| E D A |Seguro firme a mão da menina enquanto descemos as escadas da varanda. Já faz uma semana desde que pisei nelas pela primeira vez e hoje os primeiros sinais da neve começam a surgir no céu. Logo, não poderia perder esse momento ficando dentro de casa. Não quando sou uma grande fã a distância desse evento climático incrível.
Poxa, isso é arrepiante.
É claro que ela ainda não chegou aqui, mas vai chegar.
Kiraz para no último degrau e me encara. — O que foi? Alto demais para suas perninhas curtinhas?
A questiono com um sorriso, é impossível não sorrir ao olhar para essa menina. Sua cabecinha balança e o penteado incrível que fiz na cabeça dela – com tranças e prendedores – se agita também.Estou muito orgulhosa do meu trabalho nos fios escuros dela, depois de muito lutar com um prendedor finalmente o dominei. Mas a arte de pentear cabelos deve mesmo ser algo complicado por aqui.
— Então por que parou?
Seus pezinhos batem contra a madeira, a menina solta minha mão e cruza os braços junto ao corpo.
— Ah, é isso… seu pai não vai se importar de termos saído, afinal é a primeira neve! Não poderíamos perder isso.
Ela deixa os ombros caírem e encara o céu límpido acima de nós. É como se quisesse me dizer que estou louca por achar que irá nevar.
Mas, se tem algo que sinto é que a primeira neve está a caminho, e tenho um desejo profundo de encontrá-la.Primeiras neves são como primeiros bebê, sempre imprevisíveis e difíceis de acompanhar. Estive um tempo no DAF – DEPARTAMENTO DE ANJOS FERTILIZADORES -, um tempo bem curto, na verdade. Achei que seria legal aprender sobre como as almas são enviadas, mas não foi tão bom assim. Quero dizer, a parte de acompanhar a pequena alma de volta para a vida é mágico, o nascimento também, mas depois parece tudo muito difícil.
Sem o conhecimento que se obtém sobre o universo, sempre me pergunto como poderão lidar com as adversidades da vida humana, alguns enfrentam problemas dolorosos logo de cara e sequer podem se defender. Já imaginou ser abandonado no seu primeiro dia de vida terrena?Acontece mais do que poderia imaginar ou admitir.
Mas ainda gosto de observar os bebês, sempre gostei. Pequenos anjinhos sem asas. Como eu, só que com mais sorte, acredito.
A menina se senta no degrau desanimada. Me aproximo dela e abaixo na sua frente. Suas pupilas dilatam e sua respiração passa a acelerar enquanto aproximo meu rosto do dela, Kiraz se inclina ligeiramente para trás.
— Dizem que podemos fazer um pedido ao primeiro floco de neve quando ele toca nossa pele.
Sussurro, a menina ganhando meu interesse. — Não importa o que queira, desde que venha do fundo do seu coração… — toco em seu peito e sua respiração para — irá se realizar.— Q-qual-q-uer c-oi-sa?
Questiona-me fazendo um sorriso crescer no meu rosto. — Isso, qualquer coisa. Você só precisa querer muito.
Me estico novamente dando espaço para que ela passe, Kiraz salta para o gramado.
— Quer me contar o que é?
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Um anjo chamado Natal
FanfictionÁs vezes nosso coração se parte em tantos pequenos pedaços que reconstrui-lo se torna cansativo ao ponto que o melhor pode ser deixar para lá. Isolar-se e deixar que o mundo gire sem que você participe dele. Mas, por mais doloroso que pareça resist...