Uma música bonita e calma estava tocando ao fundo, enquanto pessoas entravam e saíam pela portinha de vidro toda enfeitada de luzes, alguns adesivos e o grande nome da cafeteria. Algumas pessoas achariam estranho tomar café e uma fatia de bolo bem delicioso ao encontro da noite, com a lua tomando o lugar do sol e as estrelas retomando seu papel de enfeitar tudo como pequenos glitters. Afinal, tinha mesmo cara de café da manhã. Mas quem liga? O lugar está com um movimento bacana, então muitas pessoas pensam como eu.
Quem eu quero enganar? Estou tentando me distrair a todo custo, minha perna não para de balançar debaixo da mesa e eu não paro de morder meus lábios, tanto que devem estar quase em carne viva. Vários casais de jovens estão aqui, comendo, rindo, compartilhando de suas comidas e tudo isso faz meu estômago revirar, sinto uma náusea e me questiono se todas as vezes eu ficarei assim.
Qual o pior? Ter chegado primeiro e esperar até morrer, ou chegar por último e morrer quando ela viesse falar comigo?
- Ellie! Meu deus, cheguei muito atrasada? - Ela caminha até minha cadeira e deixa um beijinho na minha bochecha, logo depois indo para sua cadeira. E foi como se nada mais importasse, nada realmente interessante que valesse minha atenção além dela. No mesmo instante minha agonia se esvaiu, dando lugar a um misto de sensações, um calorzinho no peito e um largo sorriso de minha parte.
- Não, cheguei faz pouco tempo - Mentira, mas eu não ia dizer nada. - Você... você tá tão linda! É sério, você tá muito linda. - Ela estava mesmo, sendo bem modéstia. Seu vestido era em tom de lilás e tinha mangas bufantes e quase transparentes, fazendo par com sua bolsinha de mão de mesma cor.
- Eu me arrumei toda pra ti, bela. Quis te impressionar, consegui? - Ela sorriu lindamente, como se fosse uma grande pintura; retratada de forma mais delicada, com sutileza, marcas fortes e uma presença incondicional. Sim, ela conseguiu me impressionar como ninguém antes.
Minhas palavras foram engolidas como se o gato tivesse cortado minha língua, me fazendo corar diante de si e Lis gargalhar, se divertindo às custas do meu constrangimento. Fui salva pelo rapaz que trabalhava no lugar, querendo saber nossos pedidos e dando uma prévia dos mais pedidos da casa, falando, inclusive, seu favorito. Ele era adorável e simpático, parecia ter uns vinte e cinco anos, uma pele bronzeada belíssima e seus cachinhos eram bem definidos; me lembrava um colega da minha antiga cidade. Demorei para escolher mas ele foi paciente conosco, olhei o cardápio disposto em cima da mesa e resolvi pedir um mocha e um pedaço de torta de limão para quebrar um pouco do doce do café.
Assim que ele foi embora, anotando, certamente, nossos pedidos em uma caderneta, Lis perguntou:
- Ellie, você já esteve em algum namoro? - Ela perguntou enquanto passeava os dedos nos bordados do pano da mesa.
- Nunca namorei alguém. Nem mesmo a ideia passou pela minha cabeça, sabe? - Ela fez um biquinho, erguendo a cabeça para me olhar. Droga. - Mas... eu... agora estou disposta a ter um relacionamento com quem eu queira.
- Eu também nunca namorei com ninguém.
- O quê? - Acho que falei alto demais e algumas pessoas olharam para nós, me fazendo tapar a boca e cochichar para Lis que aquilo era culpa dela. - Achei que eu fosse a única que nunca tinha beijado e nem nada...
- Calma lá - Ela passou a língua pelos lábios tingidos de um vermelho vibrante, me fazendo engolir em seco pela cena. Eles pareciam deliciosos e eu gostaria de beijá-la. - Eu nunca namorei, mas já beijei algumas vezes.
- Ah...
- Não precisa ficar constrangida, isso não é o fim do mundo, hum? - Ela passou a mão nos cabelos, colocando-os atrás da orelha, igualzinho ao dia da praça.
- É verdade, não é mesmo. Mas... mas... eu queria saber como é beijar. Como é beijar?
- Isso, gracinha, você vai descobrir quando o fizer - Como é? Sério? - Não faz essa carinha... Quando chegar a hora, eu irei lhe ensinar.
Ela disse que vai me ensinar, e isso não é a mesma coisa que contar, isso significa... Meu Deus!
Nossos pedidos chegaram e eu tomei um bom gole de café. Era delicioso, assim como eu imaginei que seria: era uma combinação de café, chocolate, leite e chantilly, então era quase um pecado se não garantisse seu papel. Lis fez o mesmo com seu café expresso e continuou me encarando daquela forma tão intimidante, tão firme que eu poderia amolecer rapidinho. Em algum momento retornamos a conversa e ela já estava em outro rumo: sobre nossa vida escolar, sobre alguns livros e também sobre os possíveis crush que já tivemos quando mais nova.
Eu estava envergonhada - pra variar -, focada em comer meu pedaço de torta como se minha vida dependesse disso. Se fosse por minha conta, nosso encontro seria um fiasco, puxar assunto não era mesmo o meu forte. Mas ela fez de tudo pra não deixar o assunto morrer e, depois de um tempinho, eu estava sorrindo feito boba, contando coisas que ela gostaria de saber e deixando aquele papo constrangedor de namoro para uma outra hora.
Ela era encantadora, e estava com a mão na boca depois de ter lhe contado que nunca, nunquinha mesmo, eu tive um animalzinho de estimação. Fez uma cara abismada e disse:
- Você não gosta de animais, senhorita? Porque se for isso mesmo... desculpe, não podemos continuar nos falando. - Comentou enquanto colocava a mão no peito e fazia uma carinha triste; uma atriz digna do Oscar.
- Eu amo animais! Quem não curte a ideia é minha mãe, sabe? Ela diz que não serve para cuidar de outra vida. E que eu sirvo muito menos.
- Que malvada! Sem ofensas. - Nós voltamos a beber nossos cafés e eu arrisquei levar uma colherada dos restos mortais da torta em sua boca. Ela arregalou os olhos de leve, se surpreendendo, provavelmente, por eu estar dando a iniciativa pela primeira vez. Logo abriu a boca e eu sorri por parecer aquelas ceninhas de filmes clichês, onde aparecem várias cenas do casal fazendo coisas juntos e, inclusive, dando comida na boca um do outro.
Lis não disse nada, mas me admirou. Me admirou tanto que pareciamos dentro de um cantinho separado do universo, um cantinho só nosso e que todas aquelas pessoas ali eram figurantes da nossa história, contratados, especialmente, para que tudo ocorresse como o planejado.
Eu não poderia explicar nem se tentasse o quão ela me deixa leve, segura e totalmente bem comigo mesma. Eu poderia passar horas conversando com ela e nunca diria que estou exausta, porque até seu jeitinho de contar histórias me faz querer abraçá-la e pedir seu carinho por uma noite inteira. Seu toque era terrivelmente bom; sua mania de passar as mechas do cabelo a todo momento atrás da orelha também era muito bom; sua mão rechonchuda segurando a minha sobre a mesa era perfeitamente bom.
Sua mão era macia, quentinha e aconchegante. Levei um susto quando ela pegou minha mão, mas agora gostaria de segurá-la até o final da noite. Ela esfregava o dedão fazendo um leve carinho, me fazendo arrepiar até onde eu não sabia que era possível e uma corrente elétrica correr por todo meu corpo, trazendo uma vontade enorme de sair dali e ir para um local mais reservado.
- Onde iremos depois daqui? Você disse que estava preparando uma surpresa?
- Sim, estava. Iremos acampar no quintal da minha casa, com direito a cabaninha, música, algumas besteiras pra comer - não esqueci das balas de goma -, alguns livros e uma noite inteirinha para eu ficar agarradinha com você. - Arregalei os olhos. Nem tínhamos nada e ela queria me levar na casa dela? Eu vou conhecer os pais dela? Acho que não estou preparada. - Amor, calma... estaremos sozinhas. Eu moro só com meu pai, mas hoje ele vai ficar de plantão no serviço e deixou a casa para nós. Eu conversei com ele e disse que levaria alguém, não se preocupe.
- Eu... - Comecei a rir de nervoso. Meus Deus, eu só posso estar sonhando. - Eu nunca fiz isso na vida! Eu quero muito passar a noite inteira contigo, mas antes tenho que passar em casa e conversar com a minha mãe.
- Claro! Assim que terminarmos de comer, eu te levo até lá.
Eu quero morrer.
Notas do autor:
Então, o que será que vai rolar tanto nessa surpresa da Lis? O que estão achando das meninas? Espero que tenham tido uma boa leitura e uma boa experiência com o capítulo de hoje, o próximo sairá em breve. Cuidem-se e beijinhos 💕✨
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Balinhas de Goma & aqueles fodidos brincos!
Romance[concluída] |+16| [gl] Qual probabilidade Ellie tinha para encontrar um brinco no formato de seu doce favorito e, ainda no mesmo dia, encontrar a dona do seu achado? Definitivamente era um emanado de forças do universo para que pudesse se perder em...