Ano Sabático

29 - Recomeço

Claire

Jamie se deitou na cama junto comigo e me aconcheguei em seus braços, apoiando a cabeça no peito dele, enquanto ele acariciava meus cabelos e me segurava firme. A felicidade que eu sentia era indescritível. Antes de saber que nosso bebê estava vivo, eu tinha ficado muito feliz por ter encontrado Jamie assim que saí do avião, eu não tinha ideia de que ele estaria aqui me esperando, nem que ele estava no Brasil, mas a preocupação pelo bebê me tirou um pouco da euforia que foi reencontrá-lo. Sentia tristeza e culpa, e tive medo da reação de Jamie. Agora tudo parecia se encaixar. Até mesmo o grande mal-estar que vinha sentindo há dias deu uma trégua. Sem nem perceber acabei dormindo, meu corpo precisava se recuperar.

Acordei com Jamie conversando com alguém, mas ainda me segurando firmemente. Abri os olhos e vi o médico parado ao lado da minha cama. Jamie beijou minha testa e se levantou. Por sorte o médico era fluente em inglês e pudemos nos comunicar sem ter que usar nosso português muito incipiente.

- Doutor, eu gostaria de saber tudo sobre o estado de Claire, por favor. Eu não sabia da gravidez, e agora estou ainda mais preocupado por ela estar assim tão debilitada. O senhor pode garantir que está tudo bem?

- Sim, James, está tudo bem. Claire vai precisar ficar uns dias aqui conosco para continuar recebendo os nutrientes e medicamentos que ela precisa para se recuperar. Nós temos 2 situações para observar. A primeira é que, com o impacto que Claire sofreu, ela teve um descolamento significativo da placenta, o que causou hemorragia. Felizmente Claire fez repouso durante dias e acabou conseguindo reverter a situação. Ainda não está totalmente fora de perigo, preciso alertar vocês, mas acredito que o pior já passou. Vamos precisar de mais repouso e observar a evolução do quadro. Com relação ao quadro de desnutrição em que ela se encontra, o que provavelmente aconteceu foi que, além do grande stress por conta de toda a situação do acidente, ela parece ter desenvolvido um quadro conhecido como hiperêmese gravídica. Esse quadro afeta algumas gestantes, fazendo com que elas tenham muitas náuseas e um quadro de vômito insistente, o que acaba impedindo que se alimentem e ingiram líquidos suficientes, provocando essa situação de desnutrição e desidratação. E nesse caso ainda somamos a perda de sangue, que evoluiu para um quadro de anemia leve.

Jamie ouvia o médico com toda a atenção, tentando processar tudo que ele dizia, o rosto demonstrando toda a preocupação com meu estado de saúde.

- E o que precisamos fazer para que ela fique boa? O que ela pode comer? Quanto tempo ela vai precisar ficar aqui no hospital?

- Bem, ela já está medicada e reagindo bem. Você vomitou desde que chegou aqui, Claire? Conseguiu comer alguma coisa?

- Não vomitei, mas ainda estou um pouco enjoada. Consegui comer um pouco.

- Vamos precisar estabilizar esse quadro antes que você possa ter alta. Você vai precisar de uma alimentação hipercalórica e vamos ver o que acontece nos próximos dias.

- Doutor, assim que estiver mais estável eu gostaria de ficar de repouso em casa. Eu penso que estando medicada e controlando os enjoos vou conseguir me alimentar bem e estarei muito mais tranquila se estiver fora do hospital.

- Não recomendo, por enquanto, que você faça alguma viagem, vocês teriam que ficar na cidade por mais algum tempo. Você está em algum hotel, James?

- Estou em um apartamento alugado, seria tranquilo Claire ir ficar comigo, doutor. Desde que seja seguro.

Combinamos que eu ficaria no hospital pelo menos mais cerca de 4 dias e caso os medicamentos fizessem efeito e eu parasse de vomitar ele me daria alta, com a condição que permanecêssemos pelo menos mais alguns dias na cidade até que a situação se estabilizasse. Por enquanto eu precisaria ficar em repouso quase absoluto, podendo me levantar apenas para ir ao banheiro e tomar banho. O fato de o sangramento ter parado era um excelente sinal.