ESCOLHA MAIS BEM FEITA

282 17 2
                                    

  Uma vez você me perguntou o motivo pelo qual, dentre 7 bilhões de pessoas residentes dessa esfera extraordinária que chamamos de lar, eu escolhi justo você

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Uma vez você me perguntou o motivo pelo qual, dentre 7 bilhões de pessoas residentes dessa esfera extraordinária que chamamos de lar, eu escolhi justo você.

Eram exatamente 04:00 da manhã quando descemos de um jato branco, sendo acompanhados de perto por seu segurança, Clay, e o meu, Félix. Você usava roupas que mais pareciam pijamas, tênis brancos - ou que pelo menos tinham sido brancos em algum vago momento – um boné azul marinho que prendia seus cachos absolutamente adoráveis por baixo do tecido escuro da peça e uma mochila pequena nas costas, contendo um exemplar de Uma canção de natal recém guardado, - você justificou dizendo que queria me entender por completo e que ler as obras do meu autor favorito era um dos passos - seus fones e os óculos escuros que sempre me faziam pensar em como você se pareceria se fosse um rockstar.

    No silêncio pacifista da calada da madrugada, nós caminhamos até o carro, os dois absortos em qualquer coisa que o mundo tivesse a dizer, e enquanto você tinha o braço direito envolto na parte de trás do meu pescoço e a cintura rodeada pelo meu braço, nós aproveitamos a calmaria que o silêncio nos trouxe. Essa é uma das coisas que eu amo em você: sua habilidade de entrar dentro do meu silêncio o torná-lo melhor, só por estar lá. Poucas pessoas na minha vida souberam lidar com os meus silêncios, mas você é a exceção.

   Nós nos despedimos de Félix e Clay antes de entramos no carro e, mesmo com menos de 4 horas de sono, você abriu o sorriso mais lindo do mundo pra mim. Você olhou pra mim com sua cara de sono que valia milhões de dólares e seus esculturais olhos verdes e sorriu. Como se eu tivesse acabado derrubar a porra do império. Como se eu tive acabado de impedir uma uva gigante de dar um estalo. Como se eu fosse a melhor coisa que já tinha acontecido com você.

    Quando eu observei seus lábios se abrirem para dizer algo, eu soube exatamente o que você diria.

  Aquela foi a madrugada em que você disse "eu te amo" pra mim pela primeira vez. Depois de semanas intensas de gravações para o novo filme ao redor da Indonésia, inúmeras noites em que você adormeceu com a cabeça apoiada na minha barriga enquanto eu fazia carinho nos seus cachos negros, todas as vezes em que deitávamos lado a lado ao pôr do sol e liamos um livro e os pequenos momentos em que o mundo parava, só pra que você me beijasse; eu tinha duas certezas: 1) eu amava a Indonésia e 2) eu amava você.

   Eu achava lindo a confiança que você tinha na sua paixão pela atuação. Aliás, eu acho lindo. Mas eu ficava absolutamente fascinada quando você perguntava o motivo por eu ter escolhido você. Eu não intendia se era insegurança ou se era apenas uma pergunta retórica que, naturalmente, não precisava de resposta. Mas minha cabeça é um poço de pensamentos desorganizados e elétricos, que se recusam a parar pra respirar, então eu nunca conseguia não formular uma resposta pra você. Porque eu sinto que você merece todas as respostas. E você sempre terá as minhas.

   Então se algum dia no futuro você se questionar se eu te amo – e tudo sobre você -, leia isso e me comprometo a te lembrar até o fim dessas palavras escritas às 1 da madrugada.

   Dentre todas as pessoas do mundo, você é o único que compreende minha obsessão pelo meu trabalho.  Sabe as noites em que você deita a cabeça na minha barriga, vestindo uma das minhas camisetas de super-herói, e me conta sobre um de seus personagens? Eu as amo. Amo como você fala profunda e apaixonadamente sobre cada personagem e como você me ouve falar dos meus personagens com a maior atenção do mundo. Amo como esse é o nosso segredo. Deitados na cama, juntos, somos nós contra o mundo.

   Amo quando você xinga em francês, se esquecendo por alguns segundos que eu entendo o que você fala, e depois de cair a ficha, você ri. Eu desistiria de cada centavo se isso significaria que eu poderia te fazer sorrir pra mim todo dia.

   Amo quando nós discutimos sobre algum livro que nós dois lemos ou um que só um de nós leu. Eu sou a escritora, mas a forma que você descreve as coisas, quando lê pra mim um trecho de algum livro, com voz suave e delicada, me faz querer morar nas suas palavras.

   Amo como você trata a sua família. A forma como você sorri para a sua mãe ou o como você conta sobre seus novos filmes para o seu pai, melhor ainda: quando você abraça sua irmã, tentando mostrar o quanto a ama por meio daquilo. Porque tudo em você transborda amor.

   Amo como você insistiu para ler todos os meus livros favoritos e me comprou todos os seus favoritos, para que eu pudesse fazer o mesmo. Você disse que queria me entender, como se eu fosse um grande mistério e sua única missão era me desvendar.

   Amo seus olhos verdes esmeraldas e seus cachos escuros apaixonantes. Sabe todas aquelas pessoas que fazem comentários maldosos sobre sua aparência? Parece surreal pra mim como alguém pode olhar pra você e não se apaixonar, mas eu nunca fui boa em compreender a humanidade. Eu sempre digo a você que as palavras dos outros deixaram de me afetar desde a minha adolescência – obrigada pai e mãe por me treinarem pra isso -, mas esse tipo de gente ainda consegue me afetar, porque se algo deixa você inseguro e te faz acreditar que você não é bom o suficiente, isso me enfurece. O mundo não te merece. Você é bom demais.

   Amo seu gosto musical e sua aptidão para cantar comigo as músicas da minha cantora favorita. Enquanto a deslumbrante voz de Taylor Swift extravasa do som do carro, você balança a cabeça acompanhando a batida da música e canta alto e da forma mais escandalosa possível as letras, os nossos cabelos esvoaçantes ao vento e nossos óculos escuros complementando a sensação do passeio pela rústica cidade francesa que nós dois adoramos.

   Amo seu hábito de deixar post-its por todo o meu apartamento – seja o de Londres ou o de Paris -, porque depois que você terminou de ler Teto para dois, achou que era uma ideia genial. Quando nossos horários não batiam devido às agendas lotadas, você deixa milhares de recados escritos grudados por aí. "Acredita que aquele republicano estava fazendo discurso hoje cedo?", "comprei jornal impresso pra você", "o que acha de passarmos o fim de semana em Paris?", "eu te amo". Amo tudo que você escreve e tudo o que você tem a me dizer.

    Amo o café que você faz e a forma como você escolhe nossas canecas preferidas, na prateleira da cozinha do seu apartamento em Nova York, e as enche com a dose perfeita de cafeína pra que nós tenhamos coragem pra permanecer acordados até o fim do dia.

   Amo suas roupas, mas amo ainda mais quando você veste as minhas. Depois do banho, você caminha em direção ao meu closet e escolhe uma das minhas roupas – porque você disse que o dia se torna menos cansativo quando sente meu cheiro – e, quando eu percebo o que você fez, você dá um daqueles sorrisos travessos, como uma criança escondendo a bagunça dos pais.

Amo até o que eu, na verdade, odeio sobre você: a forma como você não consegue não dizer nada durante um filme, como você puxa o cobertor, deixa coisas espalhadas, faz café quente demais e é péssimo em guardar segredos.

Amo tudo o que te torna você, até as partes que eu queria não amar, e por isso você vai sempre ser minha escolha mais bem feita.





STARKDIARY, 2023.

LOVER - Timothée ChalametOnde histórias criam vida. Descubra agora