Júpiter

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Em Júpiter...

Monólogo N.° 1

Hoje deparei-me com a vastidão do universo, a magnitude dos planetas, a complexidade das galáxias, a imensidão de tudo que existe e está sendo criado.

Quando saio do macro para o micro, ainda sim, os sistemas corpóreos, as bactérias, os vírus, as células eucariontes, procariontes, universos inteiros dentro de nossos corpos; somos bilhões de seres humanos, incontáveis quantidades de vida, espécies conhecidas e desconhecidas, um número inimaginável de existência.

Olhando para tudo que me cerca e tudo que me compõe, como não considerar a efêmera existência, que sou, pequena? Apenas mais um ser humano entre tantos, um conjunto de células, matérias funcionais, movendo-se sobre uma enorme esfera, sendo iluminada por uma imensa bola de fogo.

Existo por mim? Por meu planeta? Pelas pessoas ao meu redor? Qual o significado de minha vida, qual o sentido?

Olho para a complexidade que é viver e sigo a questionar, as perguntas navegando pelos mares turbulentos de minha mente.

Procuro meu lugar dentro de meu ambiente, vago a metrópoles, observo as paisagens, os prédios, a diversidade humana, em meio a tantos... onde me encaixo?

Em um sistema tão complicado qual é meu lugar?

Compartilho meus pensamentos não para lhe causar reconhecimento, na verdade busco encontrar respostas na linhas deste texto; a questão é se minha mente é capaz, em seu pouco conhecimento, de dar respostas para minhas dúvidas universais, entender do macroscópico ao microscópico, do universo a sociedade em que vivo?

Monólogo N.° 2

É difícil descrever o quão perdida posso estar, quão deslocada e até indignada me encontro com tamanha incapacidade para continuar.

Diante de meu olhar o mundo avança, o tempo não para ou espera, não há respeito com seu medo de avançar; é seguir em frente ou estagnar, permanecer no mesmo lugar, vendo tudo caminhar conforme seu rumo, enquanto você perde o controle de seu leme, seu futuro.

Talvez a vida seja como um navio, não um grande, como o universo, quem de nós seria capaz de segurar o leme de tamanha embarcação?

Seria capaz de ter em suas mãos o destino de toda a criatura viva e inanimada, controlar para qual direção o espaço irá se expandir, dominar os buracos negros, as supernovas?

Não, meu amigo, caro escritor, mal somos capazes de permanecer no controle de nossas próprias vidas.

Somos mais como pequenos barcos à vela, velejando pelos mares, ora revoltos, ora pacíficos, navegando pela longevidade de nossa vida.

Entretanto, fomos deixados a "ver navios", sem bússola, mapa, ou noção de como guiar uma nau. Enquanto crescemos não nos é dado um guia, o salvador de vidas chamado manual, pelo contrário, apenas é dado a ordem:

"Viva! Exista! Faça a diferença dentro de sua geração!
Siga seus sonhos e acredite em si."

Monólogo N.° 3

É nesses momentos de autocontemplação, olhando não só para dentro de mim, como também para tudo que está ao meu redor, sonhando com os anéis de Saturno, às tempestades de Júpiter, que inicio meu questionário.

Como ser diferente, um destaque, entre oito bilhões de vidas?

Por acaso eu deveria ter sonhos, desejos tão fortes e cravados dentro de mim que dedicaria todas as minhas forças a isso? E se deveria… por que não os tenho?

Diariamente encontro jovens sonhadores, que dedicam suas vidas para alcançar um objetivo tão importante e desejado que parece predestinado, uma verdadeira "obra do destino", o lugar certo e criado para aquela pessoa estar.

Todavia, esse é o lugar onde nunca me encontrei, a ambição que nunca vivenciei.

Sou como uma peça extra em um quebra cabeça, observo que todos encaixam-se em seu devido lugar, encontram seu ambiente, grudam-se em seus pares, ao mesmo tempo que eu sigo a observar, desejar, mas jamais realizar.

Sustento apenas uma turva ideia do que um dia posso alcançar, vislumbres do que poderia ser meu sonho, conceitos abstratos, absorvidos das realidades que me foram apresentadas, sem realmente saber qual é meu lugar.

Monólogo N.° 4

No tempo em que discorro este texto sonhei com Júpiter, suas luas, as nuvens densas, as tempestades incessantes, a gravidade pesada, uma força da natureza que age prendendo tudo contra o solo firme do planeta gigante.

Quando admiro as formas deste astro celestial, me perco nas profundezas do pensar, mergulho profundamente dentro de meu âmago, desviando do borbulhar das dúvidas, fugindo do que anseia em aprisionar meu eu lírico, aquele dentro de mim que se  acha cantor, compositor e escritor, que expõe seu lado artístico através de sua arte favorita: A palavra.

Prosa N.° 1

Ao jovem e perdido escritor, inexperiente no amor, mesmo que suas palavras românticas a muitos encante, perspicaz no aprender, perdido no explicar, amante do ouvir e pouco disposto no falar.

Ah, meu amado e nobre escritor, me é doloroso te encontrar perdido nestas dúvidas sem par, sei que perdeu-se tentando encontrar respostas que nem a mais brilhante das mentes foi capaz de formular.

Eu sei e entendo, querido escritor, que sua capacidade de imaginar, de sonhar dependem da liberdade de minha alma, mas, tal como o espírito, ela se vê triste e abandonada.

Abandono que não partiu daqueles que a amam, que leem seus escritos, e ouvem seus cantos, mas desta que lhe escreve, que sem saber seu lugar, o destino que lhe foi planejado, é incapaz de acreditar.

Prosa N.° 2

Olha para mim.

Eu, uma jovem perdida, presa em seus conflitos, sorrindo calma para os que a cercam, mantendo sua vasta desordem e medo presos dentro de seu peito.
Nem você, meu amado, é capaz de expressar, com suas hábeis palavras, o que aqui dentro se passa.

O que diremos pois?

Que tal como nosso majestoso e favorecido planeta, estamos vivendo sob pesadas nuvens, tempestades sem fim, seu ciclone vermelho de 300 anos, que com seus ventos velozes abalam minha incoerente mente.

Como descrever?

Como expressar essa sensação maçante que sinto?

É fácil direcionar nosso pensar para o poder gravitacional dos planetas, a Terra, o único lugar propício para se viver, tem sua gravidade medida em 9,8 m/s²; agora Júpiter, que para mim representa a enfermidade da mente perturbada, tem a pressão constante de 24,79 m/s².

Há uma analogia melhor, para explicar? Ou esta se quer é uma explicação aceitável?

Prosa N.°3

Devo ser sincera, e dirigir palavras honestas para ti, prezado escritor.

Para todas as perguntas que nos cercam, os medos que nos afligem e as inseguranças que transbordam até nos afogar, encontrei apenas uma resposta.

Nas incontáveis analogias e expressões, nos vocábulos, verbos, substantivos e adjetivos, apenas um conjunto de meras e simples duas palavras conseguem decifrar o que tenho sentido; neste conjunto encontrei como única e inevitável resposta… um simples, efêmero e direto:

— Não sei.

...Me perdi

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⏰ Última atualização: Jan 06, 2023 ⏰

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