🐬29. GOLFINHO🐬

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No dia em que li Lieblingsmensch pela primeira vez, eu me peguei imaginando em como ia conversar com Noriaki sobre seus sentimentos por mim. Lembro-me de ter cochilado e sonhado com algum final feliz para a história de Tenmei, já que não sabia como a de Noriaki ia terminar.

Eu agora espero que Noriaki tenha seu final feliz, e não apenas quebrado — como ele sempre se sente por minha causa.

O clima na aula é muito tenso para mim. Passei as horas antes da apresentação de olho em Noriaki, e como sempre, ele fingiu o tempo inteiro que eu não existia. Desviou o olhar do meu diversas vezes, e não me deu sequer um bom dia.

Foi assim desde o dia anterior, com ele me ignorando e sequer respondendo às minhas perguntas. Eu decidi não insistir e nem me aproximar, mesmo que mamãe tenha dito que eu desse a ele um pouco de espaço, eu não consigo ficar longe do Noriaki por tanto tempo.

A roda de conversa está cheia, faz mais de uma hora que escutamos resenhas e mais resenhas, algumas de livros nos quais nunca ouvi falar em toda a vida e que provavelmente jamais irei ler. Olho para o lado e vejo alguns alunos bocejando, outros dormindo e outros vendo atualizações nas redes sociais.

Escolhi ser o último a me apresentar por um motivo: quero quebrar as expectativas de todos. Geralmente nos últimos trabalhos a serem apresentados, toda a turma já está cansada e estressada, querendo apenas ir para casa. A forma como decidi encarar tudo isso vai surpreender a todos e me surpreender também. Holly como sempre tem as melhores ideias.

É a vez de Noriaki apresentar. Ele fala com delicadeza e paixão sobre o livro que escolheu: "Orgulho e Preconceito". Não consigo desgrudar meu olhar dele e sinto que estou desviando sua concentração. Abaixo a cabeça, puxando para baixo a aba do boné, ele não precisa saber que eu ainda estou quebrado por sua causa.

Tudo em Noriaki me fascina. Seu olhar, sorriso, e todas as coisas que já citei antes. O corpo despido no qual sempre me recuso a espiar e falho miseravelmente, sua pele alva como leite e os músculos levemente salientes, apesar de ter um corpo diferente do meu. O pescoço digno de receber marcas e mais marcas provocadas por lábios, onde crio esperança que um dia possam ser pelos meus.

— Elizabeth Bennet então se apaixona perdidamente por Mr. Darcy, mesmo com a orgulhosa, arrogante e insuportável personalidade máscula dele. — me conecto ao livro citado por Nori, mas logo minha concentração vai por água abaixo quando mais uma vez admiro seus detalhes puros e sutis. Os lábios rosados e brilhantes, o tradicional uniforme e o perfume de cereja arrastado pela brisa que entra pela janela.

Não estou ansioso, estou preparado. Preparado para as duas situações que me aguardam. Duas situações onde certamente uma será a escolhida: ou a negação ou a aceitação. Sei como vou reagir às duas, embora a negação vá me machucar um pouco mais e arruinar de vez tudo entre nós.

Não me concentro na resenha impecável do Cerejinha. É cruel e egoísta eu pensar apenas na minha apresentação, mas quero que tudo saia perfeito. Passei meus últimos dias imaginando como eu vou apresentar e com medo de tudo dar errado. Volto a me concentrar ao notar leves indiretas para minha pessoa na resenha de Noriaki, mas não me deixo abalar por isso.

— Mr. Darcy é um personagem ignorante e que deveria ter passado o resto da vida sozinho pra deixar de ser tão mentiroso e insuportável. — Cerejinha fala com desprezo acerca do par romântico do personagem do livro escolhido, e as palavras que o descrevem são as mesmas que se encaixam em mim e em meus milhares de erros.

Na visão dele, claro. Bem, sou o culpado por ter brincado com seu coração por tanto tempo. Só que, ele também teve culpa por interpretar errado um reels feito sem minha autorização. Ao menos no dia anterior consegui fazer com que Pierre apagasse aquela droga de vídeo, embora o estrago já tivesse sido feito. Além do Cerejinha estar bravo, o vídeo bateu 10 mil views e agora toda a escola achava que eu e Marina estávamos juntos, mesmo com a cruel rejeição que ela levou de mim no sábado.

Lieblingsmensch | (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora