Sleepwalker

português

É um sonho habitual: a pele macia e quente ao toque de minhas mãos... a voz rouca sussurra algo que não consigo entender, o gemido abafado me faz querer mais... me faz querer que seja verdade, em vez de apenas mais um sonho.

Tom e eu somos amigos. Do tipo que fala sobre tudo e qualquer coisa: sobre trabalho, sobre qualquer idiotice e, até recentemente, eu tinha a mania de me intrometer oferecendo conselhos para sua vida amorosa. Nós temos um tipo de conexão que faz parecer que nos conhecemos desde a maternidade.

Eu já tive esse tipo de sonho com ele antes: um grupo de amigos rindo, conversando sobre os velhos tempos e quão diferente terminou sendo os sonhos daquela época e a realidade de agora. Eu não percebi que já estava bêbada. Desde esse dia este tipo de sonho parece ter-se tornado mais vívido.

Havia apenas escuridão. E a escuridão era quente e confortável. Eu estava flutuando, como se estivesse de pé no ar ou debaixo d'água. Não havia abaixo nem acima. Então, eu ouço sua voz me chamando e de repente ele está em toda parte, como se preenchesse a escuridão e tomasse seu lugar. E a maneira como ele chama meu nome me faz sentir quente por dentro.

O mais maravilhoso aroma de café preto me acordou no dia seguinte. Já era final da manhã e ele estava na sala de estar e, sim, apenas então compreendi que ele havia carregado meu corpo bêbado para o seu apartamento. Talvez o único motivo pelo qual eu não tenha morrido de vergonha naquele momento tenha sido a ressaca que fazia minha cabeça latejar.

"Oi", rosnei.

"Oh, você já está acordada...!", ele disse enquanto cruzava a sala até a cozinha.

Voltou trazendo uma xícara de café preto que era realmente sedutora. Tom me entregou aquela xícara fumegante e, por um microssegundo, eu esqueci da dor de cabeça horrível. Café era meu amigo, definitivamente. Foi apenas um instante, mas tive a impressão de que Tom evitava me olhar nos olhos... óbvio, também podia apenas a ressaca impressionante gritando absurdos na minha cabeça, então resolvi deixar por isso mesmo.

E então havia Aggie. Da minha altura, cabelos como se fossem uma cascata descendo por suas costas. Seu cabelo ondulado era pintado num tom escuro de loiro que realmente combinava com ela. Então, quando soube que Tom começou a namorar Aggie, eu fiquei feliz. Ela era bonita e inteligente, um sorriso brilhante, trabalhadora e qualquer um podia ver o quanto ela estava apaixonada. Eu estava feliz por eles.

Mas, apesar de estar feliz, a notícia seguinte me surpreendeu: apenas três meses depois de se conhecerem, eles estavam indo morar juntos. Será que eu havia perdido alguma coisa?! Apesar de que, se você pensar, fazia um pouco de sentido: eles estavam apaixonados e ele estava se mudando para outra cidade por causa do trabalho. Seria um pouco estranho se eles não se mudassem juntos... talvez muito estranho? Seria algo como eles se mudassem para a mesma cidade, mas a diferentes apartamentos, certo? E não poderia ser mais estranho do que isso.

Demorou uns seis meses para eu receber um e-mail... com uma nota de ressentimento. Era uma mensagem, na verdade:

"Então, você não vem me visitar? Nunca??"

Bem, o fato das minhas férias começarem na semana seguinte funcionava muito bem e, uma vez que esta era a idéia original, respondi: "Que tal na próxima semana? Vocês vão me pegar no aeroporto? Ah, e você arruinou a surpresa, por sinal".

Assim, uma semana mais tarde, logo que desembarquei, percebi que ele estava com uma gripe horrível - acho que todo o aeroporto também percebeu - e só ficou pior. É muito raro Tom ficar doente e, talvez por isso mesmo, quando isso acontece, ele simplesmente se recusa a parar e descansar.

Claro que percebi que Aggie não estava no aeroporto. Percebi também que Tom não disse uma palavra sobre ela. E que não havia fotos dela quando chegamos ao apartamento. Eu vi as caixas perto da porta também. Não, eu não perguntei nada. Se ele não me contou é por que não havia necessidade de eu saber e eu tinha certeza de que, uma vez que ele estivesse pronto, ele contaria tudo.