XIV

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Johnson aproximou-se a analisou a distância e altura entre os prédios e concordou com a mulher. Verificou a própria arma e depois sua munição restante. Samantha fez o mesmo, ambos se encararam com a expressão desapontada de quem sabe que mal tinham munição para um novo confronto. Afastando-se da beirada o sujeito correu e pegou embalo e saltou para o prédio vizinho. A jovem fez um sinal de positivo para ele com o polegar e o seguiu da mesma forma. Aparentemente tinham razão sobre o alto dos prédios. Não haviam zumbis.

Os policiais repetiram o procedimento em mais de uma dúzia de prédios. Em alguns deles, o seguinte era mais alto e eles saltavam para a escadaria de incêndio ou na direção de alguma janela do mesmo, escalando como podiam depois. Se essa forma de se mover era mais segura, ao menos era possível afirmar que era extremamente cansativa. Por fim, após quase quarenta minutos de corrida sobre prédios e saltos ao estilo tartarugas ninjas, os dois pararam na borda de um prédio de dois andares. Suas visões, no entanto, eram para o imóvel em frente, o grande prédio de dez andares da prefeitura. Assim como os demais locais, a frente do mesmo estava envolta em caos, haviam carros batidos por toda parte, cadáveres largados pelo chão em alguns pontos, provavelmente vítimas que ainda não haviam se transformado e alguns pequenos focos de incêndio. Haviam vários corpos mutilados e entre eles diversos policiais. Armas eram vistas em alguns lugares e os dois se perguntaram se teria munição em algumas delas.

Mesmo sabendo dos riscos, ambos desceram pela escadaria de incêndio ao lado do prédio em que se encontravam e seguiram para o destino. Antes que conseguissem chegar as portas do local, no entanto, suas atenções se voltaram para as sirenes de um carro de polícia que descia pela rua em grande velocidade. Ironicamente, para piorar a situação, depois de tudo que ambos haviam passado para chegar até ali, o maldito carro viera diretamente para cima deles na calçada onde estavam. Johnson empurrou Samantha que foi lançada alguns metros, caindo no asfalto sujo, ralando o braço e o ombro. Parece que as coisas só melhoram – pensou ela, enquanto se esforçava para levantar. O policial, por outro lado, mal tivera tempo de sair da frente do carro desgovernado. Havia sido atingido em cheio pela lateral do veículo e estava caído de costas perto da porta de uma loja em ruínas, toda depredada.

Quando Samantha ouviu o barulho de tiros levantou-se rapidamente, fora como se dentro dela um botão se ativasse. Johnson estava ainda deitado, mas com a arma em punhos e atirando em vários zumbis que vinham de uma das esquinas poucos metros longe. O que ele não via era que do outro lado, pela outra esquina, outra dezena de zumbis se aproximava, provavelmente atraídos pelo som dos disparos. Correndo para onde o amigo se encontrava a mulher passou a atirar nos monstros que vinham da outra extremidade. Era mais do que óbvio que ficariam sem munição e à mercê das criaturas antes que derrubassem metade do que viam.

Aproximando-se do companheiro Samantha ajudou-o a levantar, parecia que o mesmo havia quebrado o pé ou o tornozelo, mas aos gemidos ainda se apoiava em uma das pernas. Ambos precisavam sair dali, descer do prédio os deixara expostos novamente e agora o que lhes restava de munição tinha ido por água abaixo. No exato momento em que o amigo se levantara em pé a mulher fora surpreendida pela ação que sucedera.

Cuidado! – gritara ele. Nem houvera tempo para qualquer reação, tudo ocorrera em poucos segundos. Ao ouvir as palavras do outro policial a mulher percebera um zumbi em suas costas, poucos centímetros atrás de seu pescoço. Aquela sensação horrível de ter o hálito pútrido da criatura quase em sua pele lhe fez embrulhar o estômago. Johnson quase a abraçou, passando a mão direto pela lateral de sua cabeça e segurando o monstro pelo pescoço. No alvoroço que se sucedeu Samantha lutou contra o abraço da criatura que tentava agarrá-la e afastando-se pouco, empunhou a arma e atirou, o que se não fosse o último disparo, provavelmente deveria ser o penúltimo.

A criatura caiu com parte da cabeça faltando e a mulher estendeu o braço para o amigo que se segurou nela, apoiando-se em seu ombro. Os dois saíram a passos largos, uma vez que o sujeito não conseguiria correr. Aos poucos a rua se infestava com as criaturas que surgiam das sombras. Samantha seguia em direção às portas duplas da entrada da prefeitura, a poeira e a fumaça intensas no ar inundando seus pulmões, dificultando sua respiração e ofuscando sua visão. Quando estavam já perto da entrada o som de um disparo zuniu pelo ar. Em seguida outro. E outro, e outro. A policial olhou para trás assustada, os disparos não eram de pistola ou qualquer arma pequena, era com certeza um rifle de precisão extremamente calibrado. Para a surpresa da mulher os zumbis estavam aos poucos caindo, um a um.

—Entrem logo! – berrou alguém que Samantha não conseguia ver onde estava – Se não estão infectados é bom não ficarem aí fora, entrem se quiserem viver!

Não foi preciso pedir duas vezes. A porta estava destrancada e assim que a jovem adentrou levando o amigo nos ombros percebeu que tudo estava deserto. O salão de entrada da prefeitura não tinha ninguém, mas haviam sinais de que outras pessoas tinham passado por ali. Sofás, cadeiras e escrivaninhas estavam deitadas em posições estratégicas como barricadas e havia sangue por toda parte. Com certeza um grupo bem armado já estivera ali e usara a entrada para se proteger, fazendo do local sua própria trincheira improvisada. Samantha chutou um sofá de dois lugares e deixou o amigo deitado no mesmo. Então saíra a procura de armas ou munição deixadas para trás no caso de que as pessoas que haviam passado por ali terem tivessem uma fuga às pressas, mas infelizmente não achara nada. Cansada, voltara para junto do amigo, cuja expressão era a de alguém que não aguentava mais aquela situação. Sentando-se ao lado do rapaz, a policial suspirou.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora