacou. Ainda sinto sua respiração ofegante e seus gritos pedindo ajuda, mas não pude ouvi-los por muito tempo.

A última coisa que ouvi foi um tiro. A última coisa que vi foi seu corpo caindo no chão. O último aroma que senti foi o de seu corpo carbonizado.

Tudo isso volta à minha mente de forma abrupta e sombria, acordando-me em instantes. Como fogos de artifício, um brilho diferente de uma estrela surgiu no céu, despertando-me. Pela janela, vi esse brilho atingir uma redoma e estilhaçá-la.

Quando percebi que esse brilho desconhecido havia pousado perto de onde Megan estava, esqueci do horário e corri noite adentro em direção a ela. Só havia

 duas coisas passando na minha mente: primeiro, esperar que o que tivesse caído não tivesse ferido Megan, e segundo, que algo emocionante e diferente estaria finalmente próximo de mim.

Com os pés pisando na grama, suando, cheguei ao brilho. Megan estava ali, parada na frente de uma enorme cratera. De dentro da cratera, expelindo fumaça, havia uma nave com seus destroços espalhados por toda a área.

Um homem saiu da nave, vestindo uma regata branco-gelo e um casaco branco com detalhes vermelhos. Ele usava calças jeans e sapatos brancos também com detalhes vermelhos que faziam barulho ao tocar no aço. Com olhos bem puxados, ele parecia cansado, e seu cabelo branco estava quase completamente coberto por um gorro cinza.

— Ei, senhor, tudo bem? — perguntou Megan, se aproximando vagarosamente. As mãos do homem mergulharam em seu casaco e ele retirou uma peça de metal com uma ponta e um gatilho. Seu polegar puxou uma trava enquanto seu indicador se posicionava no gatilho.

Um arrepio percorreu minha espinha, meus pelos se ergueram como trigo na plantação, algo estava errado. Foi assim que eu saltei na frente de Megan, jogando os dois no chão de terra. Dois sons foram ouvidos no momento: um trovão ou algo semelhante a um trovão, e um choro, um sopro de vida.

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