XV

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—Alguém nos ajudou – disse ela – tinha alguém atirando nos zumbis enquanto entramos. Acredito que haja outros sobreviventes dessa merda toda, devem estar escondidos em cima, nos andares superiores. Não vi de onde vinham os tiros que derrubavam os zumbis para nos dar cobertura, então suspeito que estavam atirando de alguma janela no alto.

—Vamos subir então? – respondeu o outro, usando uma pergunta – Pelo que vi lá fora, não vai ser fácil encontrar um carro funcionando. Sabe, não quero ser pessimista, mas acho que a cidade está condenada, se os outros bairros estiverem como o centro, está tudo perdido.

—Acho que não temos escolha. Nossa munição se foi e não achei nada por aqui. Sair não está nos melhores planos, como já vimos. Acho que não temos escolha a não ser irmos procurar por outros que tenham escapado. Mesmo assim eu me pergunto se nos andares superiores não terão outras daquelas criaturas, todo cuidado é pouco...

Samantha começara a ponderar sobre tudo que acontecera e se lembrara de seu pai e seu irmão. Em meio ao caos que se transformara aquela noite, a jovem esquecera-se de que talvez os dois ainda estivessem em casa. A terrível possibilidade de que tivessem se tornado mais daquelas coisas quais ela mesma já havia matado tantos naquela noite por um momento lhe assombrara a mente e seus olhos se encheram de lágrimas. Mas o que ela poderia fazer àquela altura dos acontecimentos? A casa onde morava era muito longe do local onde estava e nem mesmo um veículo para fugirem dali os mesmos haviam encontrado. Como poderia se perdoar por fugir e deixá-los para trás, quando, em sua mente, lhe ocorrera que os dois provavelmente deveriam estar lhe procurando? E o que fazer com Johnson, que fora em seu auxílio e se ferira enquanto lhe ajudava? E Johnny, teria ele sobrevivido depois do acidente após separarem-se na floresta? Aos poucos o ar começou a desaparecer, a deixá-la sozinha naquele mundo que ficava cada vez menor, mais apertado, mais sufocante. De repente, Samantha se sentiu pequena, uma menininha fraca e indefesa e o pior, incapaz de proteger os outros. Era como se pudesse ouvir todos aqueles zumbis ao seu redor gritando "Você falhou, Samantha!".

Um estrondo com o impacto de um terremoto fez Samantha pular no sofá onde estava sentada. Outro estrondo. Parecia mesmo um terremoto. Outro e outro e a mulher levantou-se com os olhos arregalados. O que poderia estar fazendo o chão tremer daquela forma? Não apenas o chão, mas as paredes, as janelas, tudo. Johnson parecia não sentir o que estava acontecendo, não se movia. Os olhos do sujeito estavam fechados e ele não expressava nada. Teria morrido – pensou Samantha. Não. Sem pensar a policial agarrou-se ao amigo procurando levantá-lo. Passou um dos braços do mesmo por seu pescoço e com esforço ergueu o homem que era maior e mais pesado que ela. Os estrondos continuavam e uma parede onde estavam ostentados os quadros com os doze prefeitos que já haviam governado aquela cidade começou a trincar-se, os quadros caindo ao chão. Ao mesmo tempo Samantha se equilibrava procurando levantar-se do sofá com o amigo nos braços.

—Eu sabia que estavam aqui! – gritou um soldado que surgira correndo por uma escadaria que levava ao primeiro andar. O mesmo aproximou-se de Samantha e olhou para o companheiro da mesma, seus olhos se arregalaram no mesmo instante – Tome cuidado, ele foi mordido! Tem que se afastar dele!

Os olhos da jovem e os olhos de Johnson se encararam pela última vez. Por uma fração de segundos ela foi capaz de ver a mordida. Uma mordida no antebraço, próximo da mão que ele usara para afastar o morto-vivo que a atacara há apenas alguns minutos. O problema agora era que nesse momento Johnson não estava mais ali, não o sujeito que Samantha conhecera. O que ela tinha em seus braços era um monstro que tomara o lugar do companheiro. A mulher viu a boca do ser se abrir tanto quanto jamais imaginara e lançar-se carregada de saliva e sangue na direção de seu pescoço. Quem diria que o mesmo sujeito que a salvara de situação semelhante apenas alguns momentos atrás agora a atacava da mesma forma? Outro estrondo derrubara a mulher de joelhos com o zumbi agarrado ao seu pescoço. Parecia o fim.

A bota do soldado passou próxima da cabeça da policial com a mesma velocidade de um tiro. O zumbi que a segurava voou pelo ar e caiu de volta no mesmo sofá que ela havia virado para ambos descansarem. O soldado passou pela mulher que se levantava e sacou a pistola do coldre na cintura. Quando o mesmo ia já puxar o gatilho Samantha colocou uma das mãos sobre o cano. O mesmo virou-se para o lado para poder encará-la e viu as lágrimas escorrendo por sua face. Samantha olhava com pena para o amigo transformado.

—Eu termino isso – disse ela e apontou sua própria arma para o sujeito que se levantava no sofá. Por aquele breve segundo que parecia demorar uma eternidade em seus pensamentos, Samantha podia jurar que por trás dos olhos vazios e sem alma da criatura, o policial Johnson a observava – Me perdoe, John e obrigado por tudo – concluiu enquanto puxava o gatinho da Beretta que trazia. Era o último tiro que lhe restava, o tiro que levara Johnson desse mundo.

—Me siga. Os outros estão reunidos na parte dos fundos do estacionamento desse prédio, precisamos sair daqui. Esse local já está comprometido.

—Quem são vocês? – indagou a mulher – Nunca o vi por aqui antes e não temos grupos militares privados na cidade, como chegaram até aqui, quem os chamou e o que fazem?

O sujeito segurou a metralhadora que carregava com mais força. Olhou para o lado, como se alguém mais estivesse ali com eles e por fim encarou-a de volta.

—Que importa? Quer viver? Venha comigo, ou pode ficar aqui e morrer, salvar sua vida não é minha prioridade e nem parte da minha missão.

Samantha engoliu em seco o palavrão e os desaforos que se formaram em sua garganta. Ela estava sem armamento, sem munição e sozinha. Por hora, não havia nada que pudesse fazer senão concordar com o que o sujeito diante de si dizia. Seus lábios já se moviam para dizer que aceitaria a ajuda quando a parede atrás de si explodiu lançando estilhaços de concreto por toda parte. O impacto fez Samantha ser lançada de encontro ao soldado que caiu de costas no chão com ela sobre ele. Enquanto o sujeito olhava por sobre o ombro da mulher a mesma virou a face para trás, suas bochechas quase se colando.

Em meio à poeira e pedaços de pedra e metal da parede algo podia ser visto do lado de fora do prédio. A silhueta de um homem que parecia ter mais de três metros de altura.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora