prólogo

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Os cabelos ruivos cacheados caiam como cascatas atrás de suas costas. Kiara Carter era uma menina admirável de se ver. Todos de sua escola concordavam que Kiara era a irmã mais amorosa, enquanto sua irmã gêmea era chamada de aberração. Kira sempre revirava os olhos e não ligava para o que diziam dela, às vezes, ela tinha vontade de bater de frente, querer saber por que a consideravam uma aberração... Por causa de seu jeito de andar? Por causa das roupas folgadas que sempre preferia usar? Ou por causa de seu cabelo ruivo sempre usado em um coque bagunçado?

Kira pensava, mas depois de um tempo, acabava desistindo.

Kiara sempre a dizia uma coisa: Kira era incrível demais para aquelas pessoas. Ninguém merecia o jeito amoroso de Kira. Só Kiara. Apenas Kiara.

Kiara estava andando para chegar em casa, praticamente correndo, seus pés derrapavam pela rua molhada de Berlim. A chuva da tarde havia deixado as ruas alagadas. Kiara desviava de poças de água enquanto corria para casa, querendo contar à sua irmã gêmea que ela tinha acabado de dar sua primeira vez para o garoto em quem ela estava interessada: Jordan. Kira sempre a escutou falando do menino. A verdade é que Kiara fez de tudo para fazer parte do círculo popular de sua escola, e quando conseguiu, agarrou com força tudo o que eles ofereciam: amizades falsas, namoros falsos, tudo falso, como se fosse questão de status. Kira tentou avisar, mas Kiara parecia tão maravilhada com tudo o que estava acontecendo ao seu redor, que ela se deixou levar.

Quando parou em frente a sua casa, uma casa espaçosa, com um gramado e cerca branca na frente, ela sorriu orgulhosa, subindo os quatro degraus antes de passar como um foguete pela porta.

Seus pais não estavam em casa, não era uma coisa ruim, Kiara pensou. Ela precisava desse momento a sós para pular e gritar enquanto contava tudo para sua irmã.

— Kira? — Kiara gritou enquanto subia as escadas com corrimão branco, sua calça jeans estava molhada por causa da chuva e seus cabelos ruivos que eram cacheados, diferente dos de sua irmã, que eram lisos escorridos, estavam molhados também. Ela mal se importou, gostava da chuva. Era como uma velha amiga.

A porta de seu quarto estava fechada, e quando abriu, Kira não estava lá. O quarto com paredes rosas, e almofadas rosas — que era a cor favorita de Kira — estava bagunçado, a cama que Kira sempre arrumava de manhã estava remexida. Kiara franziu o cenho, então observou a porta do banheiro fechada. Abriu um sorriso arteiro, andando lentamente até a porta. Em sua cabeça, ela pensava no susto que daria em sua irmã. Embora, quando abriu a porta, não foi isso que ela viu.

As roupas de Kira eram as mesmas, uma saia jeans com uma meia-calça por baixo, em sua camiseta tinha escrito alguma frase feminista, entretanto, o sorriso de Kiara se desfez quando ficou parada no meio do banheiro. Esfregou seus olhos, achando que aquilo poderia ser um pesadelo, mas não. Sua irmã, sua irmã mais nova por dois minutos estava caída no chão, seus olhos observavam o teto, não havia o brilho que Kiara sempre via.

— Kira? — Ela andou lentamente até o corpo da irmã, como se Kira estivesse dormindo no chão do banheiro. Kiara ignorou a poça de sangue que havia ali e se ajoelhou do lado de sua irmã, como se acordasse de um sonho profundo, os olhos verdes-oliva se preencheram com lágrimas, pegando o celular, ela olhou para suas mãos novamente, vendo todo o sangue que estava nela, o sangue de sua irmã.

Kiara colocou o celular na orelha, ela falava, falava e falava, mas a verdade era que ela nem sabia o que estava acontecendo, ela esperava que sua irmã levantasse e começasse a rir, limparia o sangue que seria corante e Kiara bateria nela por quase matá-la de susto.

Porém, a ambulância chegou, os policiais chegaram, seus pais chegaram... Por que Kira não levanta? Ela pensava.

— Sinto muito pela sua perda. — O oficial falou para o seu pai.

— Papai? O que aconteceu? Por que Kira não levanta? Ela falou que ia fazer uma pegadinha de Halloween, mas agora não tem mais graça, papai. — Seu pai não sabia o que falar, ele observava sua filha, sua filha que era tão parecida com a sua outra filha morta... E então, seus braços se abriram, pegando Kiara em um abraço apertado.

A nota final foi que Kira Carter havia se suicidado no dia doze de janeiro.

Muitos se perguntaram por que uma garota tão jovem e tão cheia de vida, acabou com sua vida num piscar de olhos.

Se os pais fossem um pouco mais atentos, se a irmã mais velha fosse um pouco mais atenta... Talvez eles teriam sido capazes de salvar sua vida.

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