Era impressionante o que um ato bobo de duas crianças apaixonadas poderia causar.
Aos dez anos de idade, Damien jurou ser marido do seu melhor e único amigo de infância apenas por causa de uma descrição nada real de um casal. Mesmo sendo fofo, não durou nem mesmo uma semana, porque as outras pessoas falaram na sua cara que não passava de um namorinho passageiro.
Elas estavam de fato certas na primeira parte, mas na segunda, não poderiam errar mais. Ambos agora estavam com quase vinte e quatro anos e o relacionamento continuava de pé, com eles tão apaixonados quanto da primeira vez. E mesmo depois de todo esse tempo, nenhum dos dois pretendia acabar com isso. Na verdade, planejavam mesmo era como seria seu futuro.
Como seria sua casa? Eles continuariam em South Park? Como será ter um filho? E se adotassem um cachorro? Quem convidariam para o casamento, se conseguissem estar juntos até lá?
Sim, com certeza já pensaram nisso, e não só uma vez. Pip era uma pessoa de certo modo emocionada e gostava de se imaginar em uma situação dessas, afinal de conta, sempre achou esse tipo de coisa maravilhosa. Ter uma cerimônia, comida gostosa, dançar, lançar o buquê... era tanta coisa, mas ainda sim fazia questão de planejar cada coisinha; sempre falava sobre isso com os olhos brilhando.
Essa empolgação era perfeita para Damien, teve todas as informações do que seu namorado sempre quis na palma da mão, mas é claro que não seria tão fácil. Ele não só tinha uma memória terrível, mas também tinham mais coisas do que só a cerimônia. A coisa principal, que vai levar até ela: o pedido.
Como seria o pedido de casamento perfeito?
Querer se casar é fácil, o complicado seria executar esse ato crucial da maneira mais bonita e memorável possível.
No mesmo dia em que decidiu que realmente o faria, passou horas do seu dia planejando isso. Aproveitou que seu namorado não estaria em casa e fez várias anotações com suas ideias e coisas que viu na internet, comparando e vendo qual seria mais adequada. No início era divertido imaginar a cena, mas assim que o tempo foi passando, a ansiedade começou a crescer mais e mais. Planos que antes pareciam perfeitos agora considerava um lixo, lugares que planejava levá-lo agora pareciam sem graça e até mesmo um discurso ele decidiu escrever. Sem nenhuma surpresa, ficou uma merda. Palavras nunca foram o seu forte, e não conseguiria aprender a bolar alguma coisa digna de prêmio num piscar de olhos.
Uma, duas, três horas se passaram e até agora nada permanente. Damien sequer sabia mais onde algumas anotações estavam, e chegou num ponto que nem certeza desse pedido tinha mais. Será que eles ainda eram muito novos? E se não conseguir satisfazer os desejos de uma cerimônia incrível? Era tanta coisa que sua mente ficou sobrecarregada; decidiu descansar.
Amassou boa parte dos papéis que tinham desenhos ou textos e queimou com suas próprias mãos, porque depois de tanto esforço tinha preguiça até mesmo de se levantar e jogar as coisas no lixo.
— Caralho, cara...
Murmurou, extremamente exausto e até mesmo irritado, seja com ele mesmo ou com essa maldita tradição humana que exigia tanto.
Mesmo com todo esse estresse acumulado, ainda não desistiria, tudo que precisava era de um cochilo. Assim que acordasse e tivesse suas energias de volta, levantaria a bunda daquele sofá e voltaria ao trabalho. Mas por enquanto, tudo que queria era descansar a mente.
Para o seu azar, nem mesmo isso teve.
Assim que se deitou já com a cara na almofada, conseguiu ouvir uma pequena cratera surgindo no chão, do qual vinha acompanhada de gritos de puro sofrimento e chamas. Um ser muito maior que o normal sai dali ofegante, fechando aquele mesmo portal logo sem seguida.
Damien deu um suspiro e se sentou, coçando o próprio rosto.
— Oi, pai.
— Oi, Damien! Ai, você me desculpa por entrar assim? É que faz tanto tempo que não vejo vocês!
O mais novo deu uma risada curta e baixa, o que já foi o suficiente para revelar seu mal estado. Lucifer sentou ao seu lado e botou a mão em seu ombro, com uma expressão preocupada.
— O que aconteceu? E cadê o Pip?
— O Pip foi naquele clube do livro da cidade.
— E...?
O garoto ficou um pouco envergonhado e nervoso, cobrindo parte de sua boca e evitando contato visual para tentar diminuir a sensação.
— Tô tentando fazer um... negócio, e tá dando errado, só isso.
Claramente escondeu o que fazia muito mal, então para que seu pai parasse com aquele olhar, decidiu contar de uma vez.
— Tá, tá! Eu... eu tô querendo pedir o Pip em casamento.
Não aconteceu nada assim que contou, o que o deixou meio confuso e com suspeitas. Assim que ia se virar para perguntar se não gostou da ideia ou se ouviu direito, sentiu um abraço bem apertado. Apertado até demais.
— FINALMENTE TOMOU CORAGEM, TÔ TÃO ORGULHOSO DE VOCÊ!
— P-Perdão?
Finalmente conseguindo se soltar de seus braços, deu algumas tossidas e olhou seus próprios ombros pra ter certeza que nenhum osso havia quebrado.
— Desculpa, mas tava MUITO óbvio que vocês iam se casar, eu só tava esperando.
Mesmo com essa notícia, o menino não parecia tão contente quanto; não chegava nem perto de estar.
— Mas por que essa cara? Não quer se casar com ele?
— Eu quero, mas... porra, e se o pedido não for bom? Eu já tentei no mínimo umas oitenta ideias diferentes, e quando eu vou ver elas de novo elas parecem... uma merda!
Chutou uma bolinha de papel que sobrou no chão durante a última sentença, só deixando sua frustração mais explícita.
— Ah, mas ele deve te conhecer o suficiente pra saber que não é bom pra essas coisas.
— Ele conhece, mas mesmo assim! O Pip sempre fala de casamento e os caralho a quatro super feliz, tem que ser no mínimo ótimo!
— Hm... já tentou pedir ajuda pra outras pessoas?
Aquela pergunta fez sua mente se expandir. É claro: ajuda! Opinião alheia! Ficou tão focado e se acostumou tanto em fazer boa parte das coisas sozinho que esqueceu que tinha essa opção.
— Caralho, é tão óbvio!
Seu entusiasmo repentino alegrou Satan, fazendo com que escapasse um sorriso. Achava hilário que isso sequer passou pela sua cabeça? Com certeza, mas é melhor deixar do jeito que está.
— ...e eu sei as pessoas perfeitas pra isso!
— Você sabe?
— Sei!
E num piscar de olhos, já havia sumido da casa; apenas por alguns segundos, porque logo em seguida, voltou para poder devolver o abraço.
— Valeu, pai.
E então se foi mais uma vez, agora com certeza.
— Eles crescem tão rápido...
E então, a operação Damien's Proposal começou.
Apesar de não conhecer sequer metade das pessoas daquele lugar e muito menos outras ao redor do mundo, já tinha em mente as pessoas perfeitas para chamar. Todas tinham as habilidades em que precisava de uma mãozinha, então estava bem confiante.
Esse pedido vai ser perfeito.

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Um casamento de verdade (DIP)
FanfictionA muitos anos atrás, Damien acreditou ter se casado com seu melhor amigo Pip. Infelizmente, não passou de uma besteira de criança; acabou em um namorinho. Anos se passaram e o namoro dos garotos continuou intacto e forte, Tão forte, que ele queria a...