Telefone on
Amor, eu vou só me despedir dos
meus pais e já vou. Ok?
Tá bom, gatinha.
Mas tem certeza de que você quer fazer isso? Não precisa se não quiser.
Não, eu preciso e quero fazer isso,
eu não posso mais ficar aqui. Isso nunca foi um lar, só um lugar onde eu dormia.
Eu sei, meu bem. Mas isso vai ser um grande passo pra você, só tenho medo de se arrepender no futuro.
Eu não vou, posso te garantir isso
Tá bom então, tenha cuidado na viagem.
Amo-te.
Amo-te ainda mais ❤
Chegou a hora, a hora de confrontar meus pais e sair de casa.
- Mãe, pai. Vocês sempre cuidaram de mim, mas chegou a hora, eu vou sair de casa.
- E vai morar aonde? Debaixo da ponte? Você não tem dinheiro nem pra comprar um Gulão, pelo amor de Deus.
- Mãe, isso não é verdade. Eu trabalho desde os meus 15 juntando dinheiro pra sair de casa.
- É, 300 reais no mês por um menor aprendiz que te usava mais do que tudo.
- O importante é que eu consegui o dinheiro e vou sair. Pai? Não tem nada a acrescentar? - pergunto com um certo medo já que ele estava calado até agora.
- Vou falar o que? Você vai voltar depois de duas semanas e eu vou ter que te aceitar, então, mude, não se mude. No final não vai fazer diferença mesmo, você vai voltar de qualquer jeito. Olha a sua irmã, beirando 30 anos e ainda mora debaixo do meu teto e nunca trouxe um namorado pra finalmente tirar ela de casa. Com você não vai ser diferente. - suas palavras me atingem com lâminas extremamente afiadas, não importa o quanto minha mãe grite e brigue comigo, sempre vou permanecer intacta mas quando é meu próprio pai, sei lá, mesmo se for só um não machuca pra caralho.
- Tá bom, então. É isso, eu já vou. Adeus, vou só me despedir do cachorro. - Me viro indo até o portão onde meu cachorro estava cheirando minhas malas e me agacho em sua frente, a alegria dele enquanto esfregava sua cabeça na minha mão partia meu coração, eu estava prestes a ir embora pra sempre e pra levar ele eu só podia em uma caixa para transporte e ele é muito grande pra caber nas da minha cidade.
- Ei, garoto! A mamãe aqui vai precisar fazer uma viagem, tá? - dizia já com meus olhos lacrimejados, me parte o coração ter que deixa-lo aqui - Mas eu vou estar de volta em pouco tempo, pra você vai parecer que foi rapidinho - ele aproveitava meu carinho com a língua de fora até que percebe uma lágrima que escorreu e lambe ela do meu rosto - Ai, você é tão precioso pra mim, meu amor. - fecho meus olhos e encosto a cabeça dele na minha como sempre faço pra me despedir dele - Tchau, meu garoto. Eu te amo. - dou um beijo na "bochecha" dele e pego minhas coisas pra ir embora. Quando encosto o portão no batente vejo minha mãe na porta.
- Se você voltar pra cá, eu não abro esse portão. Não quero te ver nem pintada de ouro! - Ela entra em casa de novo, olho pro meu cachorro deitado no chão me olhando com uma carinha de que caiu da mudança. Parecia que ele tinha percebido que eu iria embora e ficou triste. Não posso fazer isso. Entro casa, vou no meu quarto pegar uma mochila velha e passo pela cozinha onde meus pais estavam tomando café e vou na parte do armário onde tinham as coisas do cachorro.
