Passamos a viagem toda conversando sobre inúmeras coisas, Vitória foi aos poucos se acomodando mais em meu colo e eu tentando não ficar tão vermelha de pura timidez. Ao longo de nossas risadas e assuntos, descobrimos vários gostos uma da outra e acho que agora sim podemos nos considerar amigas pelo menos. Uma das descobertas que tive, foi que Vitória veio da Bahia mas que consegue esconder o seu sotaque tão bem que facilmente eu poderia confundir ela com uma Curitibana, mesmo eu sendo completamente rendida por sotaque baiano e poderia ser capaz de implorar para Vi falar só com sotaque pra mim. Chegamos ao ponto de chamarmos uma a outra com apelidos, eu a chamo de Vi e ela me chama de Cê.
O que quarenta minutos em um ônibus não faz com as pessoas, né?
Dividimos gostos musicais tendo ambas um gosto muito parecido, a única coisa é que eu sou uma leitora nata que devora livros a cada mês e sofre de ressaca literária, mas Vi não é muito ligada a isso. "Não quer dizer que eu não goste, eu só não tive contato com muitos livros na vida mas tenho alguns de poemas." disse ela, mas em todo segundo a menina se interessou enquanto eu falava sobre os meus favoritos então isso é só um detalhe.
Como que pode uma relação ser capaz de começar em qualquer lugar? Por exemplo, nós duas criando laços em um ônibus com as ondas do cabelo dela invadindo a minha praia. Nem sei como vou ser capaz de me concentrar o resto do dia, se bem que eu não sei como vai ser o final do dia de hoje, Vitória comentou que iria comigo até o teatro mas e depois? Vou ter que descobrir sozinha, já que acabamos de chegar no terminal e ela me puxa enquanto pula para fora do ônibus.
Ela é doida.
- Cara, você é maluca! Correr e pular de ônibus é seu lance? - Tento falar assim que boto meus pés no chão, sinto meu coração a mil.- Esse não é o "meu lance" - Responde Vitória, exibindo o seu sarcasmo nas duas últimas palavras - Meu lance é viver e se divertir! Tu é alérgica a diversão por um acaso?
- Sou alérgica a morrer.
- Enquanto a sua mãozinha estiver agarrada na minha, nada pode te acontecer! - Isso com certeza foi uma desculpa pra ela agarrar a minha mão e me puxar pra andar para fora do terminal - Agora onde fica o teatro, tu pode me guiar agora senhorita Cê.
Nunca pensei que só uma sílaba do meu nome ficaria tão bom de ouvir vindo de alguém, ou melhor, vindo de uma garota, que me faz rir e nem ligar se estamos na rua de mãos dadas. Todo mundo sabe que comentários homofóbicos sempre estão presentes, então ser uma garota lésbica é carregar todos esses tipos de preocupações, mesmo que você esteja de mãos dadas com uma amiga. Mas Vitória não parece se preocupar com nada disso, ela anda com poder, como se só existisse nós duas e mais ninguém. Eu nem sei a sexualidade dela, mas um palpite?
Com certeza não é hétero.- Tá, agora me conta tua história.
- Minha história? - Vitória me surpreendeu com essa pergunta repentina.
- Sim, já soube dos teus gostos mas não sei da tua história.
- Bom, o que você quer saber?
- Sobre você. - Ninguém fala sobre o poder que uma pessoa tem sob você, até sentir esse poder. Com Vitória eu sinto isso, é como se fosse um arrepio na nuca que me faz travar no tempo mas ao mesmo tempo, me faz ter vontade de sentar no chão e contar todos os meus segredos até os mais obscuros.
- Ok, humm meu nome é Cecília, eu tenho 17 anos quase entrando pra 18, faço aniversário em Março, vinte e quatro especificamente.
- Não Cecília, eu não tô pedindo uma bio de Tinder Hahahahaha.
- Mas eu tô te falando sobre mim!
- Eu não quero saber sobre você apartir da sua certidão de nascimento, eu quero saber sobre você sendo você.
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Ondas na Linha de Ônibus
RomanceCecília vive em preparação para os seus 18 anos por mais que não tenha ideia do que pretende ser, se pretende continuar com o teatro ou fazer qualquer outra coisa que lhe dê dinheiro. Ela vive todos os dias no piloto automático, pegando ônibus e enc...